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CELSO PINTO
Os impostos e os juros
A cobrança da Cofins, Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social, sobre o
setor financeiro, incluída no pacote de ajuste fiscal, terá um impacto muito significativo. Só
uma parte do custo, contudo,
vai afetar os lucros dos bancos.
Uma parcela expressiva será repassada aos clientes.
O custo da Cofins para o Banco Itaú, o segundo maior banco
privado nacional, será de R$
300 milhões, segundo seu presidente, Roberto Setúbal. Como o
Itaú deve ter um lucro em torno
de R$ 800 milhões este ano, a
Cofins comeria 38% do lucro se
fosse inteiramente absorvida.
Não será. Setúbal diz que parte do custo será repassada. Em
operações com margem de lucro
maior, é possível absorver parte
do custo, mas, nas de margem
menor, o repasse será inevitável.
Setúbal, que também é presidente da Federação Brasileira
das Associações de Bancos, a
Febraban, acha que os grandes
bancos de varejo poderão absorver parte do custo adicional.
Já no caso dos bancos de atacado e das seguradoras, a tendência é repassar a maior parte.
A Cofins vai se somar a uma
série de impostos que já tornam
o setor financeiro uma enorme
máquina arrecadadora do governo, lembra Setúbal. A Febraban fez um estudo medindo o
tamanho da fatia de impostos
hoje e para quanto ela irá com a
cobrança da Cofins (3% sobre a
receita) e a elevação da CPMF,
o imposto do cheque, de 0,2%
para 0,38%.
Para ter uma idéia mais clara,
o estudo olhou os três lados da
operação: o dos impostos pagos
pelos investidores, o dos pagos
pelos bancos e o dos pagos pelos
tomadores de empréstimos.
Considerou uma operação hipotética, na qual o banco levanta recursos vendendo CDBs de
30 dias, pagando 2,4% para um
investidor pessoa jurídica. Com
esse dinheiro, ele empresta por
30 dias para uma empresa, cobrando 3,4% e ganhando 1% de
margem de lucro.
A conclusão impressiona. O
primeiro exercício considera a
CPMF atual de 0,2% e os outros
impostos existentes. Levando
em conta as três pontas da operação, os impostos comem
47,2% do total, o investidor embolsa 40,3%, o banco fica com
11,8% e 0,69% vai para o Fundo
Garantidor de Crédito (FGC).
No segundo exercício, soma-
se a cobrança da Cofins. Os impostos passam a levar 51,8% do
total, o investidor embolsa
38,3%, o banco 9,1% e o FGC
0,69%.
Na terceira hipótese, além da
Cofins, soma-se a CPMF de
0,38%. A fatia dos impostos sobe para 58,6% do total, o investidor fica com 32,3%, o banco
com 8,5% e o FGC com 0,69%.
Em outros termos, a Cofins e a
CPMF mais alta farão com que,
de cada R$ 1 numa operação financeira como a descrita acima, a parte embolsada pelo governo salte de R$ 0,47 para R$
0,58, enquanto a parte do investidor cai de R$ 0,40 para R$ 0,32
e a do banco de R$ 0,12 para R$
0,08.
É previsível que tanto os investidores quanto os bancos
tentarão manter a margem anterior de remuneração líquida.
A única forma de isso acontecer
seria aumentar os juros pagos
aos investidores e a margem de
lucro dos bancos. Nos dois casos, quem pagará a conta, se isso acontecer, será a empresa
que toma o empréstimo.
Como lembra Setúbal, as taxas de juros absurdas de hoje se
aplicam, basicamente, a empresas nacionais médias e pequenas. Empresas nacionais grandes e multinacionais têm acesso
a crédito externo ou a operações
estruturadas mais baratas. Os
juros altos, portanto, acabam
tendo um efeito perverso concentrador.
De todo modo, Setúbal é contra uma baixa artificial dos juros, porque poderia levar a um
desequilíbrio econômico ainda
maior. O risco seria esse desequilíbrio acabar sendo corrigido pela volta da inflação alta, às
custas dos mais pobres.
Ele acha que 99 embute "um
grande risco" para a economia
brasileira, especialmente nos
próximos meses. Preocupa,
também, o risco de novas turbulências internacionais, principalmente na Ásia (Japão e China).
²
Feliz Natal?
A propósito das vendas natalinas, Elson Teles mandou um
e- mail lembrando manchetes
do Natal de 97: "Vendas de Natal batem o recorde da década"
("O Estado de S.Paulo", 23/ 12).
"Vendas fazem governo repensar 98" (Folha, 24/12). "Natal
generoso surpreende governo"
("O Globo", 24/12). "Febre de
consumo pode mudar 98" ("O
Globo", 5/1/98).
Dia 14 de janeiro de 98, a Federação do Comércio de São
Paulo revelou que o comércio
faturou em dezembro 11,6%
menos do que em dezembro de
96. No Rio, a queda foi de
18,4%, anunciada pelo "Jornal
do Brasil", dia 11 de fevereiro:
"Natal de 97 foi o pior do Real".
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