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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Governo Lula investiu mais em estradas que na saúde
Segundo maior gasto foi no reaparelhamento da FAB, que incluiu compra do AeroLula
Manutenção de rodovias
consumiu R$ 3,4 bi, e Força
Aérea, R$ 1,6 bi; gastos em
construção e ampliação de
hospitais foi de R$ 1,2 bi
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Embalados pela operação tapa-buracos nas estradas e pela
polêmica compra de um Airbus
presidencial, investimentos na
manutenção de rodovias federais e no reaparelhamento da
Força Aérea consumiram mais
dinheiro arrecadado com tributos no governo Lula do que
investimentos em saneamento
ou na rede de saúde.
A Folha analisou o pagamento de obras e compras de
equipamentos no período de
pouco mais de três anos e meio,
entre a posse de Luiz Inácio
Lula da Silva no Planalto e a última quinta-feira, 27 de julho.
A manutenção de rodovias
foi o programa que consumiu o
maior volume de dinheiro arrecadado pela União e destinado a investimentos. De acordo
com o Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de
gastos federais), foram pagos
R$ 3,4 bilhões nesse programa.
No mesmo período de pouco
mais de três anos e meio, a
União investiu R$ 1,6 bilhão na
compra e reforma de aviões.
Desse pacote, fazem parte o
Airbus em que Luiz Inácio Lula
da Silva viaja e 90 caças SuperTucano encomendados à Embraer para vigiar as fronteiras e
eventualmente abater aeronaves que não se identificam. O
AeroLula custou US$ 56,7 milhões -R$ 125 milhões pelo
câmbio de hoje ou quase
R$ 170 milhões, pela cotação
do dólar à época.
O Ministério dos Transportes contabiliza os resultados
dos investimentos nas rodovias: 9.100 quilômetros de estradas recuperadas, outros 37
mil conservados e mais 15 mil
quilômetros sinalizados.
"Temos convicção de que a
situação melhorou, mas não
posso dizer com precisão o
atual estado das estradas", disse o ministro Paulo Sérgio Passos. O ministério vai contratar
empresa para avaliar as estradas até o final do ano.
O ministro Waldir Pires (Defesa) defendeu os investimentos feitos na Força Aérea, segundo ele "terrivelmente sucateada": "Se pudéssemos, os investimentos seriam maiores".
Disputa
Ministérios e seus programas disputam a cada ano a fatia
de despesas do Orçamento
mais pressionada pelos cortes
de gastos. Nos três primeiros
anos de governo, só 47% das
despesas autorizadas por lei
com obras e compra de equipamentos saíram do papel.
Análise feita com o apoio da
ONG Contas Abertas mostra
que a pasta dos Transportes ganhou a disputa pelo dinheiro
escasso dos investimentos, seguido pela Defesa. Transportes
investiu mais do que as pastas
da Saúde e da Educação juntas.
A Folha somou os investimentos feitos por três programas da Saúde, que tratam da
construção e ampliação de postos de saúde e hospitais, além
da compra de equipamentos e
de ambulâncias. O resultado foi
inferior aos investimentos feitos em aeronaves (R$ 1,2 bilhão
contra R$ 1,6 bilhão).
Na área de saneamento básico, foram somados os investimentos em saneamentos urbano e rural. O resultado (R$ 1,1
bilhão) ficou aquém do valor
investido pela Aeronáutica.
Verba insuficiente
Apesar de liderarem o ranking dos projetos que mais receberam dinheiro público, os
investimentos na manutenção
de rodovias e no reaparelhamento da Força Aérea também
ficaram aquém da verba que foi
autorizada por lei e das necessidades apontadas pelas pastas.
No caso das estradas, o corte
superou a metade das despesas
autorizadas. O ministério deu
prioridade às principais vias de
escoamento de produtos agrícolas e de maior concentração
de tráfego. Uma única empreiteira, a Delta Construções, do
Rio, levou quase 20% dos pagamentos. A recuperação emergencial do asfalto -uma das
modalidades do programa-
beirava os 21 mil quilômetros
de rodovias no início do mês.
Por um orçamento próximo
ao preço pago pelo AeroLula, a
Aeronáutica comprou há um
ano do governo francês 12 caças
usados Mirage 2000-C para
substituir os caducos Mirage
III, numa alternativa ao projeto F-X, que previa a compra de
supersônicos novos por meio
de concorrência internacional.
No programa de reaparelhamento da Força Aérea, o maior
gasto foi na compra de 99 caças
A-29, os SuperTucano, para vigiar o espaço aéreo e interceptar aeronaves. No contrato com
a Embraer, já foram gastos
R$ 625 milhões, de acordo com
o Comando da Aeronáutica.
Consideradas despesas com
pessoal, manutenção da máquina pública e pagamento de
benefícios, o maior gasto é do
Ministério da Previdência, seguido pelos ministérios da Saúde, Defesa e Educação.
Uma medida de comparação:
o programa Bolsa-Família, de
transferência de renda a famílias pobres, desembolsou entre
2003 e 2005 o equivalente a
mais de 60% dos recursos destinados nesse período às despesas classificadas legalmente como investimentos.
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