São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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FHC diz "esqueçam que governei", afirma Genoino

KENNEDY ALENCAR EM SÃO PAULO

O presidente do PT, José Genoino, afirma que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está dizendo "esqueçam que governei e como governei" ao falar que o PSDB mudaria a economia se o partido tivesse obtido um terceiro mandato em 2002.
"FHC teve oito anos para mudar. Fez as políticas econômica e social que quis. O resultado foi um estrondoso aumento da dívida pública e do desemprego", diz Genoino em entrevista à Folha. FHC foi presidente por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002).
O presidente do PT rebate as críticas tucanas de que o PT é um partido autoritário e patrimonialista (aparelha o Estado com militantes, por exemplo). Afirma que o resultado do governo FHC foi um patrimonialismo com "o setor privado monopolista".
"O PT é um partido democrático e republicano, nem está aparelhando o Estado. O governo FHC, sim, praticou um patrimonialismo nas privatizações, usando financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), moedas podres e regras não muito claras, como na área de energia elétrica", declara Genoino.
Diz que o PT não foi para o "vale-tudo" nas eleições e que foi mais flexível com o PSDB do que vice-versa. Afirma que petistas apoiaram apoiaram candidatos do PSDB em 275 cidades. A contrapartida do PSDB veio em 131 municípios.
Dizendo que não teme enfrentar o PSDB na sucessão presidencial de 2006, afirma ser um debate "precipitado". Afirma que os tucanos erraram ao prever que o governo Lula seria um "desastre". Fala que, no Congresso, o PT tratará o PSDB como oposição, mas com "respeito". A seguir, os principais trechos da entrevista, feita ontem por telefone:
 
Folha - FHC diz que o resultado das eleições mostra que não há um partido dominante e que o PSDB "está bem situado" e "será competitivo" na sucessão presidencial de 2006. O PSDB assusta o PT?
José Genoino - O PSDB não nos assusta. É precipitado fazer conclusões para 2006. O PT, por exemplo, é o primeiro partido em número de votos nestas eleições. No Congresso, temos uma agenda para desenvolvimento econômico que será retomada fortemente. Vamos consolidar os avanços econômicos e sociais nos próximos dois anos. O PT será muito competitivo.
Na disputa com o PSDB, fomos vitoriosos em 2002. As projeções que ele fizeram para o governo do Lula, de dificuldades na economia, na política externa, na área social, não se realizaram. Agora, recorrem a discurso anti-petista.
Folha - As duras disputas com o PSDB vão inviabilizar um diálogo no Congresso após as eleições?
Genoino - Não. Vamos tratar o PSDB como partido de oposição, mas com respeito. Com negociações pontuais. Nestas eleições, o PT foi muito mais flexível com o PSDB do que os tucanos com os petistas. O PT apoiou tucanos em 275 cidades. O PSDB apoiou petistas em 131.
Folha - Para FHC, o PT refaz o patrimonialismo, ao aparelhar o Estado, mas ele não chega a dizer que o partido é refratário à vida republicana. Morde e assopra.
Genoino - O PT é um partido democrático e republicano, nem está aparelhando o Estado. O governo FHC, sim, praticou um patrimonialismo nas privatizações, usando financiamentos do BNDES, moedas podres e regras não muito claras, como na área de energia elétrica. Foi o governo em que mais cresceu a dívida pública. O resumo disso foi um patrimonialismo com o setor privado monopolista.
O PT faz o contrário. Recupera o Estado e as empresas estatais sem volta ao passado.
Folha - FHC diz que Marta não "empolgou o povo"...
Genoino - Ele está cometendo um erro ao cantar vitória antes do tempo. As pesquisas mostram que Marta terá grande votação em São Paulo e que a eleição não está decidida. A votação no primeiro turno mostrou que o povo mais carente votou nela, que fez um governo de reconstrução e civilizatório em São Paulo.
Já o PSDB, que está há 10 anos no poder em São Paulo, não tem marcas nas áreas de segurança, de saúde, de projetos sociais. O que eles fizeram?
Folha - O ex-presidente diz que "ímpetos autoritários" do PT são antigos e não surpreenderam. Fala ainda que esperava mais na área social.
Genoino - FHC está sofismando ao falar de autoritarismo do PT. Ele teve obsessão pela reeleição, mudando a regra do jogo no meio do jogo, o que não tem nada de democrático.
O governo Lula é um governo que negocia com os empresários, com o Congresso, com os trabalhadores, com os governadores e prefeitos. Não criminaliza os movimentos sociais como FHC criminalizou. Propostas polêmicas, como a do conselho de jornalismo, são debatidas no Congresso. Não há amparo nos fatos falar em autoritarismo.
Folha - FHC diz que um terceiro governo presidencial do PSDB mudaria a economia em alguns pontos e avançaria mais na área social.
Genoino - FHC teve oito anos para mudar. Fez as políticas econômica e social que quis. O resultado foi um estrondoso aumento da dívida pública e do desemprego. Está dizendo: "Esqueçam que governei e como governei". Esse comportamento de relativizar tudo, para não assumir culpas e erros, faz parte da arrogância dos tucanos. A coisa mais difícil para um tucano é admitir erros, falhas e derrotas. O PT não tem o sangue azul do elitismo.
Folha - O PSDB diz que é o PT que é arrogante e que não admite a possibilidade de derrota.
Genoino - O PT é um partido calejado. Sabe perder e ganhar. Sabe corrigir falhas. Nós estamos ampliando os projetos sociais e, em apenas dois anos, corrigindo erros da política economia, recuperando o crescimento sustentado. O PT disputou as eleições municipais sem ser sectário. Foi pluralista, soube compor e não foi para o vale-tudo.

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