|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LOBBY EM BRASÍLIA
Empresário diz que, de denunciante, virou denunciado ao relatar suposta extorsão
Lobista vê perseguição da Saúde
ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO
O empresário Alexandre Paes
dos Santos, 47, por meio de seu
advogado Felipe Amodeo, está
entrando com um recurso na Justiça Federal, em Brasília, pedindo
a suspensão da quebra de seu sigilo telefônico, autorizada em um
processo no qual é acusado de
tentativa de extorsão contra o Ministério da Saúde.
Santos, que nega a qualificação
de lobista e se apresenta como
consultor de empresas, diz que está sofrendo uma perseguição injusta por parte do Ministério Público Federal e coloca em suspeição o comportamento do ministro da Saúde, José Serra, e de seu
assessor de imprensa, João Roberto Vieira da Costa.
O procurador Marcelo Antonio
Ceará Serra Azul, o ministro e o
assessor, segundo Santos, estariam invertendo a situação. No lugar de investigarem sua denúncia
de que existiria no ministério um
esquema para forçar empresários
a colaborar com a caixa de campanha presidencial de Serra, ele,
Santos, é que passou a ser investigado por supostamente levantar
suspeitas que visam obter benefícios para seus clientes.
O esquema do ministério seria,
segundo o advogado Felipe Amodeo, um crime de concussão (extorsão ou peculato cometidos por
servidor público no exercício da
função). A acusação contra Santos é de tentativa de extorsão.
Apreensão
Na investigação determinada
pelo procurador, a pedido do ministro, fitas de vídeo, fitas com
gravações de conversas e a agenda
de Santos foram apreendidas em
seu escritório, o que ele considera
um procedimento ilegal, que acabou expondo suas relações com
clientes e personagens do mundo
político. Agora, ao tentar evitar a
quebra de sigilo telefônico, ele
quer parar com o processo de exposição de sua vida empresarial.
Além dessa medida, o advogado
de Santos vai entrar com uma correição judicial, visando anular a
decisão da Justiça que autorizou a
busca e apreensão de provas em
seu escritório. Outra ação quer
que seja identificado o servidor
que permitiu que a imprensa tivesse acesso ao conteúdo da agenda de Santos, pois o processo, a
pedido do próprio Ministério Público, corre em segredo de Justiça.
Conforme seu relato ontem, no
escritório de Amodeo no Rio,
Santos diz que teve uma conversa
informal, em 6 de setembro passado, com a jornalista Alba Chacon, na qual, questionado por ela,
teria dito que ouviu em São Paulo
conversas de empresários do setor farmacêutico sobre as supostas pressões para apoiarem Serra.
Na ocasião, Alba estaria no escritório de Santos, em Brasília,
contratada para um projeto que
envolve uma concorrência para o
Ministério da Aeronáutica. A jornalista, diz o empresário, perguntou a ele por que estaria interessada em manter seus próprios negócios de prestação de serviços
para o Ministério da Saúde.
Viagem
A partir daí, afirma ele, começou uma série de fatos estranhos
que o colocaram no lugar de investigado e não de fonte da denúncia. No dia 19 de setembro,
Alba teria procurado o assessor
de Serra para contar o que ouviu
de Santos. No dia 25, o assessor teria ligado para ele, procurando fazer um contato para que Santos
detalhasse a denúncia.
"Se o caso era tão sério, por que
só no dia 25 eu fui procurado pelo
Bob?", diz Santos, referindo-se ao
apelido de João Roberto Vieira da
Costa. Naquele dia, o empresário
teria dito ao assessor que não poderia conversar, pois estava viajando a negócios ao Chile. No dia
seguinte, já em Santiago, diz Santos, havia quatro telefonemas de
Costa o procurando.
"Eu liguei para o assessor, em
Brasília, e disse a ele que só poderia conversar com maiores detalhes quando voltasse da viagem,
cinco dias depois", afirma o empresário. Essa conversa, que durou alguns minutos, foi gravada
pelo assessor e, junto com um relatório escrito por Vieira da Costa
sobre suas conversas com Alba,
formam os documentos que dão
origem ao pedido do Ministério
Público para abertura de inquérito na Polícia Federal e para o processo na Justiça Federal.
A quebra do sigilo telefônico,
determinada pela Justiça, serviria
para confirmar a existência dessa
ligação entre o empresário e o assessor. "Não precisa quebrar meu
sigilo para confirmar uma coisa
que eu não nego", diz Santos.
"Não queremos obstruir a Justiça, mas evitar expor um empresário que é a fonte da acusação e não
o acusado", diz Felipe Amodeo.
Texto Anterior: Cronologia Próximo Texto: Outro lado: Assessor de Serra diz que interesse foi o de apurar Índice
|