Campinas, Sábado, 24 de julho de 1999

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MEIO AMBIENTE
107 famílias vivem no Núcleo Residencial Pirelli, na região noroeste, onde há lixo depositado
Bairro sob risco de explosão é fechado

Marcos Peron/Folha Imagem
Protesto de moradores do Núcleo Residencial Pirelli, com pneus queimando na John Boyd Dunlop


LUCIANO CALAFIORI
free-lance para a Folha Campinas

A Prefeitura de Campinas interditou as ruas que dão acesso ao Núcleo Residencial Pirelli, localizado às margens do antigo aterro sanitário da cidade, na região noroeste, em razão de uma suspeita de contaminação de resíduos químicos, industriais e residenciais e do risco de explosão.
A área serviu como lixão para Campinas e região entre 72 e 84, quando foi substituída pelo aterro Santa Bárbara.
Há lixo doméstico, hospitalar e industrial no subsolo do bairro.
O local corre o risco, segundo informações da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) de especialistas, de explodir em razão da formação de bolsões de gases.
A decomposição de resíduos libera o metano, que pode até explodir se entrar em contato com faíscas.
Atualmente, 107 famílias vivem no local. Delas, seis estão exatamente onde estava o antigo lixão. Todas as famílias do bairro se recusam a deixar o local e alegam não ter para onde ir.
"Se o solo estivesse contaminado, não teríamos hortas maravilhosas e frutos. Isso (contaminação) é política", afirmou o presidente da Associação dos Moradores do Núcleo Pirelli, Delfino Aparecido Antunes, 37.

Protesto
Ontem, cerca de cem moradores do Núcleo Residencial Pirelli realizaram um protesto contra o fechamento das ruas na frente da DRO (Departamento Regional de Operações) Noroeste.
Os manifestantes bloquearam por duas horas a avenida John Boyd Dunlop.
A interdição da avenida ocorreu às 10h15 e as pistas foram liberadas somente duas horas depois, quando o diretor da DRO Noroeste, Alberto Leite, concordou em reabrir o acesso a três ruas do bairro.
Devido à interdição da John Boyd Dunlop, os motoristas da região tiveram que procurar saídas pelos bairros vizinhos ou retornar de onde vinham.
Segundo a Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas), não foi registrado trânsito lento na região durante o protesto.

Reabertura
Depois do protesto de ontem e da ameaça de novas manifestações caso o bairro continuasse interditado, a DRO se comprometeu a reabrir o acesso ao Núcleo Pirelli.
No entanto, a rua que dá acesso ao antigo lixão não será reaberta. "Abriremos só o acesso ao bairro porque não podemos deixar ninguém invadir mais a área do aterro", disse Leite.
Caso as ruas não sejam liberadas até segunda-feira, novos protestos podem ser realizados, segundo os moradores.
Segundo a prefeitura, os moradores correm risco de contaminação devido ao lixo depositado na região na década passada e que contaminou o solo da área, que tem 120 mil m2.
De acordo com especialistas em medicina preventiva consultados pela Folha ontem, os moradores correm risco de contaminação biológica por meio de vetores, como baratas e ratos.
Segundo eles, há também riscos de sofrer contaminação química devido ao contato de produtos químicos depositados há anos e a ameaça, remota, de contaminação por produtos radioativos.

Cohab
A Cohab (Companhia de Habitação Popular) de Campinas intermediou ontem uma reunião entre moradores do núcleo Pirelli e a prefeitura.
A partir de segunda-feira, outros encontros serão realizadospara discutir o que fazer com os moradores da área.
Segundo a assessoria de comunicação da Cohab, não há ainda projetos para remover os moradores da área.
O proprietário do terreno, cujo nome não foi revelado, pediu indenização na Justiça.



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