Campinas, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999

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VIOLÊNCIA
Garota de 14 anos pode ficar cega e jovem fica sob risco de ficar paralítico; ninguém foi preso
Encapuzados invadem escola, matam 3 e deixam 6 feridos em Campinas

Frâncio de Hollanda/Folha Imagem
Crianças observam por janela os sinais da chacina na cozinha


ELI FERNANDES
free-lance para a Folha Campinas
MAURÍCIO SIMIONATO
da Folha Campinas

A Polícia Civil de Campinas identificou ontem três dos quatro supostos autores da chacina que deixou três mortos e sete feridos na escola estadual do bairro Vida Nova (região oeste), em Campinas, que ocorreu por às 22h de anteontem. Ninguém foi preso.
Três estudantes morreram, seis pessoas foram baleadas e uma, espancada. Entre os sobreviventes, uma garota de 15 anos pode ficar cega e um jovem de 20 anos corre o risco de ficar paralítico. Dois baleados e a vítima de espancamento receberam alta.
A EEPG (Escola Estadual de Primeiro Grau) Núcleo Habitacional Vida Nova, onde ocorreu a chacina, é considerada modelo pela rede estadual.
A polícia trabalha com a hipótese de acerto de contas.

Como foi
Segundo a Polícia Militar, quatro homens entraram armados com revólveres pelo portão principal da escola, que estava em período noturno de aulas, e invadiram a casa do zelador, onde o grupo estava reunido, e mataram os estudantes à queima-roupa.
Um dos suspeitos identificados é conhecido como Edmilson e está foragido. Ele foi reconhecido por testemunhas que prestaram depoimento ontem à tarde na Polícia Civil.
A escola tem cerca 1.200 alunos, que estudam nos três períodos. Pelo menos 300 alunos estudam no período da noite na escola.
De acordo com testemunhas, cem deles estariam próximos da casa do zelador no momento da chacina.
Segundo a Polícia Militar, às 21h, o homem identificado apenas como Edmilson foi até a casa do zelador da escola, Nilton César dos Santos, que fica no bloco 3 da unidade, e pediu um copo de água para os estudantes que estavam no local. De acordo com a PM, o dono da casa não estava no local naquele momento.
O zelador estava, segundo a versão da polícia, coordenando um ensaio teatral no pátio da escola, que se localiza a menos de 20 metros da casa.
Edmilson teria voltado às 22h com outros três homens, encapuzados e armados com revólveres calibre 38, em um carro preto. No momento em que eles invadiram a escola, um grupo de pelo menos cem estudantes participava do ensaio da peça teatral no pátio.
O grupo perguntou aos estudantes sobre a localização do estudante Leonardo Pereira de Souza Barbosa, 19. Depois, levou alguns alunos para a sala e os obrigou a se deitar no chão. Em seguida, iniciaram os disparos.
Com os disparos, houve tumulto no pátio e os estudantes começaram a correr em direção à rua, em pânico.
Uma aluna saiu correndo em direção à casa do zelador para ver o que havia acontecido, foi baleada também e morreu no local.
As Polícias Militar e Civil trocam acusações por uma série de falhas que ocorreram logo depois da chacina. Durante todo o dia de ontem as duas polícias trabalharam no caso separadamente.
O comandante da Polícia Militar na região, coronel Élzio Nagalli, afirmou que abrirá sindicância para apurar as falhas.
A Polícia Civil só foi informada oficialmente do caso quatro horas depois do crime.


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