São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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Mattoso diz que denúncia é leviana

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, classificou ontem de "leviana" a denúncia contra dirigentes do banco por gestão temerária e fraudulenta, além de corrupção passiva, na renegociação de um contrato milionário com a multinacional GTech. A denúncia fora divulgada na véspera pelo procurador da República Marcelo Serra Azul.
"Qualquer pessoa que leia com atenção a denúncia, verá que ela foi feita com muita pressa e pouca seriedade", disse Mattoso. Até ontem à tarde, ele não havia recebido o documento oficialmente, mas já preparava uma defesa prévia à Justiça Federal, que decidirá nos próximos dias se aceita ou não a denúncia.
O procurador afirma na denúncia que a prorrogação do contrato contou com a interferência do então assessor parlamentar do Planalto Waldomiro Diniz, demitido a pedido em 13 de fevereiro, depois de aparecer em gravação de 2002 cobrando propina do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Waldomiro e Cachoeira também são denunciados por Serra Azul, assim como três outros dirigentes da Caixa, o ex-presidente da GTech no Brasil Antonio Carlos Lino da Rocha, o atual diretor de marketing da multinacional, Marcelo Rovai, e o empresário Rogério Buratti, ex-assessor de Antonio Palocci Filho em Ribeirão Preto (SP). A GTech não quis se manifestar sobre a denúncia.
Protocolada ontem, a denúncia será encaminhada hoje à 10ª Vara, responsável por processos de lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro.
Mattoso insiste em que a prorrogação do contrato com a GTech para o processamento de dados das lojas lotéricas "foi o melhor negócio" possível e não sofreu nenhuma interferência externa.
O procurador Marcelo Serra Azul afirma que a renovação do contrato com a GTech por até 25 meses implicou um prejuízo de R$ 40 milhões para a Caixa.
A denúncia sugere que o contrato, renovado em 8 de abril do ano passado, poderia ter sido interrompido ali. Mattoso sustenta que o banco estatal não tinha alternativa por estar impedido pela Justiça ainda hoje -quase um ano depois da renovação do contrato- de fazer as licitações para substituir os serviços da GTech.
Além disso, diferentemente do que afirma a denúncia, a Caixa só poderia assumir o processamento dos jogos em outubro.
O banco estatal já apresentou uma representação contra o procurador responsável pela denúncia. Na semana retrasada, Serra Azul teria apreendido, sem mandado judicial, os registros de visitantes da Caixa. Segundo Mattoso, entre os delegados, estaria o irmão do procurador Francisco Leite Serra Azul Neto, que cuida de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico na Polícia Federal.
"As atitudes do procurador não correspondem à tradição do Ministério Público. Mas não tenho como avaliar suas intenções. Não conheço suas preferências políticas, religiosas ou sexuais", disse o presidente da Caixa.
Procurado pela Folha, Serra Azul afirmou que achou muito estranhas as declarações de Mattoso. "Tudo que o Ministério Público tinha a dizer está nos autos."
Mattoso disse que mandou abrir uma sindicância interna para apurar o motivo da presença de Waldomiro nas dependências da Caixa em 25 de março de 2003, poucos dias antes da assinatura da prorrogação do contrato com a GTech. Três funcionários cujos nomes apareciam na agenda do ex-assessor negaram o encontro.


Colaborou ANDRÉA MICHAEL, da Sucursal de Brasília

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