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Inspire

Profissionais adotam técnicas de meditação para melhorar a produtividade no trabalho

FELIPE MAIA DO EDITOR-ADJUNTO DE "CARREIRAS E NEGÓCIOS"

Por causa de uma rotina de viagens constantes, Anderlei Cortez, 37, gerente em uma empresa do ramo automotivo, vivia estressado, "à base de Red Bull e café" para se manter alerta e sentiu sua produtividade no trabalho cair. Até que passou a meditar e a separar momentos curtos durante o dia para se concentrar em aspectos de seu corpo, como a respiração.

A técnica usada por Cortez, chamada de atenção plena (ou "mindfulness", em inglês) está ganhando força entre executivos que desejam melhorar a concentração e reduzir o estresse e ansiedade do dia a dia de trabalho.

A técnica engloba a meditação tradicional, durante cerca de 30 minutos em alguns dias da semana, e práticas como se concentrar, durante alguns minutos, em determinados sinais corporais, como a respiração, ou ambientais (um som ou um objeto, por exemplo).

"Essas práticas meditativas, principalmente as de focalização da atenção, em geral levam a um estado de tranquilização e relaxamento", afirma José Roberto Leite, coordenador da unidade de medicina comportamental da Unifesp. "Isso é positivo no mercado de trabalho, porque, quando o indivíduo está em estado de ansiedade ou estresse, fica com muitas funções prejudicadas, entre elas a atenção."

Apesar de entusiasta da meditação, considerada por ele "estratégica", Leite diz que é indicado procurar instrutores que não sejam ligados a religiões.

"A prática meditativa deve ser isenta. Não deve ser do Ocidente ou do Oriente, mas, sim, adaptada à cultura do país e com respaldo acadêmico", diz.

MINUTOS DE ATENÇÃO

O irlandês Stephen Little, que atua como instrutor de atenção plena para empresas e profissionais no Brasil, diz que a pessoa pode "separar alguns minutos do dia para sentir o que está acontecendo".

Ele indica, por exemplo, usar o momento da espera para que o computador do escritório ligue para concentrar a atenção em algo do ambiente, em um som ou no próprio corpo.

Ele também afirma que, após uma reunião em que houve uma discussão, por exemplo, o profissional deve parar e tentar se concentrar nos sinais físicos que aquela tensão está causando. Isso, segundo ele, ajuda a reduzir o estresse.

"Não adianta você tentar regular a raiva ou a impaciência se você não tiver consciência do próprio corpo, porque as emoções surgem dele", diz Little.

O executivo János Szegö, 63, diretor da empresa Mecalor, de engenharia térmica, passou por treinamentos inusitados para atingir a atenção plena.

Ele conta que, durante uma das sessões, ficou 30 minutos comendo uma uva passa, analisando peso, cor, textura e luminosidade da fruta, e conversando sobre isso.

"A ideia é você se conscientizar do aqui e do agora", afirma. Hoje, ele costuma meditar por cerca de 30 minutos por dia.

Szegö diz que foi procurar o método para reduzir a ansiedade com o trabalho. Um ano e meio após o início da prática, diz que se sente mais sereno, o que interfere no modo como lida com seus funcionários.

"Consigo transmitir as diretrizes, aquilo que eu quero que seja feito, de modo mais claro. Quando você está estressado, isso é mais difícil", opina.

Esse tipo de programa para profissionais dura cerca de oito semanas e é necessário algum tempo até que ele dê resultado.

De acordo com a psicóloga Carolina Baptista Menezes, autora de uma tese de doutorado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) sobre o assunto, não há consenso científico sobre se é preciso manter práticas regulares de meditação para que o efeito seja contínuo.

"Alguns estudos mostram que o efeito da meditação permanece, mesmo quando não há uma prática regular. Tudo vai depender do quanto a pessoa desenvolveu a capacidade de se autorregular."

O britânico Michael Chaskalson, autor do livro "The Mindful Workplace" (o local de trabalho atento, em tradução livre), diz que também é possível melhorar a capacidade de comunicação com esse tipo de técnica.

Um dos exercícios propostos é pedir que alguém fale e que os outros ouçam atentamente por alguns minutos. "Depois você questiona o que elas ouviram, o que aquela pessoa queria comunicar."

Parece óbvio, mas essa simples ação pode ser complicada para certos profissionais. "Muitas vezes, você até está ouvindo o outro, mas sem prestar atenção, já pensando no que vai responder", afirma Cortez. Ele diz ter melhorado essa capacidade com a prática.


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