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Falta aplicação para 'medicina por DNA'

Ricardo Brentani, morto nesta semana, ajudou no avanço da pesquisa nacional, mas resultado prático é pequeno

Colegas do cientista avaliam que é preciso retomar projetos de vulto e tornar ciência do país mais competitiva

Alessandro Shinoda - 5.ago.2011/Folhapress
O oncologista Ricardo Brentani ao receber o prêmio Octavio Frias de oliveira em agosto
O oncologista Ricardo Brentani ao receber o prêmio Octavio Frias de oliveira em agosto

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE “CIÊNCIA E SAÚDE”

A morte do oncologista Ricardo Brentani (1937-2011), nesta semana, deixa a ciência brasileira órfã de um dos responsáveis por fazê-la ingressar na era do genoma. Para pesquisadores que conviveram com ele, o desafio agora é fazer com que o salto em pesquisas se reflita em aplicações no consultório.

É o que pensa o bioquímico Luiz Fernando Lima Reis, que trabalhou com Brentani durante 11 anos e hoje é diretor de pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

"Existe, de fato, uma dificuldade de transformar toda a informação obtida por esforços como o Projeto Genoma do Câncer em resultados práticos", afirma Reis.

Ao longo dos anos 1990 e 2000, Brentani ajudou a arquitetar a estrutura de sequenciamento ("leitura") de DNA da ciência paulista. Foi um dos responsáveis por apostar no sequenciamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosa, que ataca plantações de laranja no país.

Mesmo trabalhando no Hospital A.C. Camargo, Brentani percebeu a importância do projeto da Xylella como meio de consolidar a pesquisa genômica no país.

"Ele conseguiu até que o hospital contratasse agrônomos para a tarefa", conta outro colega da época, Emmanuel Dias-Neto, que hoje está no Hospital A.C. Camargo.

O genoma da Xylella acabou virando capa da revista científica "Nature", uma das mais importantes do mundo, e os mesmos aparelhos e laboratórios ajudaram, mais tarde, a construir uma grande biblioteca dos genes ativos em tumores no Brasil.

Dias-Neto recorda que seu primeiro contato com Brentani teve algo de cômico. "Eu fiz uma apresentação sobre um método de sequenciamento e achei que ele tinha dormido durante a palestra inteira. No fim, ele disse: 'Emmanuel, empresta esse disquete que nós vamos patentear esse método'. E foi o que aconteceu", afirma.

Para Lima Reis, a única maneira de criar novos medicamentos e terapias com base nos dados do genoma é montar novos projetos colaborativos de grande porte, como os capitaneados por Brentani. "Esse é o único jeito de validar um remédio novo", afirma o bioquímico.

Já Dias-Neto considera que ainda falta massa crítica para a ciência brasileira.

"A gente fica feliz quando 60% dos nossos projetos são aprovados para receber financiamento, mas isso também quer dizer que há pouca competição na ciência brasileira, o que é ruim", diz.

Outra grande entrave à competitividade da pesquisa no país é a enorme dificuldade para importar reagentes de laboratório, lembra ele.

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