Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Carreiras e Empregos

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Motivação ou assédio?

Deixar de se envolver em treinamentos constrangedores causa receio, mas empresa não pode exigir participação nesses eventos

ANDRÉ CABETTE FÁBIO DE SÃO PAULO

Andar sobre brasas, levar borrifadas de água na cara e doses de sal grosso no corpo ou até dançar "Eguinha Pocotó". Todos esses métodos já foram usados por empresas brasileiras para motivar seus funcionários e fazer com que eles vendessem mais. Além de fatalmente acabarem na Justiça, essas práticas têm eficácia questionável.

"Muitas empresas importam modismos dos Estados Unidos sem uma atitude crítica. Essa cultura competitiva é bem típica dos americanos", diz Denize Dutra, que coordena o MBA de recursos humanos da FGV-SP.

Recentemente, a distribuidora de medicamentos Santa Cruz teve recurso negado pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho), que a condenou a indenizar Grimaldo Lucas de Souza, 43, em R$ 50 mil por fazê-lo andar descalço sobre brasas em uma ação motivacional em 2006.

Souza, que era gerente comercial em Belo Horizonte, conta que 150 pessoas participaram da atividade, entre elas uma funcionária com uma prótese de perna.

O objetivo da ação era mostrar que os funcionários eram capazes de tudo se tivessem motivação para o trabalho.

"Eu pensava: se eu não for, serei demitido? Vou virar o cara que puxou a equipe para baixo? Vou virar piada?", afirma. Procurada, a empresa não comentou o caso.

De acordo com André Camargo, coordenador de pós-graduação em direito do Insper, as empresas não devem obrigar os funcionários a participar de ações que julgam desagradáveis e têm que deixar isso claro para eles.

"A pessoa é levada a participar de muitas atividades porque há um discurso subliminar de que quem não participa não é proativo e não tem iniciativa", avalia Dutra.

DÁ RESULTADO?

Para Leni Hidalgo, que leciona sobre liderança no Insper, esse tipo de prática molda o comportamento via punição, mas não motiva --ou seja, pode até funcionar por causa da pressão exercida sobre o funcionário.

Para motivar uma pessoa, é preciso que ela se identifique com a razão de ser da companhia, que pode ser inovação, atuação global ou sustentabilidade, por exemplo.

Lourdes Scalabrin, diretora estratégica do Grupo Empreza, que trabalha com seleção e treinamento, defende a motivação diária, com reuniões de equipe que façam com que o funcionário se sinta reconhecido e seguro.

"Não adianta só fazer discursos ou dinâmicas", afirma JB Vilhena, presidente do Instituto MVC, uma consultoria em relações humanas.

Campanhas e concursos pontuais servem para resultados rápidos sobre equipes de vendas, por exemplo. "Viagens, bônus ou mesmo reconhecimento em rankings ou com uma carta do presidente para os que vendem mais não custam muito, mas motivam", afirma Scalabrin.

Vilhena, do MVC, diz que o enfoque em competição está ultrapassado. Ele defende treinamentos que promovam a ação em grupo.

"Há uma proposta em que a equipe organiza um jantar compartilhado. No final, é preciso conversar sobre como o trabalho em grupo dá resultados melhores", diz.

ASSÉDIO MOTIVACIONAL

Se valorizar os melhores pode motivar a equipe, apontar quem tem os piores resultados pode ter o efeito contrário e abre espaço para processos na Justiça, pondera Scalabrin, do Grupo Empreza.

A operadora de telemarketing Fernanda Ribeiro, 35, trabalhou de 2008 a 2010 vendendo jazigos por telefone.

"Na hora em que o gerente ia embora, ele apontava quem não tinha vendido e tocava a música da novela Escrava Isaura'. Era um clima muito forçado", lembra.

O mesmo chefe borrifava água e fazia os funcionários dançarem quando vendiam pouco. Daniel Gonçalves, advogado de Ribeiro, afirma que ela recebeu R$ 3.900 por danos morais da empresa.

Um caso de que ganhou repercussão nacional é o do grito motivacional do Walmart. Dezenas de funcionários processaram a empresa alegando terem sido coagidos a cantar e dançar.

A rede informa que o grito busca descontrair e que a participação é opcional.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página