São Paulo, terça-feira, 31 de julho de 2007

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Intimidade entre tucanos e Jobim traz incômodo ao PT

Dirigentes da sigla vêem "indelicadeza" de novo ministro da Defesa com Waldir Pires

Levar ao ministério um ex-auxiliar de FHC provoca danos ao governo e ao partido, na avaliação de membros da Executiva

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com reunião marcada para a manhã de hoje, integrantes da Executiva Nacional do PT -especialmente mais à esquerda- não conseguem esconder o desconforto com a indicação de Nelson Jobim (PMDB) para o Ministério da Defesa.
Mais do que a perda de uma pasta, antes ocupada por Waldir Pires, os petistas se queixam do significado da escolha de Jobim -titular da Justiça no governo FHC e amigo do governador José Serra (PSDB)- como um reconhecimento de que o PT seria a origem de problemas no governo federal.
"O problema é que Jobim é bem tucano", afirma o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda.
Os petistas reclamam do tom adotado por Jobim na posse. Ao lado de Pires, Jobim avisou que a incompetência seria punida na sua gestão. Para o secretário de Movimentos Sociais do PT, Renato Simões, Jobim "reverbera o senso comum de que a incompetência do PT é a causa do caos aéreo".
"Achei o ministro indelicado com Waldir Pires ao concluir que ele saiu por incompetência. O PT não tripudiou sobre a saída do Silas Rondeau (de Minas e Energia). Esperávamos outra postura de ministro do PMDB", disse Simões. Pomar e Simões questionam ainda o encontro de Jobim com Serra logo após sua posse. Simões disse que as "bases" ficaram incomodadas com o processo de escolha.
Já o secretário nacional do PT, Joaquim Soriano, afirma que a mudança no Ministério da Defesa requer uma discussão interna da Executiva hoje. Mas prefere não comentar a opção por Jobim. "Espero que ele resolva os problemas, debele a crise aérea. É só o que quero falar", reagiu Soriano.
A exemplo de Soriano, Pomar defende a maior participação do PT na articulação política do governo. Pomar lamenta que os aliados, especialmente os encarregados da coordenação política, não entendam que o desgaste do PT acabe por afetar o governo Lula.
Reivindicando um espaço para o PT na articulação -na cadeira de Walfrido dos Mares Guia ou na liderança do governo-, Pomar disse que a reforma política fracassou, porque "quem faz a articulação política do governo acha que o PT é uma coisa e o governo é totalmente diferente".
"Quando entra um ministro ligado ao FHC, não é só o PT que perde. É o governo que perde também", prega Pomar. Soriano concorda que "um grande erro foi a substituição de Tarso Genro (PT) por Walfrido (PTB) na articulação política".
Embora descarte que a saída de Pires represente uma perda de espaço, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, reiterou que o ex-ministro tem todo "apreço, confiança e solidariedade" do partido.
Hoje, integrantes da Executiva vão discutir também o papel da Anac e os efeitos de uma renúncia coletiva da diretoria. Eles também rejeitam a proposta da abertura de capital da Infraero. "A Infraero tem de ser fortalecida", disse o 3º vice-presidente, Jilmar Tatto.
Para o secretário sindical, João Felício, o setor "não pode ser subordinado a interesses comerciais". Mesmo favorável à idéia, Berzoini disse que "para abrir o capital tem de ser num momento de tranqüilidade; não num de incerteza".


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