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Intimidade entre tucanos e Jobim traz incômodo ao PT
Dirigentes da sigla vêem "indelicadeza" de novo ministro da Defesa com Waldir Pires
Levar ao ministério um ex-auxiliar de FHC provoca danos ao governo e ao partido, na avaliação de membros da Executiva
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com reunião marcada para a
manhã de hoje, integrantes da
Executiva Nacional do PT -especialmente mais à esquerda-
não conseguem esconder o desconforto com a indicação de
Nelson Jobim (PMDB) para o
Ministério da Defesa.
Mais do que a perda de uma
pasta, antes ocupada por Waldir Pires, os petistas se queixam
do significado da escolha de Jobim -titular da Justiça no governo FHC e amigo do governador José Serra (PSDB)- como um reconhecimento de que
o PT seria a origem de problemas no governo federal.
"O problema é que Jobim é
bem tucano", afirma o secretário de Relações Internacionais
do PT, Valter Pomar, da Articulação de Esquerda.
Os petistas reclamam do tom
adotado por Jobim na posse.
Ao lado de Pires, Jobim avisou
que a incompetência seria punida na sua gestão. Para o secretário de Movimentos Sociais do PT, Renato Simões, Jobim "reverbera o senso comum
de que a incompetência do PT é
a causa do caos aéreo".
"Achei o ministro indelicado
com Waldir Pires ao concluir
que ele saiu por incompetência.
O PT não tripudiou sobre a saída do Silas Rondeau (de Minas
e Energia). Esperávamos outra
postura de ministro do PMDB",
disse Simões. Pomar e Simões
questionam ainda o encontro
de Jobim com Serra logo após
sua posse. Simões disse que as
"bases" ficaram incomodadas
com o processo de escolha.
Já o secretário nacional do
PT, Joaquim Soriano, afirma
que a mudança no Ministério
da Defesa requer uma discussão interna da Executiva hoje.
Mas prefere não comentar a
opção por Jobim. "Espero que
ele resolva os problemas, debele a crise aérea. É só o que quero
falar", reagiu Soriano.
A exemplo de Soriano, Pomar defende a maior participação do PT na articulação política do governo. Pomar lamenta
que os aliados, especialmente
os encarregados da coordenação política, não entendam que
o desgaste do PT acabe por afetar o governo Lula.
Reivindicando um espaço
para o PT na articulação -na
cadeira de Walfrido dos Mares
Guia ou na liderança do governo-, Pomar disse que a reforma política fracassou, porque
"quem faz a articulação política
do governo acha que o PT é
uma coisa e o governo é totalmente diferente".
"Quando entra um ministro
ligado ao FHC, não é só o PT
que perde. É o governo que perde também", prega Pomar. Soriano concorda que "um grande
erro foi a substituição de Tarso
Genro (PT) por Walfrido (PTB)
na articulação política".
Embora descarte que a saída
de Pires represente uma perda
de espaço, o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini,
reiterou que o ex-ministro tem
todo "apreço, confiança e solidariedade" do partido.
Hoje, integrantes da Executiva vão discutir também o papel
da Anac e os efeitos de uma renúncia coletiva da diretoria.
Eles também rejeitam a proposta da abertura de capital da
Infraero. "A Infraero tem de ser
fortalecida", disse o 3º vice-presidente, Jilmar Tatto.
Para o secretário sindical,
João Felício, o setor "não pode
ser subordinado a interesses
comerciais". Mesmo favorável
à idéia, Berzoini disse que "para
abrir o capital tem de ser num
momento de tranqüilidade;
não num de incerteza".
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