São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DESAPARECIDOS

Recado de Jobim foi "afronta desnecessária", dizem oficiais

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Os comandos militares classificaram a ameaça feita anteontem pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, como "afronta desnecessária", já que Exército, Marinha e Aeronáutica não pretendiam soltar nenhuma nota nem dar entrevistas sobre o livro-relatório "Direito à Memória e à Verdade", sobre torturas e mortes no regime militar.
No seu discurso, durante o lançamento do livro, no Planalto, Jobim disse que "não haverá indivíduo que possa reagir [ao livro] e, se houver, terá resposta". A fala foi considerada um recado aos militares, que vinham reclamando, mas só internamente, de o governo ter assumido o livro como texto de Estado. Os comandantes não foram convidados para o evento -se fossem, nenhum iria.
Os militares consideraram o discurso do presidente Lula como "moderado" e "apropriado", e disseram não entender por que Jobim tinha de adotar um tom agressivo, se a solenidade em si já era sentida como um ataque. "Doeu", disse um militar ouvido pela Folha. Isso pode criar constrangimentos nas relações do ministro com os oficiais, mas a decisão dos comandantes é agir com "disciplina" e prosseguir com as reuniões sobre reaparelhamento das Forças.
Eles também elogiaram o discurso do secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que agradeceu a colaboração recente das três Forças para esclarecer fatos e denúncias sobre a tortura e morte de presos políticos.
A posição do Exército quanto à promessa de Lula de criar uma comissão para encontrar os restos mortais dos ainda hoje desaparecidos da guerrilha do Araguaia é de descrença. Oficiais lembravam ontem que desde o primeiro ministro da Defesa, José Viegas, há empenho das três Forças de identificar os locais dos corpos, sem êxito.


Texto Anterior: Depois de nova acusação contra senador, PF abre investigação
Próximo Texto: Protesto: "Cansei" faz críticas à gestão pública
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.