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RIO DE JANEIRO
Pedetista quer reforma do secretariado de Garotinho e questiona presença de ex-collorido
Brizola pede fim de influência religiosa
MAURÍCIO THUSWOHL
da Sucursal do Rio
O presidente nacional do PDT,
Leonel Brizola, pediu ontem ao
governador do Rio, Anthony Garotinho, que ponha fim à influência dos pastores protestantes no
governo estadual: "O governo
tem de ser mais discreto, está vivendo um protestantismo exagerado", disse.
Brizola citou especificamente a
Cehab (Companhia Estadual de
Habitação), que maneja um dos
maiores orçamentos do governo e
vem sendo alvo de denúncias de
irregularidades. Eduardo Cunha,
presidente da Cehab, é evangélico
e foi indicado pelo deputado
evangélico Francisco Silva (ex-PPB, atualmente no PST).
"Veja este problema, com tantas denúncias e reclamações, talvez seja a pior parte do governo",
disse o ex-governador.
Brizola informou que o PDT enviou ontem um abaixo-assinado
de seus militantes pedindo o afastamento de Eduardo Cunha, "devido à má-gestão e também aos
seus antecedentes".
No início dos anos 90, Cunha foi
presidente da Telerj, a companhia
telefônica estadual, por indicação
do então presidente Fernando
Collor de Mello, e participou da
campanha.
Brizola também manifestou
descontentamento com a atuação
do subsecretário do Gabinete Civil, pastor Everaldo Dias Ferreira.
O pastor, ligado politicamente à
vice-governadora Benedita da Silva (PT), também protestante, é o
responsável pela distribuição do
Cheque-Cidadania, que concede
mensalmente 30 mil cheques de
R$100 a famílias carentes. Os cheques são trocados por comida em
supermercados.
Pastores
"Qual a legitimidade de tantos
pastores no governo? Quem são
esses pastores da Benedita? Por
que esse pastor Everaldo tem o
controle sobre a distribuição dos
cheques? O cheque do pastor é dinheiro público", disse.
Leonel Brizola aconselhou o governador a realizar uma ampla reforma no secretariado. Se depender do ex-governador, os petistas,
que atualmente têm três secretários e cerca de 300 cargos de confiança, podem sair do governo
sem problemas. "Vivem posição
ambígua, se queixam de tudo, começam a fazer denúncias, mas
não deixam os cargos que ocupam. Ora, se o caminhão tá ruim,
é só pedir para desembarcar."
Outro lado
O governador Anthony Garotinho divulgou uma nota em que
rebate as declarações de Leonel
Brizola. Ele diz que em seu governo não há pastores ocupando cargos de secretário de Estado e pede
que o presidente nacional do PDT
respeite sua opção religiosa.
"Eu respeito que o Brizola seja
ateu e espero que ele respeite que
eu seja presbiteriano", diz Garotinho na nota.
"Nos últimos dias não tenho
conseguido ter sossego com tanta
calúnia, confusão e festival de vaidades", continua o governador,
pedindo que o deixem "trabalhar
em paz".
Garotinho descarta a sugestão
de Brizola de fazer uma reforma
completa de seu secretariado. Segundo ele, não há razão para isso,
"já que medidas contra a insubordinação isolada de alguns funcionários já foram tomadas".
Na última semana, o governador fluminense demitiu dois funcionários do primeiro escalão,
ambos do PT -Élvio Gaspar,
subsecretário de Planejamento, e
Sérgio Rosa, presidente do Proderj (Centro de Processamento de
Dados do Estado do Rio). Ambos
haviam denunciado ingerências
em seus órgãos de pessoas ligadas
a Garotinho.
Segurança
No dia 17 de março, o governador havia demitido o coordenador de Segurança e Cidadania,
Luiz Eduardo Soares, antropólogo sem filiação partidária e responsável pelos projetos de reforma da polícia.
Na nota, o governador não se
refere especificamente ao pedido
de Brizola de demissão do presidente da Cehab, Eduardo Cunha.
Também não menciona as críticas feitas ao pastor Everaldo Dias
Ferreira, subsecretário do Gabinete Civil.
Procurado desde o início da tarde de ontem pela Folha, o pastor
Everaldo não havia retornado a ligação até as 18h.
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