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CULTURA
O secretário da Cultura, Esportes e Turismo de Campinas fala em entrevista sobre os projetos para a pasta neste ano
Para Coli, verba de 2001 é insuficiente
DA FOLHA CAMPINAS
Os R$ 17 milhões destinados à
Secretaria da Cultura neste ano
são insuficientes, afirma o secretário da Cultura, Esportes e Turismo de Campinas, Jorge Coli. Para
ele, o dinheiro -que representa
2,2% do Orçamento de 2001 (R$
764 milhões)- é suficiente apenas para as despesas da própria
pasta.
Entre os projetos do secretário
para este ano, estão o de levar a
Orquestra Sinfônica para pequenos concertos na periferia e promover um festival de hip-hop e o
intercâmbio cultural com a América Latina e com a África.
Coli não comentou os projetos
na área de esportes porque ainda
não definiu o diretor da área.
Leia os principais trechos da entrevista que Coli concedeu à Folha por e-mail.
(DIOGO PINHEIRO)
Folha - Qual o projeto da Secretaria da Cultura para o Carnaval 2001
em Campinas?
Jorge Coli - O retorno do Carnaval em Campinas foi afirmado
desde a campanha eleitoral do
atual prefeito. Este ano, nós temos
que lutar contra o tempo, para
que ele aconteça da melhor maneira possível. As definições estão
sendo ultimadas pela comissão
encarregada de desenvolver o
projeto. O prefeito tem se empenhado diretamente nesse processo. É importante que haja um
Carnaval na cidade, mesmo que
ele talvez seja menos brilhante do
que gostaríamos.
Folha - Quais os principais projetos da secretaria para a popularização da cultura?
Coli - Partimos do princípio de
uma formação de público, tanto
ampliando o número de pessoas
no acesso à cultura, quanto na
possibilidade de uma boa fruição
dos objetos culturais. Nesse sentido, uma colaboração com as escolas é essencial, já que por aí o público jovem pode ser atingido. É
possível deslocar certas manifestações culturais para as regiões
mais carentes. Por exemplo, o
maestro Aylton Escobar quer levar à periferia naipes isolados da
orquestra, digamos, metais e percussão, ou cordas, ou madeiras
-possíveis de serem apresentados em locais de pequenas dimensões e mais facilmente deslocados do que uma orquestra inteira. Isso não impedirá que grandes
concertos sejam realizados em
bairros diversos. Com espírito semelhante, haverá projetos envolvendo artes plásticas, teatro, dança etc.. Mas é preciso assinalar que
o movimento contrário também é
importante: trazer esse mesmo
público para as manifestações
que ocorrem em museus, salas de
concerto, de teatro etc. Buscaremos formar monitores vindos da
própria periferia para este trabalho. É importante assinalar que
formas culturais desenvolvidas na
periferia terão lugar nas manifestações oficiais da secretaria: estamos já planejando um festival de
hip-hop local; prevemos uma exposição de grafiteiros no Macc
(Museu de Arte Contemporânea
de Campinas) ainda este ano. Para que a cultura tenha uma energia de fato vigorosa, é necessário
quebrar preconceitos e barreiras.
Investiremos também muito na
Rádio Educativa, melhorando
suas instalações e potência, utilizando-a como instrumento de
criação e divulgação de cultura.
Quanto aos festivais de teatro, serão estimulados sem dúvida. Assinalo que a atual Campanha de
Popularização do Teatro, em curso, conta com um público que está lotando o teatro do Convivência e respondendo de modo entusiasmado às peças apresentadas.
Folha - Que outros projetos serão
realizados para incentivar a produção cultural na cidade?
Coli - A lista seria muito grande
para expor aqui. Essa pergunta
envolve, de modo crucial a questão de financiamento. Qualquer
projeto para a cultura em Campinas encontra dois limites crônicos
e sérios. Um deles é o fato de que
os espaços culturais da cidade são
muito poucos, menos do que um
mínimo razoável. O outro é a falta
de dinheiro público para uma política cultural satisfatória. Não é
segredo para ninguém a precária
situação financeira da prefeitura.
Está claro que buscaremos recorrer à iniciativa privada para financiamentos e parcerias: caso contrário, nenhum projeto poderá
ser conduzido a termo. O apoio
da iniciativa privada é essencial.
Porém quando se torna o meio
único e exclusivo para obtenção
de fundos, ela cria dependências e
um caráter aleatório, que prejudicam o desenvolvimento de uma
coerência dos projetos. Felizmente, os contatos que estabelecemos
com a iniciativa privada permitem certo otimismo, e temos que
contar com ela para efetivá-los.
Folha - De que forma será aplicada a verba da secretaria?
Coli - A verba prevista para a secretaria compreendendo cultura,
esportes e turismo no Orçamento
de 2001 é de aproximadamente
R$ 17 milhões. Isso pode parecer
muito, mas mal basta para sustentar os serviços oferecidos pela secretaria, que envolvem desde a folha de pagamento dos músicos da
orquestra, funcionários, até a manutenção aos diversos equipamentos culturais.
Folha - Com relação aos problemas de infra-estrutura do Centro
de Convivência (goteiras, infiltrações e problemas elétricos), o que
será feito?
Coli - A secretaria tem consciência dos problemas de infra-estrutura do Centro de Convivência
que são, de fato, sérios. Há projetos destinados a saná-los. É uma
prioridade, com custos elevados,
que enfrentaremos.
Folha - É intenção da secretaria
restaurar prédios antigos da cidade para que sejam usados como espaços culturais?
Coli - O prefeito é um arquiteto
apaixonado pelo patrimônio; eu
mesmo empenhei-me muitas vezes na defesa desse mesmo patrimônio; o diretor de cultura da Secretaria, Marcos Tognon, é também arquiteto e historiador da arquitetura, especializado especificamente nesta questão. Nós dedicaremos boa parte de nossos esforços na defesa, restauração e revitalização do patrimônio.
Folha - O prefeito Antonio da Costa Santos disse que Campinas será
incluída no projeto de Mercocidade. Quais serão os benefícios para
Campinas?
Coli - O intercâmbio cultural
com a América Latina deve ser
implantado e desenvolvido. Temos já refletido, em conjunto
com o professor Fábio Magalhães, nas possibilidades de associarmos o Memorial da América
Latina em projetos que envolvam
o continente. O maestro Aylton
Escobar, cuja carreira sempre esteve grandemente voltada para a
América Latina, terá um papel essencial nessas trocas. Quero, porém, acrescentar uma outra perspectiva: a de relações culturais
com a África.
Folha - O que o secretário acha da
atual produção cultural de Campinas e de que forma pretende melhorá-la?
Coli - Uma produção cultural de
alta qualidade e interesse, onde
quer que seja, depende de vários
fatores e não apenas econômicos.
Não há uma forma genérica para
estimular a cultura, nem é bom
que se venha com um projeto abstrato a ser aplicado de cima para
baixo: é preciso partir das realidades locais, é preciso aprender com
elas e, levando-as em conta, perceber caminhos novos.
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