São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

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SUCESSÃO
"Eu perguntei se a minha candidatura servia ao país. Todos foram unânimes em dizer que sim", afirma
Ciro começa a buscar apoio de empresários

da Sucursal de Brasília


O pré-candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, começou sua investida junto ao empresariado. Almoçou recentemente com Antonio Ermírio de Moraes (Votorantim) e, na quarta-feira passada, com um grupo de empresários em São Paulo.
"Eu perguntei se a minha candidatura servia ao país. Todos foram unânimes em dizer que sim, para ajudar no debate nacional", disse Ciro num jantar com jornalistas em Brasília, quinta-feira.
Ele não revelou nomes, mas a Folha apurou que estavam no almoço, na sede do Banco Garantia, Jorge Paulo Lemann (Garantia), Eugênio Staub (Gradiente), Paulo Cunha (Ultra) e um irmão de Benjamin Steinbruch (CSN/Vale do Rio Doce) que é do setor têxtil.
Também participaram Max Feffer (Suzano), Cosette Alves (ex-Mappin) e o publicitário Eduardo Fischer (Fischer, Justus).
"Os empresários acharam que iam abrir o bolso, tirar o talão de cheque e me dar uns R$ 50 mil para ficarem livres de mim. Mas eu não queria dinheiro. Queria discutir idéias", relatou Ciro. "Acho que eles gostaram da conversa."
Também participou o professor Mangabeira Unger, guru da candidatura Ciro, que praticamente não se manifestou. O almoço foi acompanhado apenas de água mineral e guaraná da Brahma, empresa do Grupo Garantia.
Fricção
Ciro marcou para maio o início da radicalização da campanha. Será o que classifica de "fase de fricção" e terá como alvo preferencial o presidente Fernando Henrique Cardoso. "Vou bater duro contra o modelo e o estilo caótico de governar do Fernando Henrique, mas sem ataques pessoais, sem baixarias", disse Ciro no jantar.
Sua expectativa é chegar a maio com 14% nas pesquisas. Hoje, tem em torno de 9%.
Segundo ele, as pesquisas indicam que haverá segundo turno, pois FHC só tem 35% agora e sua popularidade costuma cair em maio, por causa do sempre pequeno reajuste do salário mínimo.
O principal desafio de Ciro é desbancar Luiz Inácio Lula da Silva (provável candidato do PT) do segundo lugar das pesquisas. Mas, para isso, seu alvo tem de ser FHC.
"Se eu crescer à custa da queda do Lula, não adianta nada. Tenho de tirar voto é do Fernando", disse. "Lula não é um adversário, é um obstáculo", acrescentou.
Ciro chamou o presidente várias vezes de "professor Cardoso", repetindo uma ironia do ex-presidente Jânio Quadros contra FHC, seu adversário na campanha à prefeitura de São Paulo em 85. "Ele (FHC) odeia isso", disse, rindo.
Ciro também tenta driblar a falta de espaço nas redes nacionais de TV, ocupando outros segmentos: jornais regionais e TVs locais.
"Quando apareço numa cidade do interior, viro uma grande atração. Ganho primeira página e espaço nos telejornais", disse.
Um dos principais trunfos de Ciro Gomes na campanha é a televisão, mas ele só terá quatro minutos diários e a propaganda eleitoral foi restrita a "apenas 21 dias".
Ele rejeita sistematicamente comparações com o ex-presidente Fernando Collor: "Os 26% de eleitores que me conhecem sabem que não sou corrupto. Mas e o resto, o que vai achar?"
Convencido de que o ex-presidente Itamar Franco (PMDB) não será candidato, ele diz que pretende conversar isoladamente com os peemedistas de oposição.
No caso do Ceará, a equação é curiosa: "Tasso Jereissati apóia FHC no plano nacional e eu o apóio no plano regional", disse Ciro, ex-governador do Estado.
O nível da campanha presidencial não poderá inviabilizar futuras negociações entre FHC e Ciro, o PSDB e o PPS. "Se ganharmos, vamos precisar de fortes canais com FHC e os tucanos. Se eles ganharem, vão ter uma interlocução à altura na esquerda", disse o senador Roberto Freire (PPS-PE), que acompanhava Ciro.
(ELIANE CANTANHÊDE, FERNANDO RODRIGUES e LYDIA MEDEIROS)


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