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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ANISTIA FISCAL
Deputado petista afirma que iniciativa serve para repatriar recursos no exterior e vai beneficiar a economia e gerar empregos
Projeto de Mentor "blindaria" doleiros
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Projeto de lei do deputado José
Mentor (PT-SP), em tramitação
na Câmara, propõe anistia fiscal
-e não punição- aos titulares
de recursos no exterior não declarados ao fisco brasileiro e, na prática, "blinda" doleiros que hoje
são investigados pelo crime de lavagem de dinheiro.
O projeto tem recebido críticas
de procuradores da República e
juizes federais, que acreditam que
a aprovação poderá encerrar
ações que correm na Justiça Federal. Bastará que os investigados
declarem valores mantidos no exterior ou repatriem esses recursos. O projeto prevê cobrança de
Imposto de Renda de 3% do valor
repatriado e 6% para o valor declarado, mas mantido no exterior.
Mentor admite que doleiros investigados podem ser beneficiados por seu projeto. "Se eles declararem os recursos no exterior,
eles deixarão de ser doleiros e estarão legalizados."
O deputado diz que seu projeto
tem interesse econômico e social.
Ele estima que existam até R$ 150
bilhões de brasileiros no exterior.
"Quem ganha com isso hoje são
os banqueiros e os países onde estão estes recursos. Meu projeto facilita o repatriamento legal desse
dinheiro e irá beneficiar a economia e gerar empregos."
O juiz da 2ª Vara Federal Criminal de Curitiba, especializada em
crimes contra o sistema financeiro, Sérgio Fernando Moro, afirma
ser "lamentável" que, quando são
conseguidas provas da atividade
financeira ilegal no país, "alguém
tenha a iniciativa de apresentar
anistia, que pode prejudicar todo
o trabalho desenvolvido até aqui".
O juiz federal cita, como exemplo, a conta Beacon Hill, que é
mantida nos Estados Unidos e
movimentou US$ 839,8 milhões.
Nessa conta já foram identificados 3.310 contribuintes, entre eles
as empresas DNA e SMPB, que
têm o publicitário Marcos Valério
-suposto operador do "mensalão"- entre seus sócios.
Inexplicável
A aprovação do projeto, na opinião dos procuradores e juízes,
cessaria a investigação e a punição
daqueles que requerem a anistia
fiscal proposta por Mentor.
"É inexplicável um projeto desses neste momento e é absolutamente inócua a ressalva para dinheiro oriundo de crime. É um
projeto sob medida para a atividade ilegal", diz Celso Antônio
Três, procurador que conseguiu a
quebra do sigilo das remessas ao
exterior pelas contas CC5 (de
não-residentes no país).
Durante o processo de organização da Operação Farol da Colina, procuradores da força-tarefa
se reuniram com Mentor, então
relator da CPI do Banestado.
Mentor queria que a operação se
restringisse a prender no máximo
seis doleiros. Foram presos 63, em
agosto de 2004.
A força-tarefa registrou os doleiros Antônio Claramunt e Reiginaldo Peres Chaves discutindo o
projeto. Eles operavam subcontas
na Beacon Hill. As gravações foram feitas antes de Mentor apresentar o projeto na Câmara. Chaves e Claramunt foram condenados e presos por crimes contra o
sistema financeiro.
Ouvido pela Folha, Mentor disse não saber da gravação. "Mas o
projeto é só de maio desse ano. E
eles não estão presos?", perguntou. Informado de que a gravação
ocorrera no ano passado, Mentor
disse não saber o motivo de dois
doleiros saberem que ele preparava o projeto de anistia fiscal.
Colaboraram PAULO PEIXOTO e THIAGO GUIMARÃES, da Agência Folha, em
Belo Horizonte
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