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Impasse marca final de encontro do clima

Pequenos países insulares rejeitaram rascunho de acordo, considerando que ele colocava sua existência em risco

Até o fechamento desta edição, negociadores na África do Sul ainda tentavam chegar a uma fórmula de consenso

Stephane de Sakutin/France Presse
"Não mate a África", diz cartaz de uma manifestante na COP-17, em Durban, África do Sul; protesto tentou marchar até a plenária da conferência
"Não mate a África", diz cartaz de uma manifestante na COP-17, em Durban, África do Sul; protesto tentou marchar até a plenária da conferência

CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A DURBAN

A COP-17, a conferência do clima de Durban, chegou à sua noite final ontem com a perspectiva de um avanço político sem precedentes, mas sob o signo do impasse.

As duas propostas de decisão do encontro, uma extensão aguada do Protocolo de Kyoto e a promessa de um "marco legal" para atacar a mudança climática após 2020, o qual incluiria todos os países, foram rejeitadas pelas nações insulares à noite pela sua falta de ambição.

A chanceler sul-africana Maite Mashabane, presidente da COP, suspendeu a sessão para fazer mudanças nos textos e deveria reapresentá-los ainda ontem à noite. Até o fechamento desta edição, isso não havia ocorrido.

A suspensão ocorreu durante o chamado Indaba, uma reunião de 70 países convocada pela África do Sul para examinar os textos (o nome vem de uma assembleia tradicional dos zulus).

Segundo participantes do encontro, a representante de Granada condenou a fraqueza do acordo e disse que ele ameaçava o futuro de seu país. O deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), que também estava no Indaba, disse que até mesmo a Arábia Saudita, tradicional opositora de qualquer ação contra o aquecimento, criticou os textos.

SEM LIMITE

Mais cedo, ONGs também haviam atacado a desconexão entre as propostas na mesa e o mundo real, dizendo que o acordo proposto em Durban levaria o planeta a um aquecimento de 4°C neste século e a mais secas, enchentes e fome.

A ciência considera que o limite seguro de aquecimento é 2°C em relação à era pré-industrial, meta que todos os países concordaram em atingir durante a conferência de Copenhague, em 2009.

O texto do Protocolo de Kyoto propunha a extensão do acordo do clima por um segundo período, de 2012 a 2020. Mas não trazia nenhuma meta numérica.

Já o texto do chamado LCA, o grupo que negocia o futuro regime de proteção ao clima, definia apenas que um processo seria lançado para chegar a um "marco legal" sobre o clima para 2020, que envolvesse todos os países, mas cujo formato só começaria a ser definido no ano que vem.

"Os textos são pouco ambiciosos, mas é o melhor resultado a que se pode chegar aqui", disse o negociador mexicano Fernando Tudela.

A proposta para Kyoto é que sejam incluídos no texto os compromissos quantitativos de redução de emissões para os países industrializados (o chamado Anexo-1), e um processo de revisão para que essas metas possam ser aumentadas em 2015-2016.

Para o futuro acordo, é preciso amarrar melhor a definição de "marco legal".

A expressão foi uma maneira de conseguir o provável maior avanço político de Durban: fazer os EUA e a China, os maiores emissores do planeta, concordarem com o acordo futuro.

Os EUA não têm margem para negociar e não podiam aceitar um compromisso com força de lei, pois ele seria barrado pelo Senado americano.

Sem o maior poluidor histórico na mesa, o maior poluidor atual, a China, tampouco se moveria.

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