Campinas, Domingo, 04 de Junho de 2000


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CRISE NA POLÍCIA
Datafolha aponta que 79% dos eleitores de Campinas crêem existir corrupção na Civil e 74%, na PM
Maioria acredita que polícia é corrupta

RICARDO BRANDT
DA FOLHA CAMPINAS

A maioria dos eleitores de Campinas acredita que há corrupção nas Polícias Civil e Militar local, segundo pesquisa Datafolha realizada no último dia 22.
Para 79% dos entrevistados, existe corrupção na Polícia Civil. Desses, 64% crêem que exista muita corrupção na corporação, Outros 15% avaliam ser baixo o índice de corrupção.
A Polícia Civil é a polícia judiciária, que faz as investigações sobre os crimes e tem poder de indiciamento, diferentemente da Polícia Militar, que atua no combate e prevenção ao crime.
A imagem da Polícia Militar não difere da que a Civil possui: 74% dos entrevistados acreditam haver corrupção entre PMs.
Dos que afirmaram acreditar na existência de corrupção na PM, 53% disseram que há muita corrupção e 21% declararam que a corrupção existe, mas é pouca. Somente 7% disseram que a PM é honesta e 19% não têm opinião.
A avaliação negativa surge um ano e quatro meses após o sumiço dos 340 quilos de cocaína, furtados de dentro do complexo da cúpula da Polícia Civil de Campinas, e cinco meses após a CPI do Narcotráfico apontar a polícia local como uma das mais envolvidas com o crime organizado no Estado de São Paulo.
No mês passado, o governador Mário Covas (PSDB) determinou o afastamento de 19 policiais de Campinas, que eram alvo de processos administrativos.
Os processos devem concluir pela demissão dos policiais na maioria dos casos. Na época, Covas considerou como "fora do normal" a demora com que corriam os processos contra policiais de Campinas dentro da Corregedoria da polícia local.
Dos entrevistados pelo Datafolha, 15% disseram achar que a corrupção existe na Polícia Civil, mas é pouca, e só 5% defendem a polícia e dizem que não há corrupção. Não souberam responder 16% dos entrevistados.
O ouvidor da Polícia de São Paulo, Benedito Mariano, afirmou que desde que a Ouvidoria foi criada, em 96, do total de denúncias de corrupção contra policiais, 74,5% são contra a Polícia Civil e 25,5%, contra a PM.
Para o ouvidor, os inquéritos policiais, que dão o poder de indiciamento para a Polícia Judiciária, são os maiores responsáveis pela corrupção na Civil.
"O contato do policial com os criminosos é permanente nas investigações, o que facilita a corrupção", disse o ouvidor.
O delegado-seccional de Campinas, Djahy Tucci, disse que todas as instituições públicas atualmente estão em descrédito.
O comandante da CPI-2 (Comando de Policiamento do Interior), coronel Élzio Lourenço Nagalli, afirmou estar surpreso com a má avaliação da população em relação à PM.
O diretor do Deinter-2 (Departamento de Policia Judiciária do Interior - São Paulo), Orlando Miranda Ferreira, afirmou que podem existir focos de corrupção na Polícia Civil, mas a maior parte dos homens que trabalham na corporação é honesta.
Entre os entrevistados que acreditam na existência de muita corrupção na Civil se destacam os eleitores de 16 anos a 40 anos (72%), com formação superior (85%) e com renda familiar de 10 a 20 salários mínimos (79%).
O publicitário Jernerson Hagmayer, 23, disse que não acreditava que existisse corrupção na polícia, mas após as denúncias da CPI do Narcotráfico, mudou de idéia. "É preciso uma CPI gigantesca para acabar com a corrupção", disse o publicitário.


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