'Lego para engenheiros' bate o recorde de financiamento coletivo
Projeto de produto a ser usado por estudantes recebeu R$ 603 mil
O projeto de um "Lego para engenheiros e arquitetos" bateu o recorde de arrecadação de dinheiro por "crowdfunding" (financiamento coletivo) no Brasil. O produto, que se chama Mola e serve para estudar o comportamento das estruturas durante o desenvolvimento de uma edificação, levantou R$ 603,8 mil, 12 vezes mais do que o que havia sido pedido inicialmente.
O criador do "brinquedo" é o arquiteto Márcio Sequeira, 34. Ele teve a ideia de criar o produto porque tinha dificuldades para entender o assunto. "As estruturas são calculadas para que você não as veja se movendo ou se deformando, o que as transforma em algo abstrato", conta.
Ele criou um modelo com pecinhas de madeira e molas para tornar esses conceitos palpáveis. Daí surgiu o projeto do produto, que ficou dez anos em desenvolvimento --a tese de mestrado de Sequeira serviu para que ele validasse cientificamente a ideia.
O arquiteto procurou investidores e tentou enquadrar o Mola em programas de incentivo do governo, mas não teve sucesso. "As pessoas achavam que era um produto muito específico, que não teria retorno."
Os recursos serão usados para a produção da primeira tiragem produto, composta por 2.000 kits. Os itens serão vendidos pela internet.
O foco são estudantes de engenharia e arquitetura e profissionais dessas áreas, mas o empreendedor também pensa em criar uma linha infantil. "A gente pode fazer algo livre de conceitos teóricos, de brincadeira mesmo, com peças coloridas."
Felipe Caruso, coordenador de comunicação da plataforma de financiamento Catarse, na qual foi feita a campanha, diz que o arquiteto conseguiu tanto dinheiro por ter feito um bom trabalho de "mapeamento e aquecimento de rede".
"O Márcio montou um banco de dados com 10 mil e-mails de possíveis interessados e foi acionando influenciadores um ano antes da campanha ir pro ar", diz.
Apesar de a arrecadação virtual em si ter durado apenas 45 dias, o arquiteto passou meses dando palestras para mostrar os protótipos.
O resultado do Mola mostra uma mudança no apetite dos internautas brasileiros para financiar produtos. Entre os mil primeiros projetos bem-sucedidos do Catarse, completados em abril, 63% eram de música, cinema, vídeo, teatro e de quadrinhos.
Mas no segundo semestre deste ano houve quatro quebras de recorde de arrecadação, que antes pertencia à banda carioca Forfun (R$ 187 mil para a gravação de um DVD). Desses, três são produtos: o Mola e mais dois jogos. (FELIPE MAIA)