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Geração Flux

Editor da revista americana "Fast Company" explica o termo que cunhou para definir jovens que sabem tirar proveito do caos

RAUL JUSTE LORES DE NOVA YORK

Ao comparar a futurologia nos ambientes de trabalho com a previsão do tempo, o jornalista Robert Safian, 48, tornou-se uma espécie de guru do que chama de "geração flux" aquela que sabe conviver bem com trovoadas e tsunamis sempre inesperados.

Editor-chefe da revista "Fast Company", uma das preferidas dos executivos norte-americanos, Safian afirma que os novos líderes precisam trazer as experiências "de risco" para o centro dos negócios e que não dá mais para tratar a inovação como um fator paralelo ou secundário.

Safian diz que adolescentes se preparam para o mundo ao adotarem a multitarefa como algo normal. E que ninguém mais pode se convencer de que domina todas as habilidades para seu cargo.

O jornalista, que nunca esteve no Brasil, citou o "renascimento" do país como exemplo do caráter inesperado dos tempos em que vivemos.

O editor recebeu a Folha em seu escritório em um arranha-céu de Nova York.

Leia a seguir trechos da entrevista.

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NOVO LÍDER

Ao tratar da geração flux [no ano passado, Safian publicou uma reportagem que cunhou o termo ao definir jovens resilientes, que se saem bem em cenários instáveis], fiquei surpreso porque esperava que eles acreditassem mais no "crowdsourcing" [produção com conhecimentos coletivos], na união de esforços de baixo para cima e nas ideias vindas de baixo.

Mas ouvi muito que é fundamental ter líderes no topo que saibam escutar, dirigir e selecionar as boas ideias.

Um novo líder está surgindo, que precisa saber abrir mão do controle total, que desperta confiança e que ao mesmo tempo vive sob incertezas e está mais exposto. Presidentes tradicionais não ficariam confortáveis nessa nova era. Um novo tipo de líder é necessário, especialmente em grandes empresas.

O RISCO NO CENTRO

Antigamente, uma empresa grande deixava os negócios de risco de lado e a experimentação ficava a cargo de subordinados do presidente, sem causar prejuízo ao 'core' [núcleo] do negócio. Hoje, os riscos estão no centro da companhia, das grandes transformações. São outras pessoas, os subordinados, que checam se os trens estão no horário, se o negócio principal vai bem e se a máquina está funcionando.

MULTITAREFA

Preste atenção nos adolescentes de hoje: eles não têm pânico de ficar de fora. Eles são treinados para serem "multitarefa". Nós nos preocupamos quando eles estão fazendo lição de casa ouvindo música, mandando torpedos e conversando com os amigos no chat, tudo ao mesmo tempo. Mas eles já estão se treinando para o mundo que os espera, e de uma maneira muito melhor que escolas ou os pais os estão treinando para o futuro. Assim que eles se tornarem adultos e criarem suas próprias empresas, saberão como fazer seu trabalho de uma forma diferente da de hoje.

Quem tem 40 anos tem esse medo de estar perdendo alguma coisa. Usamos a expressão "Fomo", das iniciais de "fear of missing out" [medo de perder oportunidade].

COMO OS CHINESES

Os jovens da geração flux já trabalham como os chineses. Podem não ir ao escritório sete vezes por semana, mas suas mentes estão permanentemente conectadas ao trabalho por celulares, internet e afins. As fronteiras entre casa e trabalho estão difusas.

Mas trabalhar de segunda a segunda não é a melhor maneira de achar respostas para os seus problemas.

Você não vai ter a grande ideia vendo as mesmas pessoas, no mesmo ambiente. Seu cérebro precisa estar estimulado. Algumas das ideias para minhas melhores capas na revista surgiram enquanto eu estava jogando futebol com meus filhos ou vendo um comercial na TV.

A geração flux é apaixonada pelo que faz, não trabalha intensamente apenas por medo da concorrência. Eles veem oportunidades nesse mundo de caos. Outros se sentem ameaçados e, com medo, fogem. É um erro.

HARVARD NO BRASIL

Nossas escolas e universidades ainda estão no modelo do mundo industrial.

Se você criasse uma escola hoje do zero, não começaria pela construção do prédio ou por uma sala de aula com carteiras enfileiradas. Pensaria primeiro em como uma escola deve entregar a informação de forma mais eficiente.

Um ano em Harvard custa US$ 60 mil (R$ 119.340), e esse valor cresce mais que a inflação. Não é sustentável. Temos a tecnologia para que qualquer pessoa no Brasil possa ter uma aula de matemática de Harvard, uma de história de Stanford e uma de engenharia de Tóquio, mas as universidades ainda não são estruturadas assim. Ainda há pouca pressão de mercado para que elas mudem.

SABER TUDO

Você podia convencer a si mesmo como profissional de que já sabia de tudo para o seu cargo. Hoje, isso não é mais possível, foi chacoalhado. Precisamos reaprender, redescobrir e redesenhar mil coisas que já não funcionam mais. Reconsiderar nossas habilidades e ter um novo entendimento sobre novas indústrias que surgem.

Nesse cenário, o acesso à tecnologia e à banda larga é algo básico para mais informação, mais treinamento. Quem não tiver vai ficar de fora.

Em campos de refugiados na África todo mundo tem celular. Logo serão smartphones. E o aprendizado poderá até chegar pelo Facebook.

DESCUBRA POR SI

O mundo muda mais rapidamente a cada ano. Temos novos turistas, novos trabalhadores, novos estudantes e novos consumidores, e há interações novas e inesperadas. Negócios e empresários não estão preparados para tanta mudança.

Vivemos o mundo do FIO, "figure it out" (quase como um "descubra por si só"). Temos desafios sem regras, trabalhos sem modelos não fomos treinados para o que vivemos.

Precisamos descobrir como operar flexivelmente em um ambiente que sempre muda.

NARRANDO O CURRÍCULO

Vejo sites como o LinkedIn como uma oportunidade e uma extensão digital do que já acontecia na vida. Todos nós temos uma reputação e dependemos de amigos indicando e nos recomendando. Ter uma rede de contatos é algo poderoso e bastante útil.

Sempre tivemos de contar uma história sobre nós. É a nossa narrativa. Até para conquistar uma namorada. Hoje, essa narrativa está na internet.

Alguns são melhores em construir essa narrativa pessoalmente e outros fazem isso bem nas redes sociais. Cinco anos atrás, essas redes mal existiam. Daqui a três anos, pode mudar tudo.

Esse é o caos em que estamos vivendo.


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