São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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análise

Adorno de luxo do governo, Gil não fez pouco

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

Gilberto Gil teria tratado melhor sua biografia se tivesse deixado o cargo ao fim do primeiro mandato de Lula. Afetuou-se a um pedido "fica, Gil", de uma ala de artistas e do presidente, e tornou-se um ministro "cansado do ministério", como disse à Folha em agosto de 2007.
Nos últimos dois anos, seu lado músico reaflorou com força: ele voltou a compor, lançou um disco, incrementou sua agenda de shows... Abriu em excesso seu flanco mais vulnerável: o de ganhar dinheiro privado enquanto ocupava um cargo público, destinando cada vez menos tempo a este.
Nem a simbologia de um artista de primeiro time ocupando o ministério bastou para preservá-lo. Mas não se deve menosprezar essa simbologia. Gil deu ao cargo uma dimensão que, em duas décadas de existência, ele ainda não tivera. E espantou a poeira dos apáticos oito anos de Francisco Weffort, quando as diretrizes culturais ficaram nas mãos dos gerentes de marketing das empresas.
A maior vitória de Gil, aliás, foi avocar para o ministério a formulação dos critérios de patrocínio a serem adotados por empresas públicas -que, na gestão anterior, escolhiam os patrocinados por indicação política ou idiossincrasias. Hoje, a regra são os editais, que podem ser questionados, mas não são obscuros.
A segunda maior vitória foram os Pontos de Cultura, projeto de custo relativamente baixo (R$ 185 mil cada ponto) que permitiu, em parceria com organizações da sociedade, a chegada de internet, ilhas de edição e miniestúdios de gravação a lugares remotos do país.
O maior erro foi tocar com a barriga, ao longo de seis anos, a necessidade de reforma da Lei Rouanet, desacreditando-a por omissão e prejudicando produtores teatrais, musicais e de outras áreas. Para quem nunca conseguiu um orçamento maior do que 0,6% do PIB e foi usado como adorno de luxo pelo governo, até que Gil não fez pouco. Tivesse saído antes, teria se saído melhor.


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