São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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Marcello Alencar aposta no filho

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

O governador Marcello Alencar (PSDB) dificilmente voltará a disputar alguma campanha, mas já avisa que "não vestirá o pijama".
Aos 73 anos, não se candidatou à reeleição por causa da saúde debilitada: problemas circulatórios que tornam penoso andar.
"Depois dos 60 anos, se a gente acorda de manhã e não sente nada é porque morreu", brinca ele, que repele os rumores de que também teria câncer.
Sua prioridade, segundo pessoas próximas, é cacifar politicamente seus dois delfins: o vice-governador Luiz Paulo Corrêa da Rocha e o secretário estadual de Fazenda, Marco Aurélio Alencar, seu filho.
Contra o primeiro, há a falta de carisma político, um dos fatores que o fizeram ficar em terceiro lugar na disputa pelo governo do Estado, com cerca 15% dos votos.
Marco Aurélio, em compensação, nunca disputou uma eleição -nem mesmo como candidato proporcional. Além disso, é contra ele que são feitas insinuações de suposta corrupção para atingir o governo. "Não me acusam. Vão buscar o pobre do meu filho para fazer o papel de boi de piranha", reclama Alencar.
Ele reconhece que acusações de corrupção, que ele afirma serem infundadas, pesam no currículo de um político. "Mas todas as atribuições infamantes não lograram colocá-lo no chão", afirma.
O principal desafio político do governador é conseguir manter o controle hegemônico do PSDB fluminense, ameaçado pelo presidente da Alerj (Assembléia Legislativa do Rio), Sérgio Cabral Filho -que obteve o segundo lugar na eleição para prefeito em 1996 e sonha com nova tentativa daqui a dois anos.
Corrêa da Rocha já é o candidato declarado de Alencar à Prefeitura do Rio no ano 2000. E, hoje, Cabral Filho é o principal desafeto político de Alencar, que se considera traído por ele. "Nunca achei que ele tivesse consistência. Tem algumas qualificações, certo carisma e aptidões para essa sociedade moderna de espetáculo", ironiza Alencar, que, no início da semana, acusou Cabral Filho de suposto enriquecimento ilícito.
Cabral Filho comanda na Alerj uma CPI que apura a denúncia -feita por deputados- de tentativa de suborno de parlamentares na votação da privatização da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos). Marco Aurélio é um dos investigados.
O processo abortado de privatização da Cedae marcou o final do governo Alencar. Saiu derrotado, mas o principal marco de seus quatro anos de governo foi o PED (Programa Estadual de Desestatização). Foram obtidos cerca de R$ 1,8 bilhão, gastos em obras -como a extensão do metrô até Copacabana- e na cobertura de parte dos rombos financeiros do Estado.
Se Alencar deixa o cargo com o Rio aumentando sua participação no PIB nacional (de 10% em 1995 para 14% em 1998), o Estado sofre com um déficit operacional mensal da ordem de R$ 80 milhões e com uma folha de pagamento que consome 80% da arrecadação.
Não tendo podido fazer seu sucessor, Alencar se abstém de dar conselhos a seu sucessor, Anthony Garotinho (PDT).
Mas ironiza as promessas eleitorais do antigo companheiro de PDT. "Ele deve estar assustado com as dificuldades que vai enfrentar depois do discurso de campanha", diz.



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