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São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

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ELIO GASPARI

De jk@turmaboa.edu para Lula

Caro patrício,
A propósito do seu primeiro aniversário de governo, escrevo-lhe uma nota de bons augúrios. Estão aqui comigo todos os brasileiros que governaram nosso grande país nos últimos 50 anos. Há três que ainda estão aí consigo e em nome deles não podemos falar. Faz tempo que passamos uma noite do ano juntos. Ontem assistimos a um filme do tempo em que eu era presidente. Não sei se o amigo o viu. Talvez não se lembre do nome -"E Deus Criou a Mulher", com Brigitte Bardot- , mas, se o viu, há de se lembrar de que é aquele depois do qual nunca mais se deixa de olhar para uma mulher que passou por nós pedalando uma bicicleta.
Pela ordem de antiguidade, aí vão nossas breves mensagens, inclusive a minha. Faltou o Jânio, mas ele não está mais aqui. Foi transferido.

Senhor Presidente,
Nunca lhe dei voto ou simpatia. Houve um tempo em que tive por sua estampa alguma curiosidade, mas, ultimamente, nem isso. O senhor diz que com o fim de 2003 terminou a convalescença e começa a prosperidade. Senhor Silva, eu disse isso no dia 2 de janeiro de 1932. Não quero jogar sobre seus ombros meu fardo de responsabilidade, mas acredito que devemos de parar de iludir o povo com uma conversa mole que já dura quase cem anos.
Respeitosamente
Getúlio Vargas

Caro Lula,
Releve. O doutor Getúlio anda muito mal-humorado. Saiba que tem neste seu amigo um admirador. Foi no meu governo que você, aos 14 anos, empregou-se na Metalúrgica Independência. Eles tinham arrumado o Brasil de um jeito que aquele garoto não devia ter saído de Garanhuns. Se saísse, devia ficar vendendo tapioca em Santos. Se viesse para São Paulo, devia se aposentar como entregador de tinturaria. Foi preciso confiar na nossa terra e na sua gente para que um menino de pau-de-arara governasse o Brasil.
Tenha fé, sonhe, ouse.
Recomende-me a Dona Marisa.
Juscelino Kubitschek

Amigo Lula,
Desejo-lhe muito sucesso. Não aprecio sua tolerância com o MST, mas acredito nas suas intenções. Uma coisa posso lhe dizer: a direita não esquece nem aprende. Ela pode lhe enganar. O amigo enganá-la, será coisa muito mais difícil.
Mande brasa.
Jango

Senhor Presidente,
Está aqui comigo o Roberto Campos, que lhe manda votos de Feliz 2005. Louvo a maneira como o senhor se livrou de um pedaço dessa esquerda de fancaria que nada quer senão extravagâncias do erário, balbúrdia e autoritarismo (o dela). Não esmoreça. A impopularidade é o preço que os patriotas pagam à história.
Respeitosamente
Humberto Castello Branco

Lula,
O Castello tem essa mania de pedir aos outros que sejam impopulares. Outro dia ele estava tentando converter a Carmen Miranda à causa da antipatia. Não caia nessa. Faça a economia crescer, não pense em outra coisa. Como? Pergunte ao Delfim. Eu não posso contar certas coisas, mas acredite no que lhe digo: fale com ele a sós. A sós.
Saúde e paz
Arthur da Costa e Silva

Senhor presidente,
Cumprimento-o e desejo-lhe boa sorte.
Sem mais, cordialmente
Emílio Médici

Presidente Lula,
Deixemos de embromatina. O Juscelino continua com um bonito palavrório, mas a verdade é que a política econômica do seu governo fará com que os metalúrgicos virem tintureiros, os tintureiros virem camelôs, e os camelôs voltem para Garanhuns.
Atenciosamente
Ernesto Geisel

Lula,
Vá em frente. Ouvindo seus improvisos, sinto que somos parecidos. Queremos fazer o melhor pelo país enquanto esse bando de puxa-sacos e aproveitadores atrapalham nossos planos. Esqueça-me, mas reconheça que eu fazia o certo quando insistia em morar na Granja do Torto.
Um grande abraço
João Batista Figueiredo



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