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ELEIÇÕES 2004
Mágoas e até disputa por terreno motivam deserções; malufistas dizem que ex-aliados voltam se ex-prefeito ganhar pleito
Antigos companheiros abandonam Maluf
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A herança de escândalos e as sucessivas derrotas eleitorais fizeram com que antigos aliados e
conselheiros abandonassem o
barco do ex-prefeito Paulo Maluf
(PP), pré-candidato na disputa
pela Prefeitura de São Paulo.
A lista dos ex-escudeiros é encabeçada por um trio de empresários: Edevaldo Alves da Silva, sogro de uma das filhas de Maluf e
dono da universidade FMU, Heitor Pinto Filho, reitor da Uniban e
vice de Maluf na eleição de 2002, e
Jorge Yunes, ex-tesoureiro e financiador de campanhas.
O ex-prefeito demonstra não se
importar com a solidão política,
mas pessoas próximas dizem que
Maluf sentiu o distanciamento de
alguns companheiros, principalmente após a divulgação de documentos bancários que confirmam
a movimentação ilegal, atribuída
a ele, de milhões de dólares no exterior -Maluf nega ser o proprietário das contas.
Entre os motivos alegados para
o afastamento estão o não reconhecimento do trabalho desenvolvido dentro do partido, o medo de ver o nome vinculado a denúncias e até a disputa por um
terreno da família Maluf.
A ala malufista apontou outro
fator: a sucessão de derrotas de
Maluf (o último cargo dele foi a
Prefeitura de São Paulo, de 1993 a
1996) teria desincentivado o apoio
de amigos ávidos pelas benesses
do poder. Se o ex-prefeito fosse
reconduzido à prefeitura, dizem
esses mesmos aliados, os antigos
companheiros retornariam.
Liberdade
Um dos rompimentos foi causado pela venda de um terreno da
família Maluf no começo do ano
passado. Edevaldo Alves da Silva,
pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), e Heitor Pinto Filho, pela Uniban, tinham interesse no lote, localizado no bairro da
Liberdade (zona sul de SP). Manifestaram seus planos, mas a venda
foi fechada com uma terceira faculdade, concorrente de ambos.
Os dois empresários pediram a
desfiliação do ex-PPB (atual PP).
A amigos, Pinto Filho disse ter
se sentido "traído" por Maluf. O
ex-prefeito contra-argumentou.
Disse que a venda foi operada por
membros da família, sem o conhecimento dele.
O rompimento de Maluf com
Jorge Yunes foi mais brusco. O
empresário, denunciado durante
a gestão do ex-prefeito Celso Pitta
(1997-2000) por suposto favorecimento na administração, entrou,
em 2001, com uma ação de despejo contra o partido, cuja sede funcionava em um prédio dele na rua
Santo Amaro.
Yunes foi absolvido em decisão
de primeira instância, mas o relacionamento dele com o ex-prefeito continua estremecido.
Outra deserção importante, porém mais antiga, foi a do pianista
João Carlos Martins, que se afastou do mundo malufista após o
escândalo conhecido como Pau-brasil -empresa que supostamente financiou campanhas do
ex-prefeito de forma irregular.
Martins disse ter sido abandonado por Maluf e obrigado a se defender sozinho dos processos.
Antigo escudeiro de Maluf na
Câmara Municipal, o ex-prefeito
e ex-vereador Miguel Colasuonno
abandonou o barco no final de
1999, no auge do escândalo da
máfia dos fiscais -envolvimento
de servidores públicos na cobrança de propina de empresários. "A
situação era muito tensa naquela
época", disse Colasuonno, hoje filiado ao PMDB e ligado ao deputado federal Michel Temer, presidente do partido.
Dois ex-secretários e fortes aliados também romperam com o
malufismo: Roberto Paulo Richter (Saúde) e Lair Krahenbuhl
(Habitação), responsáveis pela
implantação do PAS (Plano de
Atendimento à Saúde) e do projeto Cingapura, respectivamente.
Richter se diz "velho demais"
para a política. Do passado, guarda o fato de ter sido preterido na
sucessão de Maluf (perdeu para
Pitta). Krahenbuhl, que se desentendeu com pessoas ligadas a Maluf, trabalha na Câmara Brasileira
da Indústria da Construção.
Gerações
Hoje contam-se nos dedos as
pessoas que são realmente próximas a Maluf e têm liberdade para
aconselhá-lo politicamente. É o
caso de Jesse Ribeiro, um de seus
principais articulares de campanha e com quem conversa de cinco a dez vezes por dia.
O deputado federal Delfim Netto (PP) e o deputado estadual Antonio Salim Curiati (PP) também
gozam de liberdade e de intimidade para aconselhar o ex-prefeito.
Na Câmara Municipal de São
Paulo, Maluf conserva a fidelidade de aliados antigos, como a dos
vereadores Erasmo Dias (PP) e
Wadih Mutran (PP).
Apesar do apoio irrestrito de velhos amigos e de lideranças políticas, o malufismo não tem resistido às novas gerações.
O vereador Antonio Salim Curiati Jr. (PP), filho do deputado
Curiati, já anunciou que, por motivos pessoais, irá se desligar do
partido e deixar a carreira política
-mesmo a contragosto do pai.
A filha de Calim Eid, que era
considerado um dos principais
articuladores políticos do ex-prefeito, está bem longe da seara malufista. Diretora da agência Atração Fonográfica, Vilma Eid participou de campanhas políticas pelo então PPB até 2000.
Após a morte do pai, no final de
1999, Vilma comunicou sua intenção de se afastar da política, o
que deixou ressentimentos no
partido. À Folha, Vilma disse que
as campanhas consumiam muito
tempo da produtora, o que não
interessava comercialmente.
Outro filho que não herdou do
pai o sentimento malufista é o
presidente do PL, deputado federal Valdemar Costa Neto.
O pai do deputado, Valdemar
Costa Filho, morto em 2001, foi
secretário do Abastecimento de
Maluf e freqüentemente é lembrado por ele como um dos amigos mais fiéis.
A última aproximação política
entre o deputado e Maluf foi na
campanha governamental de
2002, quando a direção paulista
do PL declarou apoio ao ex-prefeito. Irritado, Costa Neto não escondeu sua simpatia maior pelo
adversário petista de Maluf, José
Genoino.
Aliados malufistas dizem ver
com "naturalidade" o afastamento de alguns companheiros, principalmente pelo fato de o ex-prefeito estar longe de um cargo público desde de 1996. Afirmam que
essas amizades são casuais e movidas por interesses.
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