São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ACORDÃO OU CASTIGO?

Gabeira afirma que presidente da Câmara "é desastre para o país'; Severino manda deputado recolher-se "à sua insignificância"

Reação à pizza provoca bate boca no plenário

FÁBIO ZANINI
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), bateu boca com deputados e chegou a ser ameaçado com pedido de cassação em razão da entrevista à Folha publicada ontem, em que defendeu penas brandas para parlamentares flagrados utilizando caixa dois. Mas outros parlamentares, inclusive alguns petistas, tomaram a sua defesa.
O bate-boca durou mais de uma hora e teve seu ponto alto em uma pesada troca de ofensas com Fernando Gabeira (PV-RJ), que chamou o presidente da Câmara de "um desastre para o país". Gabeira ouviu, em resposta, insultos de vários deputados fiéis a Severino por defender a descriminalização da maconha.
Severino Cavalcanti ocupou seu lugar à mesa da Câmara às 16h52 para ler um pronunciamento preparado por sua assessoria, já como resposta às críticas que sofria desde a manhã.
"Noticiário dos últimos dias tem mencionado uma suposta interveniência que conduzisse a uma operação abafa ou a uma pizza, para usar o linguajar informal que tem caracterizado tais notícias. Esta presidência repele veementemente tais assertivas", disse, no início de seu pronunciamento.
O presidente da Câmara, em sua defesa, não recuou de suas opiniões manifestadas à Folha. Concentrou-se em afirmar que seguirá o regimento e assegurará a todos os parlamentares citados o direito à defesa. "Enganam-se aqueles que pensam que deixarei levar inocentes ao cadafalso, apenas para, ao desvario, ouvir soar as trombetas."
Isso não significa, segundo ele, que haverá condescendência. "Esta presidência não hesitará em reunir todas as suas forças para punir exemplarmente aqueles que porventura tenham conspurcado o seu mandato."
Severino recorreu à sua biografia e lembrou que, quando exerceu o cargo de corregedor, pediu a cassação de oito deputados federais. "Portanto não sou leviano, irresponsável ou muito menos desequilibrado", disse, rebatendo adjetivos que recebeu durante o dia de ontem. Arrematou dizendo que seus acusadores agem de "má-fé".
Bastou ele silenciar para que uma tensa troca de acusações se iniciasse. O primeiro a pedir a palavra foi o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA). Fez uma ameaça velada, dizendo que a defesa que Severino fez, na entrevista, do deputado Ronivon Santiago (PP-AC) coloca o presidente como possível depoente numa CPI. "E não é nada agradável ver o presidente da Câmara depondo numa CPI", disse Aleluia, para quem Severino foi "extremamente infeliz na entrevista". "A Câmara está colocada na vala comum, jogada à execração pública."
O presidente da Câmara respondeu a Aleluia na hora. "Quando afirmei que não havia mensalão, acreditei no correligionário de V. Exª.", disse, em relação ao deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), que relatou o processo de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e disse não haver prova de "mensalão".
Carneiro deu o troco: "Severino está doido. Ele não conhecia o meu voto quando deu a entrevista, que foi feita antes", disse.
O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), disse que Severino tratou o caixa dois de forma "muito flexível". "O que lemos na Folha de S.Paulo de hoje é grave; não é bom para o Parlamento nem para a gestão de V.Exª. na Presidência da Casa."
Momento ainda mais tenso ocorreu quando Gabeira tomou a palavra. "V. Exª. está se comportando de maneira indigna", disse. Ele relembrou a iniciativa de Severino há cerca de cinco meses de interceder por uma destilaria pernambucana acusada de abrigar trabalhadores escravos.
"Estou apresentando a V.Exª. esta reclamação porque ainda não posso representar no Conselho de Ética. Mas afirmo que V.Exª. está em contradição com o Brasil. A sua presença na presidência da Câmara é um desastre para o Brasil e para a imagem do país. Ou V.Exª. começa a ficar calado, ou vamos iniciar um movimento para derrubá-lo", afirmou Gabeira.
Severino, visivelmente alterado, disse: "V. Exª. recolha-se à sua insignificância!". Depois, já fora do plenário, completou: "Ele [Gabeira] quer se afirmar como homem, mas não conseguiu ainda."
Gabeira acabou sendo atacado por outros deputados, que exploraram sua defesa da legalização da maconha. "Gabeira defende a legalização da maconha, erva maldita que tem destruído famílias, levado jovens para clínicas de recuperação, colaborado com assassinatos", disse Wladimir Costa (PMDB-PA).
Outro que saiu em defesa do presidente da Câmara foi o petista Devanir Ribeiro (SP), que disse que ninguém iria "destruir o passado de Severino". "V.Exª. terá minha solidariedade enquanto presidir esta Casa, enquanto não acatar o que a mídia quer que façamos aqui, ou seja, uma caça às bruxas", afirmou.


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