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Fiscal 2.0

Aplicativos sobre problemas urbanos tentam convencer prefeituras a pagar para gerenciar críticas

Buracos na rua, lâmpadas queimadas e semáforos que não funcionam são vistos como oportunidades de negócio por empresários brasileiros: eles querem ajudar a população a reclamar desses problemas na internet e faturar com isso. Falta convencer as prefeituras.

Estão surgindo no país aplicativos e redes sociais específicos para que os internautas apontem esse tipo de problema. Enquanto um post no Facebook pode gerar muito barulho, mas nenhuma resposta do poder público, nesses sites as demandas são enviadas para o órgão competente e é possível acompanhar sua resolução.

Há um certo interesse nessas ferramentas, ao menos na ótica de investidores. O Colab.re, que tem 50 mil usuários, vai receber investimento de R$ 3,5 milhões do grupo A5 Internet Investments, e o Cidadera tem entre seus sócios dois diretores da Rocket Internet.

O Reclame Aqui, site que ficou famoso por oferecer um serviço parecido para consumidores insatisfeitos com empresas, também tem uma versão para cidades.

Maurício Vargas, presidente da companhia, aposta que, assim como a iniciativa privada topa pagar de R$ 300 a R$ 20 mil para gerenciar as reclamações públicas de clientes feitas no serviço e em outras redes sociais, administradores públicos vão fazer o mesmo no futuro.

"É algo praticamente impossível no momento, porque o político atual não quer aparecer. Mas no início do Reclame Aqui, há 12 anos, acontecia o mesmo com as empresas", afirma Vargas.

Hoje, 480 companhias são clientes do site. No formato para a administração pública, há 3.400 cidades no cadastro --nenhuma delas paga pelo serviço.

Por enquanto, esses portais têm conseguido firmar parcerias com prefeituras e câmaras municipais para repassar as informações ou oferecer gratuitamente um sistema de gestão dessas demandas.

Falta criar serviços que sejam pagos e permitam sua sobrevivência financeira.

RETORNO

Paulo Humberg, presidente-executivo da A5, que investiu no Colab.re, diz que seu fundo "não tem nenhum conceito social" e que "só faz investimento para ter retorno financeiro". Mas a aposta é de longo prazo, para daqui a dez anos.

Gustavo Maia, um dos sócios da empresa, afirma que a ideia é criar ferramentas para que as cidades tenham uma "gestão colaborativa". Será possível fazer pesquisas ou obter relatórios sobre o perfil dos reclamadores. Os preços estão em análise.

"Seguramos o lado comercial porque ainda não tínhamos o produto tão bem resolvido", explica Maia.

Thiago Christof, 34, cofundador do Cidadera, diz que "duas dezenas de cidades" estão interessadas no sistema da empresa: uma ferramenta administrativa para gerenciar reclamações e enviar respostas à população.

"Por incrível que pareça, as cidades querem resolver problemas. Só que fazem isso com sistema de papel. As demandas caem em um buraco negro", diz Christof.

Um sistema que o empresário usa como exemplo de modelo de negócios viável é o norte-americano SeeClickFix, que tem 1.086 cidades como clientes, entre elas algumas de porte considerável, como Houston (Texas) e a capital Washington.

Os municípios pagam entre US$ 5.000 e US$ 50 mil por ano para usar a plataforma --a principal reclamação postada costuma ser o depósito irregular de lixo nas vias públicas.

Ben Berkowitz, 34, diz que até tem uma equipe comercial, mas que a maior parte dos municípios cadastrados procurou a empresa para usar a plataforma. "Os próprios cidadãos convenceram as cidades", afirma.

Segundo ele, a ferramenta faz os governantes entenderem melhor as exigências pontuais da população: por um sistema de geolocalização, é possível identificar o ponto exato do problema.

"Muitas vezes, as prefeituras não entendem por que as pessoas estão bravas, pois as reclamações são genéricas", afirma o empreendedor.

RESULTADO DEMORADO

Mesmo com a atual base de clientes, a SeeClickFix, fundada em 2008, ainda não dá lucro. Marcelo Nakagawa, professor do instituto de ensino Insper, diz que é comum que empresas que tenham governos como principais clientes demorem mais para dar resultados.

No Brasil, isso acontece porque a negociação demora mais do que uma transação comercial. Para ganhar um cliente, em geral é preciso participar de um processo de chamada pública, em uma concorrência demorada.

Ele afirma também que é mais difícil atrair usuários e estimulá-los a protestar pelos problemas. "A pessoa vê o buraco e acha que está tudo bem. Não é uma dor pessoal", afirma o professor.

Diogo Tolezano, diretor da Artemisia, organização que fomenta negócios sociais, recomenda que, ao menos no início da operação, esse tipo de empresa busque outros tipos de público para sustentar a operação.

Os responsáveis pelo aplicativo MyFunCity, que permite que os usuários avaliem e enviem sugestões sobre aspectos de uma cidade, como saúde, educação e custo de vida, faturam com a venda de publicidade e vão oferecer réplicas do sistema para empresas --a ideia é que, em troca de prêmios, consumidores possam dar notas para produtos.

"A gente vende isso como um sistema de tendências customizado sobre aquela empresa", explica Mauro Motoryn, 62, fundador do MyFunCity. A empresa é parceira do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.


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