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ECONOMIA
Justiça não marcou data do leilão da única fábrica brasileira de carros; bens estão sendo furtados em Rio Claro
Falida, Gurgel vai a leilão por R$ 20 mi
RICARDO BRANDT
DA FOLHA CAMPINAS
A Gurgel Motores S/A, primeira
e única fábrica de automóveis
100% brasileira da história, falida
desde 96, está prestes a ser leiloada por R$ 20 milhões. A avaliação
do patrimônio da empresa foi divulgada na última semana.
Só a dívida trabalhista deve consumir 70% desse valor. A dívida
com o Fisco e com credores pode
chegar a R$ 70 milhões, segundo o
síndico da massa falida da empresa de Rio Claro, Jaime Marangoni.
A holding Gurgel do Brasil chegou a ser avaliada em quase R$
200 milhões, quando suas ações
foram abertas ao mercado, em 89,
segundo o herdeiro natural do patrimônio, Fernando Barbosa do
Amaral Gurgel, 42, vice-presidente da empresa e filho do idealizador do projeto, João Augusto Conrado do Amaral Gurgel.
A Justiça deve agora marcar
uma data para o leilão, se não
houver pedidos de impugnação.
Hoje, os bens da falida Gurgel
estão se deteriorando, apesar de
seus carros continuarem rodando
pelo país.
Aproximadamente 40 mil unidades foram produzidas em 27
anos de funcionamento.
Atualmente são poucas as revendas de peças ou oficinas que
atendam carros da Gurgel.
Agora, cinco anos após a Justiça
decretar a falência definitiva da
fábrica, o prédio da Gurgel, às
margens da rodovia Washington
Luiz, em Rio Claro, está fechado e
abandonado.
Dentro de seus barracões estão
máquinas, ferramentas e pelo menos 40 carrocerias de carros que
pararam na linha de produção e
fariam saltar os olhos dos colecionadores.
Falência
A falência do audacioso projeto
do empresário Amaral Gurgel é
atribuída pela família ao rompimento de um protocolo de intenções assinado com os governos de
São Paulo e do Ceará em 91.
Tanto as ações pleiteadas na
Justiça para impedir a falência como as afirmações de Fernando
Gurgel responsabilizam os ex-governadores Ciro Gomes (PPS, na
época PSDB), do Ceará, e Luiz
Antônio Fleury Filho (PTB, na
época PMDB) pelo rompimento
do acordo.
Segundo as acusações, os governos não teriam honrado um compromisso de "apoio irrestrito" ao
Projeto Delta.
Tal projeto consistia na instalação de uma fábrica em Fortaleza
(CE) para a produção da parte
motriz dos veículos, que atuaria
em conjunto com a unidade de
Rio Claro, responsável pela produção das carrocerias.
"Não me sinto nem um pouco
responsável pela falência da Gurgel. Houve um empréstimo tomado no banco do meu Estado que
não foi honrado e fiz o que tinha
que fazer", disse o presidenciável
Ciro Gomes. O ex-governador
Luiz Antônio Fleury Filho não foi
localizado pela Folha.
A empresa sofreu duas falências, uma anulada em 94, e outra
definitiva em 96.
Alguns veículos inacabados estão até hoje trancados na linha de
produção ao lado de máquinas e
equipamentos.
"É uma das maiores perdas que
a história automobilística brasileira pode ter sofrido pelo seu significado", disse o síndico da massa falida da Gurgel.
O projeto do empresário Amaral Gurgel era produzir, com tecnologia 100% brasileira, um veículo popular com qualidade.
Seus modelos mais conhecidos
foram o jipe X-12, o BR-800 e o
Supermini.
Furtos
Para agravar o final trágico da
ousada proposta do empresário
Amaral Gurgel de conquistar a independência tecnológica brasileira na fabricação de automóveis,
os bens guardados no prédio estão sendo furtados.
Até a última sexta-feira havia
mais de 30 boletins de ocorrências
registrados na Polícia Civil denunciando a invasão e o furto de
materiais e equipamentos.
O episódio mais trágico da falida Gurgel ocorreu no último dia
22 de dezembro, quando dois vigias que haviam testemunhado
contra três assaltantes presos furtando equipamentos foram assassinados dentro do prédio.
Horácio Francisco das Neves,
51, e Dorazir Marcelino Pires, 58,
foram encontrados pela manhã.
Um deles levou um tiro e o outro
foi asfixiado até a morte.
A delegada que investiga o caso,
Sueli Isler, do 1º DP (Distrito Policial), disse que os furtos começaram a se intensificar em outubro
do ano passado.
"No início, os furtos eram pequenas quantidades de fio de cobre e pequenas ferramentas. Mas
nos últimos meses os assaltantes
passaram a chegar de caminhão
para levar maquinário pesado",
disse a delegada.
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