São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006 / CANDIDATOS NA FOLHA

Erros são do PT, não meus, diz Mercadante

Petista diz que não responde por irregularidades cometidas por colegas do partido e afirma que nunca fez uso de caixa 2

Em sabatina na Folha, candidato ao governo desafia Serra a travar com ele debate sobre educação e segurança pública no Estado


DA REPORTAGEM LOCAL

O senador Aloizio Mercadante, 52, candidato do PT ao governo de São Paulo, admitiu ontem, ao ser sabatinado por jornalistas da Folha, que o partido cometeu um grave erro político durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Diferentemente do presidente, ele não demonstrou condescendência com colegas de partido envolvidos com o mensalão.
Enquanto o presidente afirma que "nenhum companheiro deixará de ser seu amigo porque cometeu um erro", Mercadante mostrou lógica distinta de seu principal cabo eleitoral: "Como Juscelino Kubitschek vou repetir: o homem público não tem que ter compromisso com o erro. E eu não tenho compromisso com o erro. Respondo pela minha história. Vocês nunca viram uma denúncia em relação ao meu mandato em 30 anos de vida pública".
Ao ser questionado sobre as dívidas de campanha e declarações feitas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares -que revelou à CPI os esquemas de caixa dois envolvendo o partido-, Mercadante, de novo, tem opinião divergente de declaração já dada pelo presidente Lula: "Não acredito que todo mundo faça. Não me inclua nessa! Nunca tive envolvimento em qualquer denúncia".
Compulsivo com números e muitas vezes atropelando as perguntas, o petista voltou a desafiar o principal adversário, José Serra (PSDB), para um debate sobre educação e crescimento. Disse que Serra usa metodologias distintas para convencer que o Estado cresceu.
Mas foi convidado a deparar-se com uma tabela que consta em seu próprio livro ("Brasil: Primeiro Tempo") revelando que o Brasil, no período 2003/ 2004, teve crescimento do PIB inferior ao mundial. Já no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999/ 2002) a mesma tabela mostra que o PIB nacional cresceu mais que o mundial.
Veja as idéias do candidato sobre os principais temas abordados na sabatina:

Caixa dois
Disse que as doações vêm de empresários, profissionais liberais, de eventos, da militância. "Nunca tive dificuldades de ter recursos para fazer a campanha. Sempre as pessoas quiseram contribuir com a minha campanha. E eu sempre fui muito rigoroso nessa questão de campanha. Nunca saí de campanha com dívidas."

Duda Mendonça
Argumentou que o publicitário, no depoimento à CPI, não o incluiu no bloco do caixa dois. "Era uma campanha presidencial, de governador, deputados federais e estaduais e senador. O estúdio é o mesmo, a equipe é a mesma, a gravação é a mesma. Nós declaramos R$ 2 milhões só para a produtora de TV. Fora a prestação de contas da minha campanha. Se tinha saldo a pagar, era a nacional que se comprometeu. Sobre isso, a CPI [dos Correios] se pronunciou. Sobre a minha campanha eu posso responder."

Mensaleiros na campanha
Alegou que há muitos parlamentares envolvidos em denúncias [mensalão e sanguessugas]. "A Justiça vai julgar se houve crime ou não. Que houve erro político do partido eu não tenho nenhuma dúvida. E erro grave. Ainda mais o PT, com a história que tem, com a luta pela ética na política, não poderia ter cometido esses erros. Espero que aprenda com os erros. É muito grave. Como JK, vou repetir: o homem público não tem que ter compromisso com o erro. E eu não tenho compromisso com o erro. Respondo pela minha história. Vocês nunca viram denúncia em relação a meu mandato em 30 anos de vida pública."

Maioria no Congresso
Convidou Lula a seguir o exemplo do Senado, em que matérias foram aprovadas com debate, por mérito. "O Senado foi um exemplo de uma atitude parlamentar que temos que construir num segundo governo Lula. Um governo de coalizão em que é melhor perder votação do que qualquer tipo de risco que você pode correr em relação a políticas que não sejam da transparência, do debate e da negociação."

Folha
Fez uma análise da cobertura das eleições. "Tem que ser totalmente implacável com o PT. Porque o PT sempre foi implacável com os outros. Agora, tem que ter uma exigência democrática e republicana com todos. Não pode ter dois pesos e duas medidas", disse.
"Vi um editorial fantástico, do qual eu discordo, mas evidentemente muito bem escrito, como sempre, do Otavio Frias Filho [o senador se referia ao artigo do diretor de Redação da Folha intitulado "Anistia para Lula", publicado na página 6 do caderno Brasil da última quinta-feira, dia 24]. Ele diz que é imprescindível para a democracia que haja segundo turno em nível nacional. Vou ler um trecho: "A experiência mostra que só existe alguma discussão de programas de governo no segundo turno, quando o presidente se desgasta demais se não participar de debates e a sociedade se galvaniza em torno de duas personalidades, dois estilos, duas visões em confronto". Por que não cita São Paulo? Por que não se empenha em São Paulo para ter segundo turno como se empenha em nível nacional? Qual é a diferença? Estou falando da Folha. Isso é Otavio Frias Filho. Ninguém tem mais peso na Folha do que ele."
Em seguida, o senador citou um trecho do ombudsman da Folha, Marcelo Beraba: "O jornal tem compromisso com uma cobertura isenta. A vigilância do leitor deveria servir como freios às tentações e alinhamento". Segundo Mercadante, o ombudsman "tem feito advertências, inclusive em relação a esse editorial" [o artigo de Frias Filho]. Continua o senador: "O ombudsman disse: "Já apontei vários casos em que considerei que o jornal perdeu o equilíbrio. Isso não significa uma objeção ao jornalismo crítico praticado pela Folha. Pelo contrário. Em muitas ocasiões, este princípio não está sendo amplamente aplicado". O senador concluiu parabenizando "o jornalismo crítico da Folha", mas pediu "equilíbrio".

Serra
Alegou que a liderança de Serra nas pesquisas se explica pelo recall, ou seja, pelo fato de o tucano ter disputado mais eleições. "Meu adversário seguramente vai querer usar o governo como trampolim para um projeto pessoal, como já fez na prefeitura. Ele não vai levar. Eu vou para o segundo turno e vou ganhar essa eleição."

Segurança pública
Para o candidato, é uma crise sem precedentes. "Esse colapso do sistema prisional decorre dos graves erros de gestão que foram se acumulando nesses 12 anos de PSDB. Me parece que o caminho para superarmos esse processo é, primeiro, a separação dos presos por grau de periculosidade em quatro níveis: os primários, os reincidentes mas não perigosos, os perigosos, e os perigosos e chefes de facção", disse. Ele defendeu o Regime Disciplinar Diferenciado e disse que presos de alta periculosidade têm que ficar isolados. "Com o crime organizado não se negocia em nenhuma circunstância, sob nenhuma hipótese. Esse é um dos graves erros que o governo de São Paulo vem fazendo."

Secretário de Segurança
Disse que precisa ser alguém com um perfil técnico competente, vivência na área de segurança, com equilíbrio e atitude republicana. "Seguramente esse [secretário, Saulo de Castro Abreu Filho] que está aí não ficaria. Nunca teria entrado."

Marta Suplicy
Evitou se comprometer a apoiar a candidatura da petista à prefeitura em 2008, caso seja derrotado nesta eleição. "A tese de perder não está no meu portfólio. Vou ganhar. Como governador, ter uma prefeita como Marta Suplicy é tudo o que eu queria na minha vida. Imagina a Marta voltando, eu no governo do Estado e Lula na Presidência", disse.

Aborto
Disse que a rede pública de saúde deve oferecer o serviço de aborto às mulheres. Ao final da sabatina, afirmou que, pessoalmente, é contra o aborto. "Sou favorável que a rede pública de saúde dê essa opção: que a decisão da mulher seja tomada em função de sua consciência." Considera a união civil de homossexuais um direito constitucional. É a favor do voto obrigatório. O petista disse ser contra a pena de morte.

Pedágios/concessões
Disse que fará revisão nos contratos, pois há abusos nas tarifas. "Evidente que é possível rever [os contratos] e tem que negociar. Porque são abusivos e prejudicam a competitividade de algumas regiões. As pessoas pagam mais em pedágios que em combustíveis."

Educação
Disse que será prioridade em seu governo e defende que todas as escolas públicas tenham banda larga e laptop popular.

Equipe
Afirmou que ajudou Lula a montar o ministério, e que é preciso conciliar critérios técnicos com experiência política. "Indiquei algumas pessoas. O Furlan [Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento], fui eu que indiquei." Mencionou como escolhas acertadas Gilberto Gil (Cultura), Henrique Meirelles (presidente do Banco Central) e Paulo Lacerda (diretor da Polícia Federal).


Texto Anterior: Alagoas: Com parentes como suplentes, Collor inscreve chapa para o Senado
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.