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OAB-SP diz que vai recorrer de decisão de juiz
Ordem quer que material recolhido no departamento jurídico da Camargo Corrêa após ordem de De Sanctis seja desconsiderado
Magistrado diz que decisão visa apenas evitar que uma pessoa investigada, "para se precaver" de ação estatal, use "ambiente inviolável"
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo vai
recorrer à Justiça contra a decisão do juiz Fausto De Sanctis,
que autorizou busca e apreensão no departamento jurídico
da empreiteira Camargo Corrêa na semana passada.
O recurso da OAB será apresentado ao TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região.
O objetivo da medida é fazer
com que todo o material recolhido no local seja desconsiderado nas investigações da Operação Castelo de Areia e devolvido à empresa.
O argumento da OAB é que
os departamentos jurídicos das
companhias devem ser equiparados aos escritórios de advocacia, que, de acordo com a legislação, são invioláveis.
As buscas e apreensões só são
permitidas nos escritórios se
houver indícios da participação
de advogados nos crimes investigados e caso haja indicação
pormenorizada dos bens ou documentos a serem recolhidos.
Até ontem, a Polícia Federal
havia indiciado quatro diretores e duas secretárias da empreiteira, além de quatro supostos doleiros.
No início da operação, na manhã da última quarta-feira, os
agentes da PF tentaram entrar
no setor jurídico da Camargo
Corrêa, mas foram impedidos
por membros da Comissão de
Direitos e Prerrogativas da
OAB-SP que acompanhavam a
ação policial.
Petição
Ante o impasse gerado pela
tentativa de entrada no local, a
OAB encaminhou à tarde uma
petição a De Sanctis para livrar
o setor jurídico dos trabalhos
de busca e apreensão. Horas
depois, o juiz emitiu um despacho autorizando a ação da PF
no departamento jurídico.
Ao decidir sobre a petição da
OAB, De Sanctis afirmou: "A interpretação adotada nessa decisão visa apenas evitar que
uma pessoa investigada ou a ser
investigada, para se precaver de
eventual ação estatal, utilize de
ambiente inviolável, tornando-se, como se possível fosse, intocável pela lei".
E ainda ironizou: "Bastaria
para tal qualificar o local como
destinado a trabalho de uso exclusivo de advogados ou mesmo pela aposição, em um cômodo qualquer que venha a
servir de abrigo a eventuais
provas ilícitas, da expressão:
"escritório de advocacia" ou "departamento jurídico'".
Sergei Cobra Arbex, presidente da comissão da OAB, disse que "é uma pena que o juiz
tenha essa visão pouco meritória em relação à advocacia. Está
desrespeitando a lei. Advogados não se prestam ao papel de
esconder provas".
O Conselho Federal da OAB
apoia o recurso. "Apoiamos
porque, além de corrigir um ato
ilegal, uma decisão sobre o caso
servirá de orientação para evitar novos abusos e nulidades
processuais", disse Cezar Britto, presidente da OAB nacional.
Indagado sobre o assunto, o
presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), Gilmar
Mendes, afirmou ontem: "A lei
é muito clara quanto ao respeito ao espaço devido aos advogados. É preciso ter todas aquelas
atenções, a não ser quando o
advogado seja ele próprio o investigado. Mas eu não me detive neste caso. É fundamental
que a própria Ordem se pronuncie sobre o assunto e que
tome as providências devidas,
se for o caso."
Ontem, os diretores e as secretárias da Camargo Corrêa,
que tiveram a prisão preventiva
cassada no sábado, voltaram ao
trabalho. Eles devem ser chamados para depor nas próximas semanas. Os advogados
dos indiciados passaram o dia
de ontem analisando o inquérito, que já possui dez volumes.
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