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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS
Publicitário tomou R$ 47 milhões emprestados, mas repassou apenas R$ 30,6 milhões
CPI vê rombo de R$ 16,4 mi na versão Delúbio-Valério
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A CPI dos Correios busca o paradeiro de pelo menos R$ 16,4 milhões que deveriam ter chegado
aos cofres do PT e partidos aliados por meio dos empréstimos
bancários supostamente contraídos pelo publicitário Marcos Valério de Souza com o propósito de
formar um caixa dois partidário,
segundo a versão apresentada por
ele e pelo ex-tesoureiro nacional
do PT, Delúbio Soares.
Essa é a diferença entre os empréstimos tomados por Valério (e
que teriam partidos como destino
declarado) e o valor já identificado pela CPI em saques na boca do
caixa e transferências eletrônicas
para parlamentares e assessores
ou funcionários da empresa que
teriam redistribuído o dinheiro
sob orientação de Delúbio.
"A conta não fecha", disse um
técnico da CPI que há mais de dez
dias vasculha as contas de Valério
e de suas empresas. Enquanto a
conta "não fechar", os técnicos da
comissão não darão por real a suposta operação financeira montada entre o PT e Valério.
Após checagens e rechecagens,
a equipe técnica da CPI concluiu
até agora três relatórios com listas
de pessoas que receberam, ao todo, R$ 30,6 milhões das empresas
de Valério. Foi detectado o destino de R$ 25,5 milhões da conta da
SMPB no Banco Rural, de R$ 4,4
milhões da conta da DNA Propaganda no Banco Rural e de R$ 700
mil da conta da 2S Participações
no Banco do Brasil.
Versão em risco
Esses valores colocam em risco
a versão construída pelo publicitário e por Delúbio nos depoimentos que prestaram nos dias 14
e 15 de julho ao procurador-geral
da República, Antonio Fernando
Barros e Silva de Souza.
A versão é confusa desde o princípio. Só na última quarta-feira a
imprensa teve acesso à íntegra
dos depoimentos. Sabe-se agora
que Valério disse ao procurador-geral ter repassado exatos R$ 39,2
milhões a Delúbio e ao PT. Listou
seis empréstimos tomados para
esse fim específico e disse que todo o dinheiro, sem exceção, foi
enviado ao partido. Mas a soma
dos empréstimos mencionados
por Valério é de R$ 65,8 milhões:
o procurador-geral nada perguntou sobre essa discrepância.
Após analisar as cópias dos empréstimos que Valério entregou
ao procurador, a CPI concluiu
que o valor dos empréstimos é
bem inferior, R$ 47 milhões, mas
ainda acima dos R$ 39,2 milhões
mencionados por Valério.
Mais surpreendente ainda foi
Marcos Valério ter entregue ao
procurador cópia de outra operação de crédito no valor de R$ 30,5
milhões datada de 15 de outubro
de 2004 e que tem como garantia
o contrato de publicidade que sua
empresa DNA Propaganda assinou com o Banco do Brasil em setembro de 2003. Esse empréstimo
do Banco Rural não é citado pelo
próprio Valério em seu depoimento como parte do caixa dois
do PT. Também não é levado em
conta pela CPI. Por ora, a comissão não sabe explicar a operação,
da qual só tomou conhecimento
quando a Procuradoria Geral da
República encaminhou os papéis
entregues por Valério.
Empresas
As contas estariam mais próximas da versão de Valério e Delúbio caso fossem considerados, como parte do mesmo esquema, repasses considerados "suspeitos" a
duas empresas.
A Guaranhuns Participações,
que tem como proprietários uma
sociedade anônima do Uruguai, a
Esfort Trading, e um "laranja" do
interior mineiro, recebeu R$ 7 milhões, e a corretora de seguros
paulistana Bônus-Banval, na qual
trabalhou uma filha do deputado
José Janene (PP-PR), obteve R$
2,9 milhões. Com essas transferências, ainda restariam R$ 6,5
milhões sem destino identificado,
considerando o repasse total avaliado pela CPI em R$ 47 milhões.
Até a última sexta-feira, a CPI
dos Correios havia identificado ao
menos nove parlamentares beneficiados com as transferências e
saques. Diretamente, foram os
deputados federais Josias Gomes
(PT-BA), José Mentor (PT-SP),
João Magno (PT-MG) e Romeu
Queiroz (PTB-MG).
Por meio de assessores e parentes, foram relacionados ao escândalo os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Professor Luizinho
(PT-SP), Paulo Rocha (PT-PA),
Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Roberto Brant (PFL-MG).
Sabe-se ainda que outros R$ 326
mil seguiram direto para as mãos
do então diretor de marketing do
Banco do Brasil, Henrique Pizzolatto. Além dos valores cujo destino é incerto, há também os valores sacados por funcionários da
SMPB, como a diretora financeira
da empresa, Simone Reis Vasconcelos, que sacou R$ 5,5 milhões na
boca do caixa mas declarou, em
depoimento à Polícia Federal, não
saber para quem entregou.
Somando-se os R$ 16,4 milhões
não detectados pela CPI e os saques identificados, mas de destino ignorado, o rombo na versão
de Marcos Valério e Delúbio Soares chegaria a R$ 28,4 milhões.
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