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DESAPARECIDOS
Recado de Jobim foi "afronta desnecessária", dizem oficiais
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Os comandos militares
classificaram a ameaça feita
anteontem pelo ministro da
Defesa, Nelson Jobim, como
"afronta desnecessária", já
que Exército, Marinha e Aeronáutica não pretendiam
soltar nenhuma nota nem
dar entrevistas sobre o livro-relatório "Direito à Memória
e à Verdade", sobre torturas
e mortes no regime militar.
No seu discurso, durante o
lançamento do livro, no Planalto, Jobim disse que "não
haverá indivíduo que possa
reagir [ao livro] e, se houver,
terá resposta". A fala foi considerada um recado aos militares, que vinham reclamando, mas só internamente, de
o governo ter assumido o livro como texto de Estado. Os
comandantes não foram
convidados para o evento
-se fossem, nenhum iria.
Os militares consideraram
o discurso do presidente Lula como "moderado" e "apropriado", e disseram não entender por que Jobim tinha
de adotar um tom agressivo,
se a solenidade em si já era
sentida como um ataque.
"Doeu", disse um militar ouvido pela Folha. Isso pode
criar constrangimentos nas
relações do ministro com os
oficiais, mas a decisão dos
comandantes é agir com
"disciplina" e prosseguir
com as reuniões sobre reaparelhamento das Forças.
Eles também elogiaram o
discurso do secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que agradeceu a colaboração recente das três
Forças para esclarecer fatos
e denúncias sobre a tortura e
morte de presos políticos.
A posição do Exército
quanto à promessa de Lula
de criar uma comissão para
encontrar os restos mortais
dos ainda hoje desaparecidos da guerrilha do Araguaia
é de descrença. Oficiais lembravam ontem que desde o
primeiro ministro da Defesa,
José Viegas, há empenho das
três Forças de identificar os
locais dos corpos, sem êxito.
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