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CRISE NO GOVERNO/ A VIOLAÇÃO DO SIGILO
Advogado afirma que ex-ministro está com alterações na pressão e que não pode falar hoje
Palocci diz não ter condições de saúde para depor à polícia
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Contratado pelo ex-ministro
Antonio Palocci na última quarta-feira, o advogado José Roberto
Leal informou ontem à Polícia Federal que seu cliente não irá se
apresentar para prestar depoimento hoje, conforme previsto,
devido a problemas de saúde.
Leal defende Palocci no inquérito no qual a PF busca os responsáveis pela violação ilegal do sigilo
bancário do caseiro Francenildo
dos Santos Costa, em operação
que aconteceu na sede da Caixa
Econômica Federal, em Brasília,
na noite de 16 de março.
Segundo Leal, Palocci está com
alterações de pressão arterial, decorrentes de estresse nervoso.
O ex-ministro foi intimado para
prestar depoimento na manhã da
quinta-feira, na residência oficial
do Ministério da Fazenda.
No momento da intimação, havia um médico e enfermeiros na
casa de Palocci, que se submetia a
um exame de sangue. À Folha
Leal disse que seu cliente não tinha condições de prestar depoimento na data marcada inicialmente: hoje, às 10h. "Com certeza
ele não irá. O [ex-]ministro não
tem condições. Quando foi à casa
dele ontem [anteontem], para intimá-lo, a própria polícia viu que
havia um médico colhendo sangue do [ex-]ministro."
Na tarde de ontem, Leal entrou
em contato com o delegado Rodrigo Carneiro Gomes. Informado pelo advogado sobre a impossibilidade de Palocci cumprir a intimação policial, Gomes cobrou-lhe uma justificativa formal, por
escrito, acompanhada de um
atestado médico. Até o fechamento desta edição, havia chegado à
PF somente um comunicado de
Leal afirmando que seu cliente
não compareceria ao depoimento
devido a recomendação médica
para permanecer em repouso.
Se o atestado médico não for encaminhado ao delegado até o horário marcado para depoimento,
Palocci será novamente intimado.
Seu comparecimento é obrigatório somente na terceira intimação, à qual, se ele não comparecer,
poderá ser conduzido com força
policial. Segundo a PF, Leal disse
que Palocci só se apresentaria para depor na próxima semana,
provavelmente quarta ou quinta.
Para Gomes, o depoimento de
Palocci é considerado "decisivo"
para chegar aos responsáveis pela
ordem de violar o sigilo. A PF
quer descobrir também quem repassou os dados à imprensa.
Apesar do depoimento do ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso, que disse ter entregue os extratos a Palocci, o ex-ministro refuta
qualquer participação na violação
do sigilo do caseiro.
Jantar
Mattoso esteve com Palocci, na
tarde do dia 16 de março, quando
houve a violação do sigilo, em
reunião no Palácio do Planalto.
Na noite daquele dia, em um
jantar no restaurante La Torreta,
em Brasília, ele recebeu, das mãos
do consultor da presidência Ricardo Schumann, os extratos.
Em seu depoimento à PF, Mattoso disse que, durante o jantar,
recebeu uma ligação de Palocci.
Depois, levou os documentos
pessoalmente ao ministro.
A PF pretende ouvir Mattoso
novamente. Em depoimento à PF,
Antonio Carlos Ferreira, chefe do
departamento jurídico da Caixa,
confirmou ter visto Mattoso receber um envelope durante o jantar
e também que o viu falando ao telefone. Nega, no entanto, ter qualquer participação na violação.
Gabriel Nogueira, assessor de
imprensa da Caixa que estava no
jantar, também foi convidado pela PF para depor.
Vazamento
Em depoimento à PF anteontem, um servidor do setor de controladoria da Caixa disse que foi
informado por Mattoso que os
dados bancários do caseiro seriam divulgados por uma revista.
O diálogo aconteceu em uma
reunião no dia 17, ocorrida às 16h,
na sede da Caixa. Na reunião, o
servidor recebeu das mãos do
executivo cópias dos extratos que
registram a movimentação financeira do caseiro. Mattoso orientou
os técnicos da Caixa para que as
movimentações atípicas fossem
informadas ao Banco Central e ao
Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras).
Mattoso disse também, segundo o servidor, que sabia que os dados seriam divulgados por uma
revista, já que havia sido procurado por um jornalista para falar sobre o assunto. Por volta das 19h do
mesmo dia, a "Época" divulgou
os dados em seu site na internet.
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