São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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ELEIÇÕES 2004

RIO DE JANEIRO/CAMPOS

Apreensão no diretório do partido em Campos reforça suspeita de que grupo de Garotinho teria esquema de compra de votos

Justiça acha R$ 318 mil na sede do PMDB

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS (RJ)

A apreensão pela Justiça Eleitoral de R$ 318.200 na sede do Diretório do PMDB em Campos (a 280 km do Rio) reforçou a suspeita de compra de votos pelo grupo político comandado pelo ex-governador Anthony Garotinho e deflagrou, na véspera do segundo turno, mais uma crise na cidade -que, desde ontem, está sendo patrulhada pelo Exército.
O Ministério Público requisitou e a Justiça Eleitoral determinou à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar a suspeita de compra de votos pelo PMDB.
Iniciada às 19h30 de anteontem, a ação do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) em parceria com o Ministério Público e a PM (Polícia Militar), só terminou no fim da madrugada, com o recolhimento do dinheiro, títulos de eleitor, listagens com nomes e números de títulos, cadastros para o programa Cheque-Cidadão e outros documentos e objetos na sede do PMDB.
Garotinho, que esteve na sede do partido durante a ação, reagiu ainda no local. Disse estar sendo vítima de perseguição política por parte da Justiça Eleitoral e dos promotores de Campos. Oficialmente, o PMDB informa que estava pagando militantes contratados para as panfletagens. A operação cumpriu mandado de busca e apreensão expedido pela juíza Denise Appolinária.
O dinheiro encontrado no PMDB de Campos estava dentro de uma bolsa. Eram maços de R$ 5.000 em notas de R$ 50. O dinheiro ocupava metade do espaço da bolsa. Como havia duas outras bolsas vazias, os promotores acreditam que, se a ação tivesse ocorrido mais cedo, até R$ 1,5 milhão teriam sido apreendidos.
Reforça a estimativa da promotoria e da Justiça Eleitoral o fato de que, de acordo com as investigações realizadas durante o dia pelo GAP, a distribuição de dinheiro ter começado de manhã. Ao longo do dia, centenas de pessoas teriam ido ao diretório receber maços de notas.
A juíza eleitoral Denise Appolinária disse que não há possibilidade de a eleição ser adiada por causa das suspeitas de irregularidades. "Não há o risco de uma candidatura ser impugnada antes da eleição. O caso vai ser julgado depois. A eleição transcorrerá normalmente amanhã [hoje]".
A juíza não quis comentar a declaração de Garotinho de que está sendo perseguido pela Justiça Eleitoral, mas afirmou que não se submeterá a pressões.
No diretório, foram encontradas 2.200 pulseiras que, para o TRE, foram usadas no primeiro turno por eleitores que tiveram o voto comprado.
Pelo esquema, o comprador de voto amarra a pulseira no punho do eleitor antes da votação. Um dos mesários, conivente com o esquema, se certifica, de alguma forma, de que o eleitor com a pulseira votou no candidato indicado. Além disso, o comprador sabe quantos votos teria em cada seção. Se na apuração a soma de votos esperada para o candidato for menor, houve traição, o que resultaria em punição caso o eleitor consiga ser identificado.
Em uma eleição marcada por escândalos, o de anteontem deixou a população ainda mais tensa. Cerca de 200 militantes do candidato do PMDB, Geraldo Pudim, foram para a frente da sede do partido. Orientados por um grupo de cinco homens bem vestidos, eles gritavam ofensas contra os jornalistas e exigiam o pagamento de R$ 50, que seria o preço combinado a ser pago semanalmente a cada militante.
Ao deixar o partido, Garotinho foi ovacionado pelos militantes, vestidos com a camisa da candidatura de Pudim.
A Polícia Federal foi chamada pelos oficiais de Justiça e promotores para dar segurança ao cumprimento do mandado. Cerca de 15 agentes e dois delegados estiveram no PMDB, armados com fuzis e pistolas e vestidos com coletes à prova de balas.
Desde ontem cerca de 500 militares do Exército estão em Campos para dar segurança à eleição. Os militares circularam por Campos em jipes e caminhões, chamando a atenção da população.
Nem Pudim, nem o candidato do do PDT, Carlos Alberto Campista, comentaram a apreensão do dinheiro do PMDB até a conclusão desta edição.


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