São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2001

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LOBBY EM BRASÍLIA

Empresário diz que, de denunciante, virou denunciado ao relatar suposta extorsão

Lobista vê perseguição da Saúde

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

O empresário Alexandre Paes dos Santos, 47, por meio de seu advogado Felipe Amodeo, está entrando com um recurso na Justiça Federal, em Brasília, pedindo a suspensão da quebra de seu sigilo telefônico, autorizada em um processo no qual é acusado de tentativa de extorsão contra o Ministério da Saúde.
Santos, que nega a qualificação de lobista e se apresenta como consultor de empresas, diz que está sofrendo uma perseguição injusta por parte do Ministério Público Federal e coloca em suspeição o comportamento do ministro da Saúde, José Serra, e de seu assessor de imprensa, João Roberto Vieira da Costa.
O procurador Marcelo Antonio Ceará Serra Azul, o ministro e o assessor, segundo Santos, estariam invertendo a situação. No lugar de investigarem sua denúncia de que existiria no ministério um esquema para forçar empresários a colaborar com a caixa de campanha presidencial de Serra, ele, Santos, é que passou a ser investigado por supostamente levantar suspeitas que visam obter benefícios para seus clientes.
O esquema do ministério seria, segundo o advogado Felipe Amodeo, um crime de concussão (extorsão ou peculato cometidos por servidor público no exercício da função). A acusação contra Santos é de tentativa de extorsão.

Apreensão
Na investigação determinada pelo procurador, a pedido do ministro, fitas de vídeo, fitas com gravações de conversas e a agenda de Santos foram apreendidas em seu escritório, o que ele considera um procedimento ilegal, que acabou expondo suas relações com clientes e personagens do mundo político. Agora, ao tentar evitar a quebra de sigilo telefônico, ele quer parar com o processo de exposição de sua vida empresarial.
Além dessa medida, o advogado de Santos vai entrar com uma correição judicial, visando anular a decisão da Justiça que autorizou a busca e apreensão de provas em seu escritório. Outra ação quer que seja identificado o servidor que permitiu que a imprensa tivesse acesso ao conteúdo da agenda de Santos, pois o processo, a pedido do próprio Ministério Público, corre em segredo de Justiça.
Conforme seu relato ontem, no escritório de Amodeo no Rio, Santos diz que teve uma conversa informal, em 6 de setembro passado, com a jornalista Alba Chacon, na qual, questionado por ela, teria dito que ouviu em São Paulo conversas de empresários do setor farmacêutico sobre as supostas pressões para apoiarem Serra.
Na ocasião, Alba estaria no escritório de Santos, em Brasília, contratada para um projeto que envolve uma concorrência para o Ministério da Aeronáutica. A jornalista, diz o empresário, perguntou a ele por que estaria interessada em manter seus próprios negócios de prestação de serviços para o Ministério da Saúde.

Viagem
A partir daí, afirma ele, começou uma série de fatos estranhos que o colocaram no lugar de investigado e não de fonte da denúncia. No dia 19 de setembro, Alba teria procurado o assessor de Serra para contar o que ouviu de Santos. No dia 25, o assessor teria ligado para ele, procurando fazer um contato para que Santos detalhasse a denúncia.
"Se o caso era tão sério, por que só no dia 25 eu fui procurado pelo Bob?", diz Santos, referindo-se ao apelido de João Roberto Vieira da Costa. Naquele dia, o empresário teria dito ao assessor que não poderia conversar, pois estava viajando a negócios ao Chile. No dia seguinte, já em Santiago, diz Santos, havia quatro telefonemas de Costa o procurando.
"Eu liguei para o assessor, em Brasília, e disse a ele que só poderia conversar com maiores detalhes quando voltasse da viagem, cinco dias depois", afirma o empresário. Essa conversa, que durou alguns minutos, foi gravada pelo assessor e, junto com um relatório escrito por Vieira da Costa sobre suas conversas com Alba, formam os documentos que dão origem ao pedido do Ministério Público para abertura de inquérito na Polícia Federal e para o processo na Justiça Federal.
A quebra do sigilo telefônico, determinada pela Justiça, serviria para confirmar a existência dessa ligação entre o empresário e o assessor. "Não precisa quebrar meu sigilo para confirmar uma coisa que eu não nego", diz Santos.
"Não queremos obstruir a Justiça, mas evitar expor um empresário que é a fonte da acusação e não o acusado", diz Felipe Amodeo.



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