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Marcello Alencar aposta no filho
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio
O governador Marcello Alencar
(PSDB) dificilmente voltará a disputar alguma campanha, mas já
avisa que "não vestirá o pijama".
Aos 73 anos, não se candidatou à
reeleição por causa da saúde debilitada: problemas circulatórios que
tornam penoso andar.
"Depois dos 60 anos, se a gente
acorda de manhã e não sente nada
é porque morreu", brinca ele, que
repele os rumores de que também
teria câncer.
Sua prioridade, segundo pessoas
próximas, é cacifar politicamente
seus dois delfins: o vice-governador Luiz Paulo Corrêa da Rocha e o
secretário estadual de Fazenda,
Marco Aurélio Alencar, seu filho.
Contra o primeiro, há a falta de
carisma político, um dos fatores
que o fizeram ficar em terceiro lugar na disputa pelo governo do Estado, com cerca 15% dos votos.
Marco Aurélio, em compensação, nunca disputou uma eleição
-nem mesmo como candidato
proporcional. Além disso, é contra
ele que são feitas insinuações de
suposta corrupção para atingir o
governo. "Não me acusam. Vão
buscar o pobre do meu filho para
fazer o papel de boi de piranha",
reclama Alencar.
Ele reconhece que acusações de
corrupção, que ele afirma serem
infundadas, pesam no currículo de
um político. "Mas todas as atribuições infamantes não lograram colocá-lo no chão", afirma.
O principal desafio político do
governador é conseguir manter o
controle hegemônico do PSDB fluminense, ameaçado pelo presidente da Alerj (Assembléia Legislativa
do Rio), Sérgio Cabral Filho -que
obteve o segundo lugar na eleição
para prefeito em 1996 e sonha com
nova tentativa daqui a dois anos.
Corrêa da Rocha já é o candidato
declarado de Alencar à Prefeitura
do Rio no ano 2000. E, hoje, Cabral
Filho é o principal desafeto político de Alencar, que se considera
traído por ele. "Nunca achei que
ele tivesse consistência. Tem algumas qualificações, certo carisma e
aptidões para essa sociedade moderna de espetáculo", ironiza
Alencar, que, no início da semana,
acusou Cabral Filho de suposto
enriquecimento ilícito.
Cabral Filho comanda na Alerj
uma CPI que apura a denúncia
-feita por deputados- de tentativa de suborno de parlamentares
na votação da privatização da Cedae (Companhia Estadual de
Águas e Esgotos). Marco Aurélio é
um dos investigados.
O processo abortado de privatização da Cedae marcou o final do
governo Alencar. Saiu derrotado,
mas o principal marco de seus
quatro anos de governo foi o PED
(Programa Estadual de Desestatização). Foram obtidos cerca de R$
1,8 bilhão, gastos em obras -como a extensão do metrô até Copacabana- e na cobertura de parte
dos rombos financeiros do Estado.
Se Alencar deixa o cargo com o
Rio aumentando sua participação
no PIB nacional (de 10% em 1995
para 14% em 1998), o Estado sofre
com um déficit operacional mensal da ordem de R$ 80 milhões e
com uma folha de pagamento que
consome 80% da arrecadação.
Não tendo podido fazer seu sucessor, Alencar se abstém de dar
conselhos a seu sucessor, Anthony
Garotinho (PDT).
Mas ironiza as promessas eleitorais do antigo companheiro de
PDT. "Ele deve estar assustado
com as dificuldades que vai enfrentar depois do discurso de campanha", diz.
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