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Marinha prioriza submarino de propulsão nuclear
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A descoberta das jazidas de
petróleo do pré-sal trouxe a
Marinha a um protagonismo
nas discussões do Plano Nacional de Defesa que antes era reservado à Aeronáutica. Mas tal
importância até aqui não se traduziu em coerência estratégica.
Tudo passa pelo fetiche
maior dos almirantes brasileiros hoje, o submarino nuclear,
um projeto que começou em
1979. Para o Ministério da Defesa, o submarino ganha nova
prioridade e é encaixado na
ainda incerta parceria a ser definida com a França.
Assim, a primeira vítima foi
um acordo vigente desde 1982
entre Brasil e estaleiros alemães, que capacitou o país a
construir a duras penas seus
próprios submarinos convencionais. Em 2006, a Marinha
definiu que sua nova geração de
submarinos convencionais teria base no sucessor do modelo
atual, o Tipo-209, o Tipo-214.
Agora, segundo a Defesa, a escolha deverá recair sobre o
Scorpène francês -derrotado
na competição de 2006.
Os alemães dominam 80%
do mercado de submarinos do
Ocidente em unidades vendidas desde 1985, e o Scorpène
não é usado pela França nem
por nenhuma Marinha da Otan
(aliança militar ocidental). O
Chile tem duas unidades -que,
segundo a imprensa local, enfrentam problemas técnicos-,
a Malásia tem outros dois e a
Índia contratou a fabricação local de seis unidades -mas vem
criticando a França por atrasos
na transferência tecnológica.
Em nota, a Marinha dá o motivo da escolha: o submarino
nuclear. Informa que a idéia é
associar-se a quem detenha
tecnologia de construção de
aparelhos convencionais e nucleares, caso dos franceses, mas
não dos alemães. Mas aí entra
uma questão conceitual: todo o
discurso político até aqui é o de
que o submarino nuclear é necessário para proteger as riquezas sob as águas territoriais do
Brasil. Isso não é correto.
Problemas
Um submarino nuclear é
muito maior, deslocando em
média 7.000 toneladas, contra
entre 1.500 e 2.000 toneladas
de um convencional. Logo, é
mais visível a sonares. É muito
mais barulhento devido a seu
intrincado mecanismo de dispersão de calor do reator. E esse calor, 80% da energia do submarino, é jogado para fora, facilitando sua detecção.
Quando opera em grandes
profundidades, tudo bem: isso
tudo é compensado pela maior
velocidade e capacidade de ficar longe de sua base por meses. Mas num ambiente costeiro, de águas não tão profundas,
a vantagem se dissipa. O maior
problema apontado pela Marinha é a menor velocidade e a
necessidade que os modelos
convencionais (de motor diesel-elétrico) têm de subir à superfície para "respirar", acionar seus motores e recarregar
as baterias, o que os deixam
vulneráveis. E o diesel acaba, ao
contrário da energia nuclear.
Mas com a costa ali ao lado, e
inúmeros portos à disposição, o
argumento perde força. E os
modelos diesel-elétricos mais
modernos (o Tipo-214 e o Scorpène) podem ser equipados
com uma unidade de propulsão
baseada em hidrogênio líquido,
que aumenta seu período submerso. Mas é algo caro (US$ 40
por milha náutica viajada, contra US$ 6 no caso das baterias).
Segundo o almirante da reserva Mario Cesar Flores, uma
das maiores autoridades em assuntos militares do país, o submarino nuclear é defensável.
"Será útil para a defesa distante
do Brasil, caso venhamos a ter
problema com potências navais
poderosas, improvável no horizonte de tempo hoje imaginável, mas não decididamente
impossível no longo prazo. É
claro que o submarino nuclear
tem potencial ofensivo, mas
não visualizo razão de uso desse potencial ofensivo pelo Brasil, visualizo-o sim na defesa
distante, basicamente como fator de dissuasão e até na defesa
efetiva, se a dissuasão não funcionar."
(IGOR GIELOW)
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