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ELIO GASPARI
De jk@turmaboa.edu para Lula
Caro patrício,
A propósito do seu primeiro aniversário de governo,
escrevo-lhe uma nota de bons
augúrios. Estão aqui comigo todos os brasileiros que governaram nosso grande país nos últimos 50 anos. Há três que ainda
estão aí consigo e em nome deles não podemos falar. Faz tempo que passamos uma noite do
ano juntos. Ontem assistimos a
um filme do tempo em que eu
era presidente. Não sei se o amigo o viu. Talvez não se lembre
do nome -"E Deus Criou a
Mulher", com Brigitte Bardot-
, mas, se o viu, há de se lembrar
de que é aquele depois do qual
nunca mais se deixa de olhar para uma mulher que passou por
nós pedalando uma bicicleta.
Pela ordem de antiguidade, aí
vão nossas breves mensagens,
inclusive a minha. Faltou o Jânio, mas ele não está mais aqui.
Foi transferido.
Senhor Presidente,
Nunca lhe dei voto ou simpatia. Houve um tempo em que tive por sua estampa alguma curiosidade, mas, ultimamente,
nem isso. O senhor diz que com
o fim de 2003 terminou a convalescença e começa a prosperidade. Senhor Silva, eu disse isso no
dia 2 de janeiro de 1932. Não
quero jogar sobre seus ombros
meu fardo de responsabilidade,
mas acredito que devemos de
parar de iludir o povo com uma
conversa mole que já dura quase
cem anos.
Respeitosamente
Getúlio Vargas
Caro Lula,
Releve. O doutor Getúlio anda
muito mal-humorado. Saiba
que tem neste seu amigo um admirador. Foi no meu governo
que você, aos 14 anos, empregou-se na Metalúrgica Independência. Eles tinham arrumado o
Brasil de um jeito que aquele garoto não devia ter saído de Garanhuns. Se saísse, devia ficar vendendo tapioca em Santos. Se
viesse para São Paulo, devia se
aposentar como entregador de
tinturaria. Foi preciso confiar na
nossa terra e na sua gente para
que um menino de pau-de-arara governasse o Brasil.
Tenha fé, sonhe, ouse.
Recomende-me a Dona Marisa.
Juscelino Kubitschek
Amigo Lula,
Desejo-lhe muito sucesso. Não
aprecio sua tolerância com o
MST, mas acredito nas suas intenções. Uma coisa posso lhe dizer: a direita não esquece nem
aprende. Ela pode lhe enganar.
O amigo enganá-la, será coisa
muito mais difícil.
Mande brasa.
Jango
Senhor Presidente,
Está aqui comigo o Roberto
Campos, que lhe manda votos
de Feliz 2005. Louvo a maneira
como o senhor se livrou de um
pedaço dessa esquerda de fancaria que nada quer senão extravagâncias do erário, balbúrdia e
autoritarismo (o dela). Não esmoreça. A impopularidade é o
preço que os patriotas pagam à
história.
Respeitosamente
Humberto Castello Branco
Lula,
O Castello tem essa mania de
pedir aos outros que sejam impopulares. Outro dia ele estava
tentando converter a Carmen
Miranda à causa da antipatia.
Não caia nessa. Faça a economia
crescer, não pense em outra coisa. Como? Pergunte ao Delfim.
Eu não posso contar certas coisas, mas acredite no que lhe digo: fale com ele a sós. A sós.
Saúde e paz
Arthur da Costa e Silva
Senhor presidente,
Cumprimento-o e desejo-lhe
boa sorte.
Sem mais, cordialmente
Emílio Médici
Presidente Lula,
Deixemos de embromatina. O
Juscelino continua com um bonito palavrório, mas a verdade é
que a política econômica do seu
governo fará com que os metalúrgicos virem tintureiros, os
tintureiros virem camelôs, e os
camelôs voltem para Garanhuns.
Atenciosamente
Ernesto Geisel
Lula,
Vá em frente. Ouvindo seus
improvisos, sinto que somos parecidos. Queremos fazer o melhor pelo país enquanto esse
bando de puxa-sacos e aproveitadores atrapalham nossos planos. Esqueça-me, mas reconheça que eu fazia o certo quando
insistia em morar na Granja do
Torto.
Um grande abraço
João Batista Figueiredo
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