|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Promotoria apura desvio de petista no BB
Ministério Público de MS investiga uso de recursos federais em suposto esquema de caixa dois de Zeca do PT; ele nega
Banco do Brasil patrocinou festival em Corumbá (MS) e, ao justificar gastos, agência de publicidade apresentou nota de gráfica fantasma
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE
O Ministério Público Estadual investiga desvio de recursos federais no suposto esquema de caixa dois do ex-governador de Mato Grosso do Sul
Zeca do PT (1999 a 2006) e
acredita que parte do dinheiro
que teria sido desviado em
2005 veio do Banco do Brasil.
No mesmo ano, conforme
apontou a Procuradoria Geral
da República, o Banco do Brasil
foi usado no esquema do mensalão do governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Teria ocorrido ainda, segundo a Promotoria, desvio de verbas do Ministério da Saúde repassadas ao Estado para campanhas publicitárias de combate à dengue.
Em 2007, houve epidemia da
doença em Mato Grosso do Sul
com cerca de 74 mil casos notificados e 30 mortes.
O promotor de Justiça Marcos Antônio Martins Sottoriva
analisa os documentos (notas
fiscais e orçamentos falsos) que
indicam desvio de recursos federais.
Um exemplo é a nota fiscal
1014, emitida pela agência Art
& Traço, referindo-se a gastos
para o Festival América do Sul
realizado em Corumbá (MS),
patrocinado pelo BB e que reúne shows musicais, exibição de
cinema e teatro.
Para justificar gastos de R$
50 mil - dinheiro do banco -, a
Art & Traço apresentou em
maio de 2005 uma nota fiscal
fria da gráfica Sergraph. Segundo a Promotoria, a empresa, de
Uberaba (MG), é fantasma.
O ex-governador Zeca do PT
anunciou em 2004 que conseguiu R$ 2,5 milhões em patrocínio do BB para o Festival
América do Sul.
Por enquanto o Ministério
Público não calculou quanto
pode ter sido desviado em verbas do Banco do Brasil. Há outra investigação sobre possíveis
desvios de recursos federais,
envolvendo ministérios, como
o da Saúde.
Neste mês, a Promotoria recebeu um ofício da secretária
estadual da Saúde, Beatriz Dobashi, informando que ao menos R$ 50 mil em serviços de
campanhas publicitárias de
prevenção a doenças, incluindo
à dengue, não foram prestados,
embora tenham sido pagos.
Conforme a Promotoria, o
esquema de caixa dois funcionava da seguinte maneira:
1) o ex-governador e seu então secretário de Governo, Raufi Marques, pediam a funcionários para "levantar dinheiro"
com agências de publicidade;
2) as agências apresentavam
orçamentos falsos de despesas
e usavam uma gráfica que emitia notas frias para comprovar
serviços que na verdade não foram feitos;
3) o governo pagava por um
trabalho que nunca fora realizado, as agências ficavam com
15% e a gráfica, com até 17%; e o
restante do dinheiro voltava ao
gabinete de Zeca do PT, para
caixa dois.
Em duas ações criminais
aceitas pela Justiça Estadual
anteontem, o Ministério Público Estadual acusa o ex-governador de liderar um esquema
de desvio de R$ 30 milhões por
meio de agências de publicidade. Zeca nega.
Livro de "pagamentos"
Na semana passada, a Promotoria anexou um livro com
anotações de supostos pagamentos mensais feitos no esquema de caixa dois, ou seja,
com o dinheiro desviado.
Na lista desses supostos pagamentos aparecem os nomes
do senador Delcídio Amaral
(PT-MS) e dos deputados federais petistas de Mato Grosso do
Sul, Antônio Carlos Biffi e Vander Loubet, sobrinho de Zeca
do PT. Os três negam ter recebido dinheiro.
O livro-caixa foi apreendido
na casa da então secretária e ordenadora de despesas do então
secretário Raufi Marques. Ele
alega que as anotações se referiam a campanhas eleitorais.
A reportagem teve acesso ao
livro que contém anotações feitas à mão. Ao lado dos nomes
dos parlamentares aparecem
números que correspondem,
segundo a Promotoria, a valores de R$ 25 mil a R$ 50 mil. Ao
lado do nome de Loubet está
escrito também "até as eleições" de outubro de 2004. Ele
foi candidato derrotado na época a prefeito de Campo Grande.
Texto Anterior: Senado: País não tem leis adequadas sobre ONGs, diz ministro à CPI Próximo Texto: Outro lado: Ex-governador se diz vítima de sensacionalismo Índice
|