São Paulo, Sexta-feira, 31 de Dezembro de 1999


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REGIME MILITAR
Em entrevistas, presidente ataca Fernando Henrique, ACM e Sarney
Figueiredo criticou autoridades

Patrícia Santos/Folha Imagem
João Havelange, ex-Fifa, cumprimenta a viúva Dulce em missa


da Reportagem Local

da Sucursal do Rio

O presidente João Baptista Figueiredo, morto no último dia 24 aos 81 anos, deixou um legado de críticas a diversas autoridades brasileiras.
As críticas estão em entrevistas concedidas à revista ""IstoÉ". Ele pediu que suas declarações só fossem tornadas públicas após sua morte. Algumas frases de Figueiredo foram publicadas na edição desta semana da revista.
"Nunca confiei em bajuladores como o Antonio Carlos Magalhães", disse, segundo a revista, o presidente em relação ao atual presidente do Senado, que foi indicado governador da Bahia durante o regime militar.
Segundo a revista, Figueiredo criticou o fato de o presidente Fernando Henrique Cardoso ter indicado David Zylbersztajn, seu genro, para a presidência da Agência Nacional de Petróleo. "Se eu nomeasse um genro, ia ser um escândalo."
Ele também teria acusado o presidente Tancredo Neves, morto em 85, de não mostrar sua "verdadeira cara". Segundo Figueiredo, Tancredo teria dito ser favorável a eleições indiretas, mas foi aos comícios das Diretas-Já.
Em relação ao ex-presidente José Sarney, Figueiredo foi mais duro: "Sempre foi um fraco, um carreirista. De puxa-saco passou a traidor. Por isso não passei a faixa presidencial para aquele pulha. Não cabia a ele assumir a Presidência." O general considerava que Ulysses Guimarães (morto em 92) deveria ter assumido após a morte de Tancredo, por ser o presidente da Câmara à época.
Mas Figueiredo também criticou Ulysses: "Eu não gostava dele. Era tão radical contra a revolução de 1964 como eu fui papa."
A Folha procurou, sem sucesso, ACM, FHC e Sarney.

Missa
Ao final da missa de sétimo dia de Figueiredo, realizada ontem no Rio, o filho mais novo do general, o engenheiro Paulo Figueiredo, 50, disse ver "com muita tristeza" o fato de os resumos sobre o governo do seu pai (1979-1985) referirem-se a "episódios, e não, a seis anos de realizações".
"Mencionam o episódio do Riocentro como se fosse a síntese do governo dele. Isso não representa nada diante das realizações que ele fez", disse Paulo sobre a explosão de uma bomba em poder de dois militares junto a um comício do Dia do Trabalho de 1981.
Para Aureliano Chaves, vice de Figueiredo, o general foi injusto consigo mesmo. "Todo homem público que cumpre bem o seu papel será para sempre lembrado", disse.
Mais de 500 pessoas foram à igreja da Candelária ontem, no Centro do Rio, para assistir à missa, celebrada pelo cardeal-arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales. Os comandantes Gleuber Vieira (Exército) e Sérgio Chagasteles (Marinha), estavam presentes à cerimônia.


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