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CRIME ORGANIZADO
Pesquisa mostra ceticismo sobre trabalho dos deputados; para 62%, objetivo é autopromoção
CPI faz "encenação", aponta Datafolha
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio
Oito meses depois da sua instalação, a CPI do Narcotráfico é vista
com ceticismo pela
maioria da população a partir de 16 anos.
A desconfiança é fundamentada em três impressões majoritárias entre as 12.079 pessoas ouvidas pelo Datafolha, nos dias 13, 14
e 15, em todos os Estados e no
Distrito Federal:
1) para 56%, a CPI ""fará apenas
uma encenação, sem chegar a nenhum resultado"; 34% afirmam
que a comissão ""vai levar até o
fim" a investigação sobre o tráfico
de drogas e o crime organizado;
2) para cada entrevistado dizendo que a CPI ""chegará aos verdadeiros responsáveis pelo crime
organizado", há três prevendo a
identificação de ""pessoas com
menor poder e importância"
(22% a 65%, respectivamente); e
3) o objetivo dos deputados que
integram a CPI não seria tão nobre: na opinião de 62%, os ""parlamentares estão aproveitando para ganhar destaque nos meios de
comunicação". Só uma pessoa
em cada quatro (25%) sustenta
que os deputados ""estão realmente preocupados em combater o
crime organizado no Brasil".
A pesquisa foi feita em 296 municípios. A margem de erro é de 2
pontos percentuais para mais ou
para menos.
Além do desgaste do Congresso, cujo desempenho global foi
considerado bom ou ótimo por
apenas 15%, algumas atitudes e
decisões da CPI podem ter contribuído para a descrença popular.
Os deputados cassados e presos
com base em investigações da comissão estão longe de ter influência nacional: Hildebrando Pascoal
(AC), cassado pela Câmara, e José
Gerardo e Francisco Caíca, pela
Assembléia do Maranhão.
Nenhum ""peixe grande" do crime organizado foi punido de alguma forma, até agora, a partir
dos trabalhos da CPI.
Mídia
Episódios como a vistoria de
pontos de tráfico de drogas, na
baía de Guanabara, reforçaram a
impressão de a agenda da comissão às vezes se voltar excessivamente para a mídia.
No caso do Rio, a diligência de
barco não teve utilidade para a investigação, embora tenha garantido imagens dos deputados na imprensa e na TV.
Afirmações como o suposto
controle de 40% do mercado carioca de cocaína pelo traficante
Fernandinho Beira-Mar, hoje foragido, não se confirmaram.
Apesar de o esquema de Beira-Mar ter sido afetado, se desconhece notícia de desabastecimento da
droga no Rio.
A maioria dos deputados não se
preparou para o depoimento do
legista Fortunato Badan Palhares,
apontado por eles como suspeito
de produzir laudos falsos.
Badan fez afirmações contraditórias ou inconsistentes, sem contestação dos parlamentares.
A quebra dos sigilos bancário,
fiscal e telefônico de Solange Antunes, assessora do ministro Elcio
Alvares (Defesa), foi revogada pelo STF devido a um erro primário:
não foram formalizados os motivos da quebra.
A CPI teve problemas, contudo,
alheios à sua responsabilidade.
Numa viagem de avião para Rio
Branco (AC), Hildebrando Pascoal e um irmão foram algemados
a outros presos que deveriam testemunhar na Justiça contra eles.
Há relatos de propostas de suborno e ameaças.
A falha foi da Polícia Federal.
Resultado: diante do juiz, as testemunhas recuaram nos relatos feitos sobre os irmãos Pascoal.
Pouco mais da metade dos entrevistados pelo Datafolha (54%)
disse que tomou conhecimento
da existência da CPI do Narcotráfico, contra 46% que afirmaram
desconhecê-la.
Disseram estar bem informados
sobre a CPI 11%, mais ou menos
informados 32% e mal informados 11%. Num ranking contemplando o Distrito Federal e nove
Estados (SP, RJ, MG, RS, PR, SC,
BA, PE e CE), a comissão é mais
ignorada na Bahia -só 35% sabem que ela funciona.
A favor da CPI, o levantamento
mostra que, quanto mais o entrevistado diz acompanhar com
atenção as atividades da comissão, mais confia nela.
Entre os que a conhecem e se dizem mal informados, só 30%
apostam que a CPI ""levará a investigação até o fim". O índice entre os que se julgam bem informados alcança 49%.
Não chega a 1 em cada 10 a parcela (8%) segundo a qual ""é raro,
quase não existe envolvimento de
políticos com crime organizado
no Brasil". Para 45%, muitos políticos estão envolvidos, mas a
maioria não. Um em cada três
(35%) acha que a maioria dos políticos está envolvida.
Só 12% têm muita confiança na
política brasileira de combate ao
tráfico de drogas, contra 50% que
têm um pouco de confiança e
35% que asseguram não ter nenhuma.
Congresso
Um ano depois da posse de deputados e senadores, o Congresso
é considerado ótimo ou bom por
15%, regular por 40% e ruim ou
péssimo por 37%. São os mesmo
índices de setembro, considerando a margem de erro.
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