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Relatores pedem a cassação de Renan por falta de decoro
Aliado de Renan, no entanto, recomenda o arquivamento do caso no Conselho de Ética
Em uma prévia da votação final do caso, os integrantes do conselho aprovaram por 10 a 5 que a votação será aberta, um revés para Renan
SILVIO NAVARRO
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma sessão tumultuada e
marcada por troca de insultos e
manobras regimentais, com oito horas de duração, os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) apresentaram ontem parecer ao Conselho de Ética do
Senado que recomenda a cassação do mandato do presidente
da Casa, Renan Calheiros
(PMDB-AL), por quebra do decoro parlamentar.
O presidente do conselho,
Leomar Quintanilha (PMDB-TO), tentou manobrar até o final do dia para que a votação
fosse secreta, mas foi derrotado
por um recurso da oposição.
Em uma prévia da votação final do caso, os integrantes do
conselho aprovaram por 10 a 5
que a votação será aberta, um
revés para Renan. Devido a um
pedido de vista feito pelos integrantes do PMDB, a votação foi
adiada para quarta-feira.
Se for aprovado, o texto vai à
Comissão de Constituição e
Justiça e, depois, segue para votação em plenário. Na decisão
sobre a votação aberta, dois petistas se alinharam com a tropa
de choque de Renan: João Pedro (AM) e Fátima Cleide (RO),
seguindo orientação do Palácio
do Planalto. Já os senadores
Eduardo Suplicy (PT-SP) e Augusto Botelho (PT-RR), que são
independentes, seguiram a
oposição e foram contrários.
O texto que sugere a perda do
mandato de Renan é incisivo:
"Resgatar a credibilidade do
Senado será tarefa difícil, mas a
medida que ora se impõe é o
corte na própria carne, a punição de seu mais alto representante, que incorreu em quebra
de decoro parlamentar".
O terceiro relator do caso, Almeida Lima (PMDB-SE), aliado de Renan, apresentou um
relatório alternativo pedindo o
arquivamento do processo. Para esse documento ser aprovado, é preciso que os conselheiros derrubem antes, no voto, o
parecer pela cassação.
As 70 páginas do parecer de
Casagrande e Marisa têm como
eixo os seguintes pontos que
caracterizariam a quebra de decoro. São eles: 1) a relação "conflituosa" de Renan com o lobista Cláudio Gontijo; 2) não há
provas dos pagamentos da pensão de R$ 12 mil mensais à jornalista Mônica Veloso; 3) irregularidades fiscais; 4) irregularidades bancárias; 5) uso da
verba indenizatória para inflar
patrimônio; 6) cheques apresentados para justificar pagamento da pensão foram usados
em despesas nas fazendas; 7)
falta credibilidade na existência dos empréstimos com a locadora Costa Dourada. O relatório foi permeado com a acusação de que Renan mentiu durante o processo, o que também
é considerado falta de decoro.
"O que se extrai dos autos é a
dissimulação, a negação da verdade. À medida que as investigações avançavam e novos fatos surgiam, diferentes versões
eram apresentadas, por meio
de documentos que não comprovam a versão apresentada
pelo representado. O exemplo
do empréstimo é bastante elucidativo", diz o texto.
O relatório lista ainda outros
agravantes, como divergências
entre GTAs (guia para transportar gado) e notas fiscais, irregularidades nas vendas ao frigorífico Mafrial e a não-comprovação da evolução do rebanho nas fazendas.
Também é direto ao abordar
o suposto pagamento da pensão: "O representado não conseguiu fazer o esclarecimento
pleno da existência e do caminho percorrido pelo dinheiro
que alegou possuir para pagar
suas despesas".
O texto revelou um aspecto
novo, não abordado pela perícia da PF. Um cruzamento do
Imposto de Renda com a documentação mostra que os cheques apresentados para explicar "saques em dinheiro" para
pagar a pensão na verdade foram usados para custear despesas com suas fazendas, em
2004, de mais de R$ 550 mil.
Renan chegou ao Congresso
no início da tarde e não deu entrevistas. Seu advogado, Eduardo Ferrão, fez sua defesa. "Não
me recordo na história de alguém que tenha passado por
um massacre, uma chacina dessa envergadura", afirmou.
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