Fundos investem mais dinheiro em menos empresas
Investimento total em pequenos negócios cresceu 17% neste ano, mas número de aportes divulgados caiu
Crise faz investidores buscarem companhias mais bem preparadas e obriga empreendedores a baixar os preços
Mesmo em um ano de crescimento baixo, com dois trimestres em recessão técnica e incertezas por causa das eleições, cresceram os aportes de fundos de investimentos em pequenas e médias empresas e start-ups (companhias iniciantes).
A conclusão é de um levantamento feito a pedido da Folha pela consultoria TTR - Transactional Track Record, que mapeia apenas as operações anunciadas publicamente no Brasil. Fundos de capital de risco investiram R$ 1,04 bilhão nesses negócios entre janeiro e novembro deste ano, contra R$ 886,41 milhões de 2013 (alta de 17%).
Isso apesar de a TTR ter registrado 104 aportes neste ano, contra 128 em 2013. Houve menos apostas, mas com valores maiores e em companhias de maior potencial.
O presidente-executivo da Confrapar, Carlos Eduardo Guillaume, que administra três fundos com R$ 200 milhões disponíveis, conta que a atividade mais fraca da economia fez a gestora mudar de estratégia. "Entramos ou nos mantivemos em setores não atrelados ao crescimento do país ou que irão continuar crescendo, como educação e saúde por terem ainda baixo uso de tecnologia", conta.
Guillaume diz que em 2013 realizou três aportes, com valores entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões. Neste ano foram cinco investimentos, variando entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões por empresa.
A preferência foi por companhias que oferecem inovação para negócios e soluções para aumentar produtividade, em geral muito procurados em épocas de diminuição de custos.
"Os investimentos em companhias com risco tecnológico não combinam com o cenário macroeconômico atual", opina.
O eBricks Early Stage vai terminar 2014 com 14 empresas no portfólio, sendo que duas serão anunciadas no início de 2015. Há R$ 60 milhões disponíveis para novos investimentos. Pedro Melzer, diretor-geral do fundo, diz que o ano ruim economicamente favoreceu os empresários mais bem preparados.
"Se de um lado essa desaceleração pode parecer ruim para o ecossistema [de empreendedorismo], por promove um amadurecimento geral. Os empreendedores que continuam nesse mercado em busca de captação de recursos são os que efetivamente estão com visão de longo prazo", afirma.
BARGANHA
Entretanto, nesse cenário os investidores ganharam mais força para negociar, fazendo com que as empresas tivessem de reduzir exigências para receber recursos. O responsável pelo mercado brasileiro na área de pesquisa e inteligência de negócios da TTR, Wagner Rodrigues, diz que, como o crédito secou, muitas companhias reduziram seus preços.
"A dificuldade de acesso ao crédito impulsiona a busca por novas formas de captar recursos e enfraquece o poder de barganha das empresas na mesa de negociação com os fundos", destaca.
Anderson Thees, sócio-fundador da Redpoint e.ventures, que administra um fundo de US$ 130 milhões (R$ 350 milhões), conta que neste ano foram feitos seis novos investimentos, número superior ao de 2013, mas não revela valores e quantos foram no ano passado.
Ele avalia que 2014 também foi prejudicado pela Copa do Mundo e pelas eleições, que tumultuaram agendas e trouxeram incertezas. Ele pondera que o mercado de fundos aproveitou para se concentrar em oportunidades de longo prazo.
"Industrias como educação, saúde e serviços financeiros continuam no radar."
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R$ 16,9 mi
foi o valor médio dos aportes em 2014 (entre os não confidenciais)
R$ 810,4 mi
foram investidos em empresas do setor de internet neste ano