São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 2006 |
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ENTREVISTA DA 2ª/ STUART GOTTLIEB Especialista em contraterrorismo, Stuart Gottlieb compara guerra no Líbano a outros conflitos e diz que Israel não tinha alternativa a não ser atacar grupo xiita Para estudioso, Hizbollah é o mais difícil de derrotar
SE o Reino Unido, a Espanha e o Peru tiveram
dificuldades para combater grupos como o
IRA (Exército Republicano Irlandês), o ETA
(grupo separatista basco) e o Sendero Luminoso, os israelenses terão ainda mais na atual operação no sul do Líbano para eliminar o arsenal do Hizbollah, que age a partir de um país fronteiriço e é uma
das organizações armadas mais poderosas de toda a
história, diz o professor Stuart Gottlieb, principal especialista em contraterrorismo da Universidade Columbia, em Nova York. Para Gottlieb, Israel não tinha
outra saída a não ser agir militarmente contra o Hizbollah, uma vez que qualquer estratégia negociada para desarmar o grupo fracassaria.
Israel não é o primeiro país a
lidar com uma organização
não-governamental armada na
história. A França teve de enfrentar os movimentos de independência da Argélia, diversos
países da América Latina tiveram guerrilhas de esquerda pela frente e mesmo Israel teve de
combater o Hizbollah no sul do
Líbano. Muitos países saíram
vitoriosos, outros derrotados.
Não se sabe ainda qual será o
resultado do atual conflito. O
Hizbollah tem mísseis e não
apenas explosivos, além de possuir uma ideologia difícil de ser
combatida. A estratégia, na visão do professor Stuart Gottlieb, é Israel debilitar ao máximo o Hizbollah e, no médio
prazo, que seja quebrada a
aliança entre a Síria e o Irã, trazendo o regime de Bashar al Assad para o lado dos países árabes moderados. Sem poder
atravessar o território sírio, o
Irã teria dificuldade em manter
o fornecimento de armas ao
Hizbollah. O problema é que o
governo sírio talvez não aceite
mudar de lado pois saberia que
o grupo libanês "poderia responder com um atentado em
Damasco a esse tipo de traição.
Na visão da Síria, é melhor um
inimigo que não a ataca, como
Israel, do que um que poderia
atacá-la, como o Hizbollah".
STUART GOTTLIEB - O Hizbollah é mais difícil do que qualquer outra organização pois envolve uma novidade: o grupo opera a partir de um outro país. No atual conflito, o Hizbollah usa o território libanês para lançar mísseis do outro lado da fronteira contra Israel. O Sendero Luminoso era baseado no Peru para atacar o governo peruano. O IRA também agia dentro do Reino Unido. O ETA, apesar de ter células na França, tinha as suas principais operações na própria Espanha. No caso do Hizbollah, é diferente. É uma guerrilha, com mísseis, não apenas explosivos. O grupo tampouco é a mesma coisa que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Até agora, as Farc nunca agiram contra países vizinhos. O Hizbollah é inimigo de Israel, não do Líbano, mesmo porque é libanês. Nunca existiu uma organização como esta. FOLHA - Usando a Colômbia como
exemplo, o governo de Álvaro Uribe,
com apoio dos EUA e da população
local, tem dificuldades para desarmar grupos como as Farc. O governo
e o Exército libanês são bem mais
fracos que o colombiano. Havia como o premiê libanês Fuad Siniora levar adiante o desarmamento, como
pedia a resolução 1559 da ONU?
FOLHA - O Hizbollah parece ser
mais poderoso do que os Exércitos
da Síria, da Jordânia e do Egito contra Israel no passado. Mantém o
mesmo nível dos ataques 15 dias
após o início das hostilidades. Como
o grupo obtém esse resultado?
FOLHA - Israel não corre o risco de
repetir 1982, quando entrou no Líbano para eliminar o "Estado dentro
do Estado", que era a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), e
como conseqüência teve o surgimento do Hamas e do Hizbollah?
FOLHA - Grupos considerados perigosos no passado, praticamente
inexistem hoje, como o Abu Nidal,
que para muitos era a organização
terrorista mais poderosa no mundo
árabe nos anos 70 e 80. Isso pode
ocorrer com o Hizbollah no futuro?
FOLHA - O Hizbollah é hoje mais
forte que a Al Qaeda?
FOLHA - Por que não há solução negociada para desarmar o Hizbollah,
com a participação do grupo?
FOLHA - Dar mais poder aos xiitas
prejudicaria o sistema sectário libanês, dividido entre religiões?
FOLHA - A única saída é a operação
militar de Israel contra o grupo?
FOLHA - Israel não podia usar melhor os seus serviços de inteligência
e ir direto às lideranças do Hizbollah,
como foi contra as do Hamas no assassinato do xeque Ahmed Yassin?
FOLHA - Há uma corrente que vem
crescendo nos EUA que é a de tentar
quebrar a aliança entre a Síria e o Irã.
Dessa forma, o Irã perderia o corredor para enviar armas ao Hizbollah.
FOLHA - O apoio ao Hizbollah não
diminuiria com a melhoria de vida
dos xiitas do sul do Líbano por ações
sociais do Estado libanês?
FOLHA - E o envio de forças internacionais?
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