Campinas, Sábado, 31 de Março de 2001

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AMBIENTE
Cerca de 200 moradores terão que deixar área contaminada em Paulínia; denúncia cita falha em estocagem
Promotoria pede saída de área da Shell

Valéria Abras/Folha Imagem
O morador de Paulínia Clóvis Rodrigues Bueno, 38, com filha no colo, que diz não ter para onde ir


ANA PAULA MARGARIDO
RAQUEL LIMA
DA FOLHA CAMPINAS

O Ministério Público de Paulínia pediu ontem a todos os 200 moradores do bairro Recanto dos Pássaros, supostamente contaminados por pesticidas produzidos pela empresa Shell Brasil, que deixem suas casas imediatamente.
O pedido foi feito com base em informações sigilosas obtidas pela Promotoria e que só deverão ser divulgadas na segunda-feira.
Os moradores apresentaram ao promotor Gilberto Porto Camargo um ex-funcionário da Shell que afirmou haver falhas no processo de estocagem de cinzas tóxicas, manipulação de metais pesados e falha na incineração de produtos tóxicos.
A Shell informou ontem não ter sido notificada do pedido de evacuação da área e não comentou as denúncias do ex-funcionário.
Em uma reunião a portas fechadas ontem, na Prefeitura de Paulínia, o promotor e integrantes da Secretaria Municipal de Vigilância à Saúde e a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) tentavam decidir para onde levar as famílias.
O resultado da reunião não foi divulgado. As famílias afirmam não ter para onde ir.
"Não sei o que fazer. Todos os meus parentes já moram de aluguel", disse o morador do local Clóvis Rodrigues Bueno, 38.
Ontem, membros do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente de São Paulo) gravaram depoimentos dos moradores supostamente contaminados.
O material será enviado à OMS (Organização Mundial da Saúde) e vai servir como subsídio para que seja suspensa a produção de Drins na África.
Os Drins (Aldrin, Eldrin, Dieldrin), defensivos usados para matar formigas e cupins em lavouras, são potencialmente cancerígenos, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
Em 1995, a Shell protocolou autodenúncia no Ministério Público afirmando que havia contaminado o solo e o lençol freático.
Exames constataram a presença de metais pesados no organismo de três moradores. Os metais encontrados foram arsênico, alumínio, níquel, berílio e chumbo.
A presença de metais pesados na água e no solo foi confirmada pelo laudo da empresa holandesa, Haskoning -contratada pela Shell para avaliar a área.
De acordo com o documento, "nos casos em que, na área residencial, a água subterrânea é utilizada para beber, há de fato risco para adultos e crianças, com base na elevada concentração de óleo mineral" no lençol freático.
"Além disso, o risco para humanos está presente, com base na elevada concentração de Dieldrin na água, ao redor do lote 1849", conclui o relatório da Haskoning.
O conselheiro do Consema, Carlos Bocuhy, disse ontem que Cetesb foi omissa em não fiscalizar a Shell e não multá-la, quando soube da contaminação.
O setor de epidemiologia do DMP (Departamento de Medicina Preventiva) da USP (Universidade de São Paulo) vai ajudar a Vigilância Sanitária de Paulínia na análise dos dados na região do Recanto dos Pássaros.
O Greenpeace marcou para a próxima semana uma audiência com o promotor de Paulínia para verificar o andamento do Termo de Ajustamento de Conduta Procedimental (TAC), que ainda não foi assinado.


Colaborou Ademar Martins Ferreira, free-lance para a Folha Campinas

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