Campinas, Sexta, 22 de janeiro de 1999

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CRISE CARCERÁRIA
Detentos bebem só água desde segunda-feira; alimentos são doados para entidades assistenciais
171 presos de Limeira fazem greve de fome

Marcos Peron/Folha Imagem
Detentos em greve de fome há quatro dias no pátio da cadeia de Limeira, que está superlotada


REBECA PAROLI
free-lance para a Folha Campinas

Os 171 detentos da cadeia de Limeira (56 km de Campinas) estão em greve de fome desde a última segunda-feira. Eles reclamam da qualidade da comida recebida. Segundo a polícia, os presos estão doando a alimentação para entidades assistenciais e só tomam água desde o início da greve.
O juiz corregedor da cadeia de Limeira, Aciones Diniz, deverá visitar os presos somente hoje. Anteontem, a promotoria pública visitou o local, mas os detentos querem a presença do juiz.
Diniz disse que foi enviada uma amostra da comida ao Instituto Adolfo Lutz de Campinas na quinta-feira antes da greve, logo depois de os presos afirmarem que a comida estava estragada.
Segundo ele, se for comprovada a denúncia, uma licitação do Estado poderá ser cancelada, de modo a permitir a contratação de outra empresa.
Cecílio Vitalino Rocha, 40, preso há 36 meses, disse que não se alimenta e só tem tomado água desde segunda-feira, como os outros 170 detentos. Ele disse que não é possível comer os alimentos servidos no café da manhã, almoço e jantar.
"Estou indignado. Nós temos direito a pelo menos uma alimentação saudável", afirmou Rocha. Segundo ele, faz muito calor nas celas, que estão superlotadas.
Rocha divide uma cela de aproximadamente 6 m2 com outros 19 presos. A cadeia tem 171 detentos e capacidade para 64.
Até a semana passada, era permitido que os presos usassem um fogão e fizessem seus próprios alimentos, levados por familiares. Segundo o juiz, a proibição foi feita para melhorar a segurança.
O médico cardiologista e presidente da Comissão Carcerária da Câmara de Limeira, vereador José Joaquim Raposo Fernandes Filho (sem partido), disse que, a partir do terceiro dia de greve de fome, completado anteontem, o quadro de saúde dos presos pode ter começado a ficar crítico.
O vereador de Campinas Dário Saadi (PSDB), que também é urologista, afirmou que, como estão se hidratando, os presos não correm risco se ficarem sem comer por até sete dias.
"Nesse período, o corpo usa suas próprias reservas de gordura e massa muscular".
Ele ressaltou,porém, que a resistência depende do estado geral de cada pessoa.



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