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Para juízes, desembargadora foi muito dura com De Sanctis
Magistrados criticam forma como Cecília Mello descaracterizou ordem de prisão de juiz
Desembargadora disse que decisão de De Sanctis de mandar prender 10 pessoas foi "ilegalidade" e se baseou em "meras conjecturas"
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão da desembargadora Cecília Mello, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª
Região, que anulou as ordens
de prisão decretadas pelo juiz
federal Fausto Martin De Sanctis na Operação Castelo de
Areia, foi interpretada como
excessivamente dura por juízes
de primeira instância.
A crítica de magistrados ouvidos pela Folha não é sobre a
decisão da desembargadora em
soltar os dez investigados -o
que eles entendem como uma
prerrogativa da magistrada,
que atua em um tribunal revisor- mas sobre os adjetivos
usados por ela para descrever o
despacho de De Sanctis.
No documento, a desembargadora afirmou que a ordem de
prisão assinada por De Sanctis
foi uma "patente ilegalidade",
baseada em "meras conjecturas" e em elementos "puramente empíricos", e que faltou
ao juiz "firmeza e objetividade"
para apontar a materialidade
dos crimes apontados.
A Folha apurou que De
Sanctis, que viajou domingo
para os EUA, disse a interlocutores ter ficado "chateado" com
a decisão de Cecília Mello, que
teria "acabado" com um trabalho de um ano e três meses. Argumentou que a desembargadora não levou em consideração, por exemplo, as constantes preocupações dos investigados em destruir provas.
Juízes
A reportagem ouviu quatro
juízes e um desembargador.
Eles pediram o sigilo de seus
nomes sob o argumento de que
a Lei da Magistratura os impede de comentar casos concretos de outros colegas.
Todos disseram que a decisão de Cecília Mello, conhecida
no tribunal por ser estritamente técnica, faz parte do trabalho
de desembargadora, que é responsável por rever decisões de
juízes de primeira instância.
Três magistrados disseram
lamentar, no entanto, o fato de
ela ter interpretado como "falta de certeza" o fato de De
Sanctis ter abusado de expressões no condicional, como "a
polícia teria apurado", "supostas atuações à margem da legislação" e "os investigados estariam, em tese, tratando de
transações ilícitas".
Para esses juízes é óbvio que
De Sanctis, após as inúmeras
críticas que recebeu durante a
Operação Satiagraha, que investiga Daniel Dantas, tentou
agir com cautela. Usou o condicional para mostrar que não estava julgando, mas dando uma
decisão provisória -a defesa
do banqueiro pediu a saída dele
da Satiagraha porque, no início
da investigação, De Sanctis associou Dantas diretamente à
prática de crimes.
Os magistrados argumentaram ainda que é "ruim" a crítica partir de um próprio membro do Judiciário, que deveria
respeitar sempre a independência funcional do juiz, evitando expor o magistrado.
Um dos juízes criticou De
Sanctis. Disse que o juiz sempre se posiciona no combate ao
crime organizado e, com isso,
coloca em risco sua imparcialidade ao julgar e dá argumentos
para que advogados peçam o
afastamento dele dos processos judiciais em que atua.
A Procuradoria Regional do
Ministério Público Federal de
São Paulo, que atua em segunda instância no Judiciário, ainda irá analisar se vai recorrer
da decisão da desembargadora
Cecília Mello.
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