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Os globalistas

Quem são os profissionais que se especializaram em viver e trabalhar fora do país

Em lugares com baixa qualidade de vida, as empresas costumam pagar um 'extra por vida dura'

Isadora Brant/Folhapress
Carolina Curimbaba participa de trabalho em grupo multicultural
Carolina Curimbaba participa de trabalho em grupo multicultural

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

Samuel Miranda, 56, teve de se acostumar a andar de mãos dadas com seus parceiros de negócios. O executivo, presidente da Petrobras na Tanzânia, diz que "é estranho, para nossa cultura, ver dois homens de mãos dadas".

Ele aprendeu, porém, que, no país onde atua, o gesto não significa demonstração de afeto. É a mais alta prova de confiança.

O executivo da estatal se tornou especialista em trabalhar fora do Brasil. Com a expansão de companhias brasileiras para outros países, mais profissionais têm de desenvolver essa capacidade de adaptação, e mais empresas têm de lidar com esse tipo de profissional. No jargão empresarial, eles são os nômades globais (ou globalistas).

Esses profissionais acumulam experiências no exterior. Algumas vezes, saem de um cargo em um país e assumem uma posição em outro.

"É um executivo que vai para onde a empresa precisa, independentemente do país de origem", diz Tatiana da Ponte, da área de capital humano da Ernst & Young Terco.

Para as empresas, as experiências internacionais são importantes em negócios globais "para gerar crescimento", destaca Liana Fecarotta, diretora de RH da Unilever. E como também são atraentes para os funcionários, podem acontecer mais de uma vez. Ela mesma já viveu no Chile, no México, na Inglaterra e nos EUA.

A segunda expatriação costuma ser mais fácil do que a primeira, afirma Ponte.

"Na primeira vez, algumas coisas que achávamos que seriam fáceis tomaram muito tempo", conta Fábio Police, 45, diretor de inovação em produtos de higiene doméstica da Unilever para a América Latina. Hoje, ele vive em Zurique, mas, antes disso, estava nos EUA.

Entre os desafios da vida prática, cita o processo para obter carteira de motorista, abrir conta no banco, encontrar escola para os filhos etc.

Na rotina de trabalho, uma das "missões" desses profissionais é identificar um sucessor que seja do país onde a empresa precisa se inserir.

Para esses profissionais, a volta para o Brasil não é motivada por saudades, mas, sim, por uma oportunidade.

Foi o que aconteceu com Mauricio Cruz, 38, da OR Realizações Mobiliárias,do grupo Odebrecht. Depois de 14 anos fora, divididos entre Peru e Angola, ele recebeu uma proposta e começou a trabalhar no Rio de Janeiro, no início deste mês.

Como vantagem adicional, salienta, os filhos dele vão conviver com a família.

CUSTO ALTO

"A oferta era boa, o salário, melhor e, a responsabilidade, maior", lista Mauricio Vilarino Miguel, 30, gerente da Andrade Gutierrez em Caracas. Anteriormente, trabalhou no Peru e em Portugal.

Miguel destaca que suas decisões profissionais afetam toda a família. A mulher não trabalha na Venezuela, e os filhos precisam ir para uma escola internacional.

"Expatriar alguém custa caro", diz Cláudio Santos, 41, vice-presidente de gente e gestão da empresa.

Entre os benefícios usados pelas empresas para convencer os profissionais a se expatriarem, ele lista passagens para que os funcionários passem feriados no país de origem, verba para hospedagem e recursos adicionais para equiparar o poder de compra, caso o país de destino tenha um custo de vida maior.

As empresas também costumam pagar remuneração extra para compensar a diferença de qualidade de vida em alguns destinos, explica Talita Donha, 32, consultora da Mercer. Esse dinheiro é chamado, em inglês, de "hardship allowance" (algo como 'extra por vida dura').

A Mercer faz rankings para estimar cidades onde esse pagamento extra deve ser menor (Viena, na Áustria) ou maior (Bagdá, no Iraque).

Não há número absoluto pago como compensação: o valor é sempre calculado em relação à remuneração do funcionário.

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