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ELEIÇÕES 2006 / CANDIDATOS NA FOLHA
Erros são do PT, não meus, diz Mercadante
Petista diz que não responde por irregularidades cometidas por colegas do partido e afirma que nunca fez uso de caixa 2
Em sabatina na Folha, candidato ao governo desafia Serra a travar com ele debate sobre educação e segurança pública no Estado
DA REPORTAGEM LOCAL
O senador Aloizio Mercadante, 52, candidato do PT ao governo de São Paulo, admitiu
ontem, ao ser sabatinado por
jornalistas da Folha, que o partido cometeu um grave erro
político durante o governo de
Luiz Inácio Lula da Silva. Diferentemente do presidente, ele
não demonstrou condescendência com colegas de partido
envolvidos com o mensalão.
Enquanto o presidente afirma que "nenhum companheiro
deixará de ser seu amigo porque cometeu um erro", Mercadante mostrou lógica distinta
de seu principal cabo eleitoral:
"Como Juscelino Kubitschek
vou repetir: o homem público
não tem que ter compromisso
com o erro. E eu não tenho
compromisso com o erro. Respondo pela minha história. Vocês nunca viram uma denúncia
em relação ao meu mandato
em 30 anos de vida pública".
Ao ser questionado sobre as
dívidas de campanha e declarações feitas pelo ex-tesoureiro
do PT Delúbio Soares -que revelou à CPI os esquemas de
caixa dois envolvendo o partido-, Mercadante, de novo, tem
opinião divergente de declaração já dada pelo presidente Lula: "Não acredito que todo
mundo faça. Não me inclua
nessa! Nunca tive envolvimento em qualquer denúncia".
Compulsivo com números e
muitas vezes atropelando as
perguntas, o petista voltou a
desafiar o principal adversário,
José Serra (PSDB), para um debate sobre educação e crescimento. Disse que Serra usa metodologias distintas para convencer que o Estado cresceu.
Mas foi convidado a deparar-se com uma tabela que consta
em seu próprio livro ("Brasil:
Primeiro Tempo") revelando
que o Brasil, no período 2003/
2004, teve crescimento do PIB
inferior ao mundial. Já no segundo mandato de Fernando
Henrique Cardoso (1999/
2002) a mesma tabela mostra
que o PIB nacional cresceu
mais que o mundial.
Veja as idéias do candidato
sobre os principais temas abordados na sabatina:
Caixa dois
Disse que as doações vêm de
empresários, profissionais liberais, de eventos, da militância. "Nunca tive dificuldades de
ter recursos para fazer a campanha. Sempre as pessoas quiseram contribuir com a minha
campanha. E eu sempre fui
muito rigoroso nessa questão
de campanha. Nunca saí de
campanha com dívidas."
Duda Mendonça
Argumentou que o publicitário, no depoimento à CPI, não o
incluiu no bloco do caixa dois.
"Era uma campanha presidencial, de governador, deputados
federais e estaduais e senador.
O estúdio é o mesmo, a equipe é
a mesma, a gravação é a mesma.
Nós declaramos R$ 2 milhões
só para a produtora de TV. Fora
a prestação de contas da minha
campanha. Se tinha saldo a pagar, era a nacional que se comprometeu. Sobre isso, a CPI
[dos Correios] se pronunciou.
Sobre a minha campanha eu
posso responder."
Mensaleiros na campanha
Alegou que há muitos parlamentares envolvidos em denúncias [mensalão e sanguessugas]. "A Justiça vai julgar se
houve crime ou não. Que houve
erro político do partido eu não
tenho nenhuma dúvida. E erro
grave. Ainda mais o PT, com a
história que tem, com a luta pela ética na política, não poderia
ter cometido esses erros. Espero que aprenda com os erros. É
muito grave. Como JK, vou repetir: o homem público não
tem que ter compromisso com
o erro. E eu não tenho compromisso com o erro. Respondo
pela minha história. Vocês
nunca viram denúncia em relação a meu mandato em 30 anos
de vida pública."
Maioria no Congresso
Convidou Lula a seguir o
exemplo do Senado, em que
matérias foram aprovadas com
debate, por mérito. "O Senado
foi um exemplo de uma atitude
parlamentar que temos que
construir num segundo governo Lula. Um governo de coalizão em que é melhor perder votação do que qualquer tipo de
risco que você pode correr em
relação a políticas que não sejam da transparência, do debate e da negociação."
Folha
Fez uma análise da cobertura
das eleições. "Tem que ser totalmente implacável com o PT.
Porque o PT sempre foi implacável com os outros. Agora, tem
que ter uma exigência democrática e republicana com todos. Não pode ter dois pesos e
duas medidas", disse.
"Vi um editorial fantástico,
do qual eu discordo, mas evidentemente muito bem escrito, como sempre, do Otavio
Frias Filho [o senador se referia ao artigo do diretor de Redação da Folha intitulado "Anistia para Lula", publicado na página 6 do caderno Brasil da última quinta-feira, dia 24]. Ele
diz que é imprescindível para a
democracia que haja segundo
turno em nível nacional. Vou
ler um trecho: "A experiência
mostra que só existe alguma
discussão de programas de governo no segundo turno, quando o presidente se desgasta demais se não participar de debates e a sociedade se galvaniza
em torno de duas personalidades, dois estilos, duas visões em
confronto". Por que não cita
São Paulo? Por que não se empenha em São Paulo para ter
segundo turno como se empenha em nível nacional? Qual é a
diferença? Estou falando da
Folha. Isso é Otavio Frias Filho. Ninguém tem mais peso na
Folha do que ele."
Em seguida, o senador citou
um trecho do ombudsman da
Folha, Marcelo Beraba: "O jornal tem compromisso com uma
cobertura isenta. A vigilância
do leitor deveria servir como
freios às tentações e alinhamento". Segundo Mercadante,
o ombudsman "tem feito advertências, inclusive em relação a esse editorial" [o artigo de
Frias Filho]. Continua o senador: "O ombudsman disse: "Já
apontei vários casos em que
considerei que o jornal perdeu
o equilíbrio. Isso não significa
uma objeção ao jornalismo crítico praticado pela Folha. Pelo
contrário. Em muitas ocasiões,
este princípio não está sendo
amplamente aplicado". O senador concluiu parabenizando "o
jornalismo crítico da Folha",
mas pediu "equilíbrio".
Serra
Alegou que a liderança de
Serra nas pesquisas se explica
pelo recall, ou seja, pelo fato de
o tucano ter disputado mais
eleições. "Meu adversário seguramente vai querer usar o governo como trampolim para
um projeto pessoal, como já fez
na prefeitura. Ele não vai levar.
Eu vou para o segundo turno e
vou ganhar essa eleição."
Segurança pública
Para o candidato, é uma crise
sem precedentes. "Esse colapso do sistema prisional decorre
dos graves erros de gestão que
foram se acumulando nesses 12
anos de PSDB. Me parece que o
caminho para superarmos esse
processo é, primeiro, a separação dos presos por grau de periculosidade em quatro níveis: os
primários, os reincidentes mas
não perigosos, os perigosos, e
os perigosos e chefes de facção", disse. Ele defendeu o Regime Disciplinar Diferenciado
e disse que presos de alta periculosidade têm que ficar isolados. "Com o crime organizado
não se negocia em nenhuma
circunstância, sob nenhuma
hipótese. Esse é um dos graves
erros que o governo de São Paulo vem fazendo."
Secretário de Segurança
Disse que precisa ser alguém
com um perfil técnico competente, vivência na área de segurança, com equilíbrio e atitude
republicana. "Seguramente esse [secretário, Saulo de Castro
Abreu Filho] que está aí não ficaria. Nunca teria entrado."
Marta Suplicy
Evitou se comprometer a
apoiar a candidatura da petista
à prefeitura em 2008, caso seja
derrotado nesta eleição. "A tese
de perder não está no meu
portfólio. Vou ganhar. Como
governador, ter uma prefeita
como Marta Suplicy é tudo o
que eu queria na minha vida.
Imagina a Marta voltando, eu
no governo do Estado e Lula na
Presidência", disse.
Aborto
Disse que a rede pública de
saúde deve oferecer o serviço
de aborto às mulheres. Ao final
da sabatina, afirmou que, pessoalmente, é contra o aborto.
"Sou favorável que a rede pública de saúde dê essa opção: que a
decisão da mulher seja tomada
em função de sua consciência."
Considera a união civil de homossexuais um direito constitucional. É a favor do voto obrigatório. O petista disse ser contra a pena de morte.
Pedágios/concessões
Disse que fará revisão nos
contratos, pois há abusos nas
tarifas. "Evidente que é possível rever [os contratos] e tem
que negociar. Porque são abusivos e prejudicam a competitividade de algumas regiões. As
pessoas pagam mais em pedágios que em combustíveis."
Educação
Disse que será prioridade em
seu governo e defende que todas as escolas públicas tenham
banda larga e laptop popular.
Equipe
Afirmou que ajudou Lula a
montar o ministério, e que é
preciso conciliar critérios técnicos com experiência política.
"Indiquei algumas pessoas. O
Furlan [Luiz Fernando Furlan,
ministro do Desenvolvimento],
fui eu que indiquei." Mencionou como escolhas acertadas
Gilberto Gil (Cultura), Henrique Meirelles (presidente do
Banco Central) e Paulo Lacerda
(diretor da Polícia Federal).
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