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Profissional assume cargo de gerência cada vez mais cedo

Demografia, tecnologia e falta de mão de obra impulsionam a promoção de pessoas com menos de 30 anos para postos de comando

REINALDO CHAVES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA FELIPE MAIA DE SÃO PAULO

Liderar equipes e assumir funções de responsabilidade com menos de 30 anos. Essa é uma tendência que se identifica nas empresas brasileiras e deve se manter por ao menos duas décadas, segundo especialistas.

Os postos de gerência são estratégicos em qualquer corporação por representarem a fase de execução de diversos processos. No século 20, um profissional geralmente passava por testes que duravam anos e só era promovido a esse cargo quando tinha cerca de 35 anos.

Mas condições no país relacionadas à demografia, a novas tecnologias e à falta de mão de obra qualificada estão mudando esse cenário e fazendo com que profissionais assumam mais responsabilidades mais cedo.

"Vejo uma tendência longa no Brasil do aumento da contratação ou efetivação de gerentes mais jovens, principalmente, porque é difícil encontrar o profissional com o perfil desejado, já que falta mão de obra e muitas vezes ela tem que ser formada dentro da própria companhia", afirma Leonardo de Souza, diretor-executivo da consultoria de recrutamento especializado Michael Page.

"Outro motivo é que, se a empresa contratar um profissional mais experiente, vai pagar muito mais para tirá-lo de uma rival", diz.

Esse é o caso de Michel Sourour, gerente de implantações da NeoAssist, empresa de software de comunicação para sites de e-commerce. Sourour, 26, assumiu o cargo de chefia no ano passado. Formado em administração de empresas, ele começou em 2009 na companhia como estagiário no setor de suporte ao cliente. Após um ano e meio, migrou para o setor de implantação e foi promovido à gerência da área em março de 2012. Ele lidera cinco pessoas e tem metas semanais de produção.

"Fiz um curso de gestão de projetos e coordeno tarefas de design, pesquisa de informações e planejamento de ambientes administrativos. Faço tudo ao mesmo tempo e procuro manter uma comunicação constante com meus parceiros."

MUDANÇA DE GERAÇÃO

Em 2011, o IBGE estimou a população residente no Brasil em 195,2 milhões. As pessoas entre zero e 29 anos correspondiam a quase a metade desse total (48,6%).

Para Andreia Caine, diretora de certificação profissional da ABRH-Nacional (Associação Brasileira de Recursos Humanos), isso naturalmente impulsiona mais jovens para cargos de gerência.

"Existem mais pessoas jovens do que na faixa de 40 anos no Brasil atualmente. Estudos demográficos mostram que pelo menos até 2030, aproximadamente, isso vai persistir."

Para Souza, as empresas pesam dois fatores em uma seleção: a dificuldade de encontrar alguém com o perfil desejado e o custo de se contratar um profissional experiente. O resultado é que acabam optando por um funcionário mais novo.

"Promover um jovem gerente, muitas vezes vindo de programas de estágio ou de trainee da empresa, é uma forma de driblar a escassez de mão de obra de qualidade. Além do fato de ajudar a reter funcionários com potencial."

Em companhias maiores essa prática já é comum. A farmacêutica BMS (Bristol-Myers Squibb), por exemplo, possui um programa para que funcionários de todas as hierarquias discutam seus objetivos de carreira e como melhorar suas habilidades. A empresa também possui um comitê apenas para debater a retenção de talentos.

A gerente de produtos Renata Barbosa, 29, está no cargo desde os 25 anos e passou por diversos programas de orientação na empresa. Contratada em 2003 como estagiária de marketing, diz ter alcançado a gerência, entre outros motivos, por já conhecer bem a cultura da empresa e todos seus produtos. Hoje trabalha com um time de vendas com 62 representantes.

"Lidero alguns colegas com 30 anos de empresa. Aos poucos, a desconfiança foi vencida com muito trabalho e porque a direção acreditou em mim."

Danielle Torres, sócia-diretora da empresa de treinamento Lab SSJ, diz que, ao assumir um cargo de chefia, o jovem precisa "criar uma nova identidade", baseada em suas características pessoais e no estilo da empresa.

"Ele precisa analisar quais são os valores e a cultura da organização e definir como vai se encaixar nela", afirma.

Nesse processo, é importante que as empresas preparem o profissional para a nova função. Depois de passar por três cargos em menos de dois anos na empresa de tecnologia Globalweb, Vinícius Marinho, 21, assumiu a coordenação de uma área de vendas da companhia logo após se formar na faculdade.

Durante a adaptação, ele teve sessões de aconselhamento com seu chefe para se preparar para a nova função.

"Eram reuniões periódicas, em que ele me passava informações sobre o meu comportamento e sobre o que eu precisava melhorar. Isso me ajudava a entender o que estava fazendo de errado", conta.

A ousadia da geração Y é um aspecto que favorece a promoção de jovens à gerência. A presidente da consultoria 5 Years From Now, Béia de Carvalho, afirma que esses profissionais sabem executar diversas funções ao mesmo tempo, têm afinidade com a tecnologia e sabem compartilhar a liderança.

Carvalho diz que "é quase uma lei na gestão moderna usar a liderança compartilhada", ou seja, não se isolar dos subordinados na hora de tomar uma decisão. "Só que as gerações mais velhas não sabem agir assim. Os jovens, no entanto, já nascem compartilhando tudo", diz.

Com esse perfil, o administrador Fernando de Lima Ribeiro, 27, foi escolhido em setembro como gerente de contas e operações logísticas da multinacional espanhola Avanza. Ele instalou no Rio de Janeiro a primeira filial de logística no país para oferecer "outsourcing" (terceirização) de serviços e processos.

Ribeiro usa a tecnologia para melhorar processos e aumentar a comunicação.

"Na minha área, temos muitas pessoas mais velhas que estão acostumadas a fazer tudo sempre igual porque sempre foi feito assim. Isso é superado com fatos e dados."

Carvalho ressalva que, se já é comum encontrar gerentes bastante jovens, os altos diretores e os presidentes ainda são de gerações anteriores. "Esse é um dos desafios que as novas gerações têm que superar: a luta pela credibilidade", argumenta.

Outro desafio é liderar pessoas mais velhas ou colegas que antes ocupavam o mesmo nível hierárquico.

"O comportamento que eu tenho na empresa é diferente do que eu tenho no 'happy hour', e as pessoas também me tratam de um jeito diferente, porque elas sabem que existe um limite", conta Victor Nogueira Tavares, 25, que assumiu no ano passado o cargo de gerente de projetos da agência de mídia Enox, tendo de trabalhar com diferentes departamentos.

Pode ser mais difícil lidar com os jovens do que com os mais velhos. "O profissional mais sênior entende a cobrança e não leva para o lado pessoal. Alguém mais jovem pode reagir de modo diferente por não entender a complexidade da situação", diz.

Torres, especialista do Lab SSJ, destaca que a armadilha mais comum para os novos gestores é continuar executando tarefas que estavam sob sua responsabilidade no posto anterior, por terem dificuldades para treinar os subordinados e para delegar tarefas. "O profissional ocupa o cargo, mas continua executando um papel que deve ser feito por quem está abaixo na hierarquia da corporação."

Guilherme Bolina, 29, gerente de execução do banco Brasil Plural, lembra que essa foi sua principal dificuldade. "Você quer que as coisas saiam como se você estivesse fazendo aquilo", conta. "Eu fiquei um ano trabalhando aos sábados e domingos porque estava sobrecarregado. Precisava treinar as pessoas."

Outras dificuldades que os gerentes jovens podem enfrentar são inerentes à própria idade. Caine cita a falta de experiência com a gestão de pessoas e a pouca vivência situações frustrantes.

"Mas há jovens que não têm esses defeitos ou sabem minimizá-los reconhecendo que na sua equipe há pessoas com muito mais conhecimento em determinadas áreas", afirma.


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