São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Comissão investiga 560 cheques acima de R$ 30 mil emitidos por empresas de Valério

CPI descobre cheques em série com o mesmo valor

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A análise feita pela CPI dos Correios nos dados bancários das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural de Belo Horizonte revelou a emissão de dezenas de cheques em série, em dias seguidos e em valores iguais, sobretudo de R$ 50 mil e de R$ 300 mil.
Vários desses cheques, segundo cruzamento feito pela Folha com a lista dos sacadores, foram retirados na boca do caixa pela diretora financeira da empresa SMPB Comunicação, Simone Reis Lobo de Vasconcelos, e pelo policial civil de Minas Gerais David Rodrigues Alves. A CPI ainda não sabe o destino real do dinheiro sacado por essas e outras pessoas.
Em depoimento à Polícia Federal, o policial Alves disse que o dinheiro iria para um sócio de Marcos Valério, Cristiano Paz.
Simone afirmou, em depoimento à PF, que entregava o dinheiro para uma fila de "estranhos" que compareciam à agência do Banco Rural no Brasília Shopping. Ela disse não ter condições de afirmar quem são as pessoas ou o destino do dinheiro.

560 cheques
A comissão selecionou 560 cheques com valores acima de R$ 30 mil emitidos por quatro empresas de Marcos Valério na agência do Rural de Belo Horizonte -DNA Propaganda, SMPB Comunicação, Estratégica Marketing e MultiAction Entretenimentos, além de sete cheques emitidos pelo publicitário em sua conta de pessoa física.
O total da saída de dinheiro das empresas de Valério analisada pela CPI compreende R$ 75,9 milhões. Desse total, a maior parte saiu dos cofres da SMPB, R$ 65,2 milhões.
As maiores seqüências na emissão dos cheques ocorreram na conta da SMPB entre os dias 2 de outubro de 2003 e 16 de janeiro de 2004. Nesse período de 106 dias, a agência de publicidade emitiu 43 cheques no valor exato de R$ 50 mil (um volume total de R$ 2,15 milhões).
Em apenas um dia que integra essa seqüência, 28 de outubro de 2003, sete cheques de R$ 50 mil emitidos pela SMPB foram sacados por Simone Vasconcelos na boca do caixa.
Entre fevereiro e abril de 2003, houve novas emissões em série, mas agora em valor bem mais alto. A SMPB assinou 25 cheques no valor exato de R$ 300 mil cada um, valor total de R$ 7,5 milhões.
Novamente Simone aparece na lista dos sacadores da comissão, trocando parte desses cheques na boca do caixa.
A seqüência dos cheques traçada pela CPI poderá esclarecer conexões entre os beneficiários dos cheques. Entre um cheque de R$ 100 mil sacado por Solange Pereira Oliveira, funcionária do departamento financeiro do diretório nacional do PT, e outro cheque de R$ 100 mil sacado por Raimundo Ferreira da Silva Júnior, assessor do PT nacional em Brasília, existe apenas um outro cheque no talonário da SMPB, cujo destinatário ainda não foi identificado.
Embora sacados em dias diferentes, 26 e 19 de março de 2004, os cheques de Solange têm numeração muito próxima, 414067 e 414070.
A comissão suspeita que os documentos referentes à quebra do sigilo bancário tenham sido adulterados para tornar mais difícil o rastreamento do destino do dinheiro. O Banco Rural nega e diz que enviou todas as informações solicitadas pela CPI. (MARTA SALOMON e RUBENS VALENTE)

Texto Anterior: A musa: Karina faz ensaio e diz não ser bonita
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/Rumo a 2006: Lula se tornou menor que a crise, diz Serra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.