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O Norte pelo Sul

Há 100 anos, Roald Amundsen vencia a corrida com Robert Scott e se tornava o primeiro homem no polo Sul; ele só chegou lá após ver frustrado o seu sonho de conquistar o polo Norte e alterar sua meta no meio do caminho, mudando a rota de seu navio

14.dez.1911/France Presse
Com a missão cumprida, noruegueses posam ao lado da bandeira de seu país no polo Sul
Com a missão cumprida, noruegueses posam ao lado da bandeira de seu país no polo Sul

IVAN FINOTTI
JOÃO WAINER
ENVIADOS ESPECIAIS AO POLO SUL

Há cem anos, o explorador norueguês Roald Amundsen conquistou o polo Sul. Foi o primeiro homem a colocar os pés no centro da Antártida, em 14 de dezembro de 1911.

A data provocou uma corrida turística ao continente gelado. Espera-se um recorde de 500 visitantes hoje em um dos lugares mais inacessíveis do mundo, a estação polar americana Amundsen-Scott. O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, esquiará alguns metros para chegar ao local.

A Folha está lá também, ou melhor, aqui. Estes jornalistas atingiram o polo Sul às 17h de ontem (horário de Brasília), após esquiar os últimos 20 km. O termômetro marcava 33° C negativos.

RUMO AO POLO

Nos últimos dias, a locomoção foi feita sobre esquis em cima de uma crosta de gelo de 2 km de profundidade. O acampamento foi armado sobre a neve.

Por estarmos a quase 3.000 quilômetros de altitude, respirar aqui é mais difícil. Há menos oxigênio, e o esforço de andar dois passos se multiplica.

Cada um de nós empurra um trenó de 15 a 25 quilos com o material necessário para sobreviver à temperatura. Sacos de dormir, barracas, comida, aquecedores químicos de mão, chocolate. A comida, desidratada, é feita com acréscimo de gelo derretido.

Nosso grupo anda encapotado como cebolas, embaixo de cinco camadas de roupas, cada qual com sua função. O segredo, ensinam os guias, é equilibrar o frio com o calor.

Se você suar, começa a perder energia e a ganhar problemas. Nada pode ficar exposto ao vento, sob risco de congelamento e amputação, incluindo orelhas e nariz.

Mas o pior vem agora: passar o dia inteiro ao ar livre a -30º C. Isso dói mesmo. Doem os dedos do pé, da mão, o nariz, a cabeça.

E não há noite no verão antártico. O sol pode ser visto a uma altura de, talvez, 30 graus (geométricos) em relação ao horizonte. E, em vez de subir a pino, ele passa o dia rodopiando, sobre nossas cabeças.

Quando não há nuvens escondendo o sol, ele aquece bem as barracas do acampamento, tornando o clima interior quase suportável.

TURISTAS

Ontem, um dos integrantes da expedição sentiu náuseas e passou a dar respostas incompreensíveis a perguntas simples. Depois, seguiu para uma direção diferente da fila normal, até que outro foi resgatá-lo.

Mesmo com tantos obstáculos, a expedição da qual a reportagem da Folha faz parte, organizada pela agência de turismo radical americana Polar Explorers, não tem atletas.

São dez turistas, todos senhores de 50 ou 60 anos. São industriais, financistas, negociantes de petróleo, patrões, magnatas, milionários em geral.

E dois jornalistas.

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