São Paulo, Sexta-feira, 31 de Dezembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Pesquisa mostra ceticismo sobre trabalho dos deputados; para 62%, objetivo é autopromoção
CPI faz "encenação", aponta Datafolha

MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio


Oito meses depois da sua instalação, a CPI do Narcotráfico é vista com ceticismo pela maioria da população a partir de 16 anos.
A desconfiança é fundamentada em três impressões majoritárias entre as 12.079 pessoas ouvidas pelo Datafolha, nos dias 13, 14 e 15, em todos os Estados e no Distrito Federal:
1) para 56%, a CPI ""fará apenas uma encenação, sem chegar a nenhum resultado"; 34% afirmam que a comissão ""vai levar até o fim" a investigação sobre o tráfico de drogas e o crime organizado;
2) para cada entrevistado dizendo que a CPI ""chegará aos verdadeiros responsáveis pelo crime organizado", há três prevendo a identificação de ""pessoas com menor poder e importância" (22% a 65%, respectivamente); e
3) o objetivo dos deputados que integram a CPI não seria tão nobre: na opinião de 62%, os ""parlamentares estão aproveitando para ganhar destaque nos meios de comunicação". Só uma pessoa em cada quatro (25%) sustenta que os deputados ""estão realmente preocupados em combater o crime organizado no Brasil".
A pesquisa foi feita em 296 municípios. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Além do desgaste do Congresso, cujo desempenho global foi considerado bom ou ótimo por apenas 15%, algumas atitudes e decisões da CPI podem ter contribuído para a descrença popular.
Os deputados cassados e presos com base em investigações da comissão estão longe de ter influência nacional: Hildebrando Pascoal (AC), cassado pela Câmara, e José Gerardo e Francisco Caíca, pela Assembléia do Maranhão.
Nenhum ""peixe grande" do crime organizado foi punido de alguma forma, até agora, a partir dos trabalhos da CPI.

Mídia
Episódios como a vistoria de pontos de tráfico de drogas, na baía de Guanabara, reforçaram a impressão de a agenda da comissão às vezes se voltar excessivamente para a mídia.
No caso do Rio, a diligência de barco não teve utilidade para a investigação, embora tenha garantido imagens dos deputados na imprensa e na TV.
Afirmações como o suposto controle de 40% do mercado carioca de cocaína pelo traficante Fernandinho Beira-Mar, hoje foragido, não se confirmaram.
Apesar de o esquema de Beira-Mar ter sido afetado, se desconhece notícia de desabastecimento da droga no Rio.
A maioria dos deputados não se preparou para o depoimento do legista Fortunato Badan Palhares, apontado por eles como suspeito de produzir laudos falsos.
Badan fez afirmações contraditórias ou inconsistentes, sem contestação dos parlamentares.
A quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Solange Antunes, assessora do ministro Elcio Alvares (Defesa), foi revogada pelo STF devido a um erro primário: não foram formalizados os motivos da quebra.
A CPI teve problemas, contudo, alheios à sua responsabilidade. Numa viagem de avião para Rio Branco (AC), Hildebrando Pascoal e um irmão foram algemados a outros presos que deveriam testemunhar na Justiça contra eles. Há relatos de propostas de suborno e ameaças.
A falha foi da Polícia Federal. Resultado: diante do juiz, as testemunhas recuaram nos relatos feitos sobre os irmãos Pascoal.
Pouco mais da metade dos entrevistados pelo Datafolha (54%) disse que tomou conhecimento da existência da CPI do Narcotráfico, contra 46% que afirmaram desconhecê-la.
Disseram estar bem informados sobre a CPI 11%, mais ou menos informados 32% e mal informados 11%. Num ranking contemplando o Distrito Federal e nove Estados (SP, RJ, MG, RS, PR, SC, BA, PE e CE), a comissão é mais ignorada na Bahia -só 35% sabem que ela funciona.
A favor da CPI, o levantamento mostra que, quanto mais o entrevistado diz acompanhar com atenção as atividades da comissão, mais confia nela.
Entre os que a conhecem e se dizem mal informados, só 30% apostam que a CPI ""levará a investigação até o fim". O índice entre os que se julgam bem informados alcança 49%.
Não chega a 1 em cada 10 a parcela (8%) segundo a qual ""é raro, quase não existe envolvimento de políticos com crime organizado no Brasil". Para 45%, muitos políticos estão envolvidos, mas a maioria não. Um em cada três (35%) acha que a maioria dos políticos está envolvida.
Só 12% têm muita confiança na política brasileira de combate ao tráfico de drogas, contra 50% que têm um pouco de confiança e 35% que asseguram não ter nenhuma.

Congresso
Um ano depois da posse de deputados e senadores, o Congresso é considerado ótimo ou bom por 15%, regular por 40% e ruim ou péssimo por 37%. São os mesmo índices de setembro, considerando a margem de erro.


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