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Carreiras e Empregos

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Pé no freio

Empresas reduzem contratações, alongam processos seletivos e ficam menos agressivas com os salários

REINALDO CHAVES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Após anos com recordes de geração de vagas, grandes agências de recrutamento, empresas e especialistas dizem que a febre do emprego acabou no Brasil.

Eles projetam meses de freio nas contratações e até demissões devido aos baixos índices de crescimento no país.

Nas estatísticas oficiais o saldo menor de geração de empregos (diferença entre contratações e desligamentos) já aparece. Segundo o Ministério do Trabalho, no acumulado de janeiro a julho foram criados 907.214 postos formais, pior resultado para o período desde 2009.

A boa notícia é que a desaceleração do mercado deve ser lenta, com piores resultados apenas em 2015, o que dá espaço para que os profissionais se adaptem a esse novo momento.

Marcelo Cuellar, gerente da empresa de recrutamento Michael Page, uma das maiores do país, diz que há redução na demanda inclusive por funcionários que as empresas dizem ter dificuldades para encontrar no país, como engenheiros.

"Havia muitos projetos e uma demanda absurda por engenheiros até meados do ano passado. Hoje, já tenho casos de consultores e outros pessoas que ficam em casa esperando tarefas", afirma.

Marcelo Ferrari, gerente de novos negócios da consultoria Mercer, aponta que o tempo de reposição de funcionários está mais longo, com processos de seleção mais criteriosos e demorados.

As companhias também estão menos agressivas na hora de contratar, diz. "Em 2010, ainda víamos companhias fazendo loucuras, oferecendo salários 50%, 100% maiores para tirar um funcionário de uma empresa, e ainda oferecendo gordos bônus e luvas. Isso diminuiu muito."

Segundo pesquisa do Hay Group em 450 empresas, os diretores das companhias tiveram seus ICP (incentivos de curto prazo), como bônus e participação nos lucros e resultados, caindo de uma média de 7,9 para 5,2 salários extras entre 2011 e 2012. Para a gerência, o ICP passou de 3,2 para 2,7 salários.

A Cia. Hering, que tem 8.500 funcionários, é um exemplo disso. A empresa cresceu 9% no ano passado, índice abaixo do esperado, e não pagou PLR.

Isso levou a companhia a mudar a forma como avalia seus funcionários para aumentar a produtividade.

"Não perdemos funcionários, mas passamos a ter um processo de avaliação do desempenho mais detalhado. Usamos um modelo que cruza informações do que o funcionário entrega e sobre a forma como ele produz. Isso mostra mais sobre a qualidade da produção, diz Alessandra Morrison, diretora de gestão de pessoas da Cia. Hering.

FAÇA MAIS

Quando o crédito no país estava mais barato e o endividamento do consumidor estava menor, até trabalhadores pouco qualificados estavam sendo contratados. O problema é que esses profissionais são pouco produtivos, o que exige a contratação de vários para realizar uma mesma função. Com a economia em baixa, isso mudou.

"A tendência no país hoje é se fazer contratações de pessoas cujo o desempenho seja relevante. O objetivo é não continuar com quadros de empregados inchados", comenta a diretora-executiva da Quality Training Recursos Humanos, Marisa Ayub.

O caminho inevitável para isso é a capacitação, conduta que a relações públicas Camila Leite Bastos, 29, afirma estar seguindo. Ela já trabalhou com marketing e "branding" (gestão de marcas), áreas ainda aquecidas no Brasil, mas que, segundo ela, já estão perto da saturação de profissionais.

Neste ano, Bastos fez um curso de "design thinking", técnica para a geração de ideias por meio da colaboração e da experimentação.

"Fui em busca de maneiras de melhorar a execução de meus projetos, ter mais rapidez e eficácia", diz.

Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de economia aplicada da FGV/Ibre, diz que setores que estavam segurando o desemprego ano passado, como o comércio e serviços, perderam força --devem começar a sofrer primeiro os trabalhadores menos qualificados.

Vistos como uma forma de reduzir o problema, programas como o PEQ (Programa Estadual de Qualificação Profissional), do governo de São Paulo, esperam uma maior demanda em 2013. No ano passado, foram 6.144 vagas e neste estão disponíveis 7.800.

A auxiliar de departamento pessoal Jaqueline Baradel, 41, está desempregada desde o começo do ano e resolveu fazer dois cursos de uma vez: auxiliar de departamento pessoal e técnico em contabilidade.

"Fiz esses cursos porque nem te chamam para uma entrevista se você não tiver o básico", conta.

DA TEORIA À PRÁTICA

Para Juliano Ballarotti, diretor da consultoria Hays em São Paulo, o Brasil tem problemas também com profissionais que têm vários anos de estudo, mas não conseguem colocar esse conhecimento na prática.

Por isso, profissionais técnicos, que em tese têm a formação exata para produzir, devem ganhar força."Não adianta todo mundo ter graduação ou pós. O mercado procura primeiro aqueles com uma educação para exercer funções específicas", diz.

Para voltar ao mercado, Leandro Lopes, 30, pesquisou sobre as necessidades das empresas. Ele trabalhava com manutenção de impressoras de códigos de barras, mas perdeu o emprego.

"Eu procurei um curso para ampliar minhas possibilidades e soube da opção de trabalhar com impressoras multifuncionais. É uma tendência as empresas alugarem esses equipamentos para reduzir gastos, então tem muito trabalho disponível."

O curso de três meses, de manutenção e montagem de copiadoras e multifuncionais, foi feito de graça na Etec (Escola Técnica Estadual) de Arthur Alvim, na zona leste de São Paulo.

Ele foi contratado por uma empresa de "outsourcing" (terceirização) de impressoras e chega a atender sete clientes por dia.


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