São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Decisão está sob "suspeição", diz Dirceu

Réu no processo do mensalão, ex-ministro de Lula se diz inocente, aponta "pré-julgamento" no STF e vê "ditadura da mídia"

Ex-deputado afirma que não irá usar juridicamente o caso do telefonema de Lewandowski, revelado pela Folha, em sua defesa

Caio Guatelli/Folha Imagem
José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil de Lula, mostra a manchete da Folha, ontem, em entrevista coletiva, em hotel de São Paulo


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-ministro José Dirceu (PT) afirmou ontem, em São Paulo, considerar "sob suspeição" a decisão do Supremo de processá-lo por formação de quadrilha e corrupção ativa na ação penal do mensalão.
A declaração de Dirceu foi feita com base na revelação pela Folha de que o ministro do tribunal Ricardo Lewandowski, ao telefone, afirmou que "a imprensa acuou o Supremo" na análise do mensalão.
Segundo ele, citado por Lewandowski ("tendência era amaciar para o Dirceu"), a revelação indica um "pré-julgamento" do caso.
"Pela minha situação [de réu], evidentemente, eu tenho que medir as palavras. Mas estou entre perplexo, estupefato e quase entrando em pânico ao ler uma manchete dessas. Quem vai defender a Constituição e a República? (...) Como vocês acham que eu me sinto? No mínimo, está sob suspeição o julgamento", disse ele, com um exemplar do jornal na mão, durante entrevista coletiva em um hotel da capital paulista.
O petista, deputado federal cassado na esteira do escândalo do mensalão, em 2005, evocou também o episódio da troca de mensagens entre os ministros do STF, também durante o julgamento e também revelado pela imprensa, para reforçar sua defesa e pedir esclarecimentos do tribunal. "Em outro país, talvez ele fosse suspenso."
Ele disse temer pelo seu futuro na ação, "porque quer um julgamento justo", mas afirmou não pretender utilizar juridicamente o caso em sua defesa. "Quem deve fazer essa discussão é a sociedade brasileira." Dirceu disse ainda que não é amigo do ministro."Não tenho relação com ele."

Ditadura da mídia
Alegando inocência no mensalão, Dirceu disse que pode "responder ao voto de cada ministro" contra ele, mas que irá fazer isso no processo.
"Não há prova [contra mim]. Dizer que uma funcionária da Casa Civil disse que eu recebia parlamentares beira o ridículo. A minha convicção e a do meu advogado é de que nos temos elementos suficientes para provar minha inocência."
Como de costume, ele atacou "a mídia", não pela revelação dos diálogos, mas pela "pressão" apontada por Lewandowski, e foi irônico com os jornalistas quando questionado se isso seria suficiente para que o STF decidisse por processá-lo.
"A mídia no Brasil não tem poder nenhum, né? Estou com dó da mídia. Nós estamos caminhando quase para uma ditadura da mídia. O que não quer dizer que os jornais não sejam pluralistas." E defendeu o controle do meios de comunicação. O ex-ministro elogiou Lula e criticou os governadores tucanos José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas).
"Nem o presidente Lula nem o PT estão sendo julgados [pelo STF]." Para Dirceu, a análise do braço do mensalão que envolve o senador Eduaro Azeredo (PSDB-MG) não será sob pressão da imprensa.
"Basta ver o caso da CDHU [empresa do governo paulista] em São Paulo. Um escândalo sem precedentes, ninguém está investigando [na imprensa]."
O Ministério Público e a Polícia Civil apuram acusações de desvios de recursos na CDHU.
Sobre o 3º Congresso do PT, que começa hoje em São Paulo, Dirceu defendeu a candidatura própria do partido à sucessão de Lula em 2010.


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