Campinas, Domingo, 28 de Janeiro de 2001

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CULTURA
O secretário da Cultura, Esportes e Turismo de Campinas fala em entrevista sobre os projetos para a pasta neste ano
Para Coli, verba de 2001 é insuficiente

DA FOLHA CAMPINAS

Os R$ 17 milhões destinados à Secretaria da Cultura neste ano são insuficientes, afirma o secretário da Cultura, Esportes e Turismo de Campinas, Jorge Coli. Para ele, o dinheiro -que representa 2,2% do Orçamento de 2001 (R$ 764 milhões)- é suficiente apenas para as despesas da própria pasta.
Entre os projetos do secretário para este ano, estão o de levar a Orquestra Sinfônica para pequenos concertos na periferia e promover um festival de hip-hop e o intercâmbio cultural com a América Latina e com a África.
Coli não comentou os projetos na área de esportes porque ainda não definiu o diretor da área.
Leia os principais trechos da entrevista que Coli concedeu à Folha por e-mail.
(DIOGO PINHEIRO)

Folha - Qual o projeto da Secretaria da Cultura para o Carnaval 2001 em Campinas?
Jorge Coli - O retorno do Carnaval em Campinas foi afirmado desde a campanha eleitoral do atual prefeito. Este ano, nós temos que lutar contra o tempo, para que ele aconteça da melhor maneira possível. As definições estão sendo ultimadas pela comissão encarregada de desenvolver o projeto. O prefeito tem se empenhado diretamente nesse processo. É importante que haja um Carnaval na cidade, mesmo que ele talvez seja menos brilhante do que gostaríamos.
Folha - Quais os principais projetos da secretaria para a popularização da cultura?
Coli - Partimos do princípio de uma formação de público, tanto ampliando o número de pessoas no acesso à cultura, quanto na possibilidade de uma boa fruição dos objetos culturais. Nesse sentido, uma colaboração com as escolas é essencial, já que por aí o público jovem pode ser atingido. É possível deslocar certas manifestações culturais para as regiões mais carentes. Por exemplo, o maestro Aylton Escobar quer levar à periferia naipes isolados da orquestra, digamos, metais e percussão, ou cordas, ou madeiras -possíveis de serem apresentados em locais de pequenas dimensões e mais facilmente deslocados do que uma orquestra inteira. Isso não impedirá que grandes concertos sejam realizados em bairros diversos. Com espírito semelhante, haverá projetos envolvendo artes plásticas, teatro, dança etc.. Mas é preciso assinalar que o movimento contrário também é importante: trazer esse mesmo público para as manifestações que ocorrem em museus, salas de concerto, de teatro etc. Buscaremos formar monitores vindos da própria periferia para este trabalho. É importante assinalar que formas culturais desenvolvidas na periferia terão lugar nas manifestações oficiais da secretaria: estamos já planejando um festival de hip-hop local; prevemos uma exposição de grafiteiros no Macc (Museu de Arte Contemporânea de Campinas) ainda este ano. Para que a cultura tenha uma energia de fato vigorosa, é necessário quebrar preconceitos e barreiras. Investiremos também muito na Rádio Educativa, melhorando suas instalações e potência, utilizando-a como instrumento de criação e divulgação de cultura. Quanto aos festivais de teatro, serão estimulados sem dúvida. Assinalo que a atual Campanha de Popularização do Teatro, em curso, conta com um público que está lotando o teatro do Convivência e respondendo de modo entusiasmado às peças apresentadas.
Folha - Que outros projetos serão realizados para incentivar a produção cultural na cidade?
Coli - A lista seria muito grande para expor aqui. Essa pergunta envolve, de modo crucial a questão de financiamento. Qualquer projeto para a cultura em Campinas encontra dois limites crônicos e sérios. Um deles é o fato de que os espaços culturais da cidade são muito poucos, menos do que um mínimo razoável. O outro é a falta de dinheiro público para uma política cultural satisfatória. Não é segredo para ninguém a precária situação financeira da prefeitura. Está claro que buscaremos recorrer à iniciativa privada para financiamentos e parcerias: caso contrário, nenhum projeto poderá ser conduzido a termo. O apoio da iniciativa privada é essencial. Porém quando se torna o meio único e exclusivo para obtenção de fundos, ela cria dependências e um caráter aleatório, que prejudicam o desenvolvimento de uma coerência dos projetos. Felizmente, os contatos que estabelecemos com a iniciativa privada permitem certo otimismo, e temos que contar com ela para efetivá-los.
Folha - De que forma será aplicada a verba da secretaria?
Coli - A verba prevista para a secretaria compreendendo cultura, esportes e turismo no Orçamento de 2001 é de aproximadamente R$ 17 milhões. Isso pode parecer muito, mas mal basta para sustentar os serviços oferecidos pela secretaria, que envolvem desde a folha de pagamento dos músicos da orquestra, funcionários, até a manutenção aos diversos equipamentos culturais.
Folha - Com relação aos problemas de infra-estrutura do Centro de Convivência (goteiras, infiltrações e problemas elétricos), o que será feito?
Coli - A secretaria tem consciência dos problemas de infra-estrutura do Centro de Convivência que são, de fato, sérios. Há projetos destinados a saná-los. É uma prioridade, com custos elevados, que enfrentaremos.
Folha - É intenção da secretaria restaurar prédios antigos da cidade para que sejam usados como espaços culturais?
Coli - O prefeito é um arquiteto apaixonado pelo patrimônio; eu mesmo empenhei-me muitas vezes na defesa desse mesmo patrimônio; o diretor de cultura da Secretaria, Marcos Tognon, é também arquiteto e historiador da arquitetura, especializado especificamente nesta questão. Nós dedicaremos boa parte de nossos esforços na defesa, restauração e revitalização do patrimônio.
Folha - O prefeito Antonio da Costa Santos disse que Campinas será incluída no projeto de Mercocidade. Quais serão os benefícios para Campinas?
Coli - O intercâmbio cultural com a América Latina deve ser implantado e desenvolvido. Temos já refletido, em conjunto com o professor Fábio Magalhães, nas possibilidades de associarmos o Memorial da América Latina em projetos que envolvam o continente. O maestro Aylton Escobar, cuja carreira sempre esteve grandemente voltada para a América Latina, terá um papel essencial nessas trocas. Quero, porém, acrescentar uma outra perspectiva: a de relações culturais com a África.
Folha - O que o secretário acha da atual produção cultural de Campinas e de que forma pretende melhorá-la?
Coli - Uma produção cultural de alta qualidade e interesse, onde quer que seja, depende de vários fatores e não apenas econômicos. Não há uma forma genérica para estimular a cultura, nem é bom que se venha com um projeto abstrato a ser aplicado de cima para baixo: é preciso partir das realidades locais, é preciso aprender com elas e, levando-as em conta, perceber caminhos novos.


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