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De volta ao Planeta Vermelho

Nasa envia nesta sexta-feira um superjipe para procurar indícios de vida em Marte; chegada ao planeta vermelho é esperada para 2012

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No dia 25, a Nasa tenta iniciar uma nova investida até o planeta vermelho. O objetivo: achar os ingredientes da vida em Marte.

O encarregado de realizar a tarefa é o jipe Curiosity, um grandalhão que tem quase o tamanho de um automóvel (três metros de comprimento e quatro toneladas).

O projeto custou US$ 2,5 bilhões, e a missão deve durar pelo menos um ano marciano (687 dias).

Movido por energia nuclear, o jipe terá mais eletricidade que qualquer outro dispositivo em Marte, sem depender de painéis solares. Poderá trabalhar dia e noite.

VIVENDO E APRENDENDO

Em 1976, duas espaçonaves, Viking-1 e 2, levaram ao solo marciano experimentos dedicados à detecção de vida. A ideia era misturar nutrientes ao de solo. Se desse reação positiva, pronto: bactérias extraterrestres.

Quando o experimento foi conduzido na prática, ocorreu o inesperado.

A superfície marciana parecia estar cheia de uma substância capaz de degradar a solução nutritiva enviada nas naves. Resultado: muitos bilhões de dólares para um teste inconclusivo.

Desde então, a Nasa tem sido cautelosa. A estratégia foi quebrada em três etapas, e o novo jipe que está prestes a decolar representa uma transição para a segunda.

Primeiro, os cientistas decidiram se pautar pelo mote: "siga a água". Foi com base nele que as sondas Mars Global Surveyor e Mars Reconnaissance Orbiter buscaram sinais de fluxos de água (passados, recentes e presentes).

A sonda Mars Odyssey mapeou a presença de gelo no subsolo, e a sonda Phoenix confirmou o achado.

Finalmente, os jipes Spirit e Opportunity buscaram sinais minerais de interação da água com as rochas, indicando que no passado Marte já foi mais quente e teve atmosfera mais densa.

Além da água, há outras duas coisas de que a vida precisa para prosperar. Uma delas é energia, que o Sol pode fornecer em Marte, a despeito da maior distância que o planeta guarda da estrela, em comparação com a Terra.

A outra é a presença de compostos orgânicos, os tijolos da vida. Por isso, o foco agora não é mais a água (que já existiu na cratera Gale, onde o novo jipe deve pousar), e sim o carbono.

"Entre 2010 e 2020 mudamos o foco, queremos procurar os chamados ambientes habitáveis", disse à Folha o engenheiro brasileiro Ramon de Paula, executivo de programa no quartel-general da Nasa envolvido com missões marcianas.

"Entre 2020 e 2030, a última etapa: o retorno de amostras de Marte, em busca de sinais de vida", afirma.

O Curiosity está equipado com dez instrumentos científicos. Ele vai perfurar o solo para análise, buscar compostos orgânicos e medir o nível de radiação solar e cósmica.

Para descer o "jipão" até o solo, a Nasa usará uma técnica inédita: um sistema de propulsores que executará a parte final do pouso e descerá o jipe por um cabo, para depois soltá-lo e voltar a voar, caindo mais adiante. Nada de airbags, como os jipes anteriores enviados a Marte.

"Isso foi testado na Terra, mas podemos ter imprevistos lá", diz Ramon de Paula.

O teste final será na madrugada do dia 6 de agosto de 2012, quando o Curiosity deve tocar o solo marciano.

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