Índice geral Ciência
Ciência
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Carbono mais 'caro' pode salvar espécies

Estudo liderado por brasileiro analisou impacto do mercado de crédito de carbono, que paga pela preservação

Sem pagamentos, 36 mil espécies seriam extintas até 2100; carbono a US$ 25 evitaria 94% das perdas

Divulgação Nasa/JPL-Caltech
Polo sul da Lua em imagem da sonda Ebb, que fez vídeo do lado distante do satélite
Polo sul da Lua em imagem da sonda Ebb, que fez vídeo do lado distante do satélite

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Quanto maior o valor de mercado da tonelada de carbono não emitido à atmosfera, mais espécies de plantas e de animais que vivem nas florestas são preservadas.

É o que indica um estudo de pesquisadores europeus coordenados por um economista brasileiro.

O grupo parte do princípio que as políticas de crédito de carbono ajudam a manter as florestas em pé.

Isso porque o sistema permite que quem tenha preservado suas florestas venda créditos a quem tenha poluído além do que determinam as convenções internacionais.

A política começou a ser discutida na primeira reunião do painel do clima da ONU, em 1988. A ideia é que esse tipo de negociação aconteça principalmente entre países ricos (que poluem muito) e os mais pobres (que emitem menos carbono e venderiam seus créditos).

A conclusão dos pesquisadores é que quanto mais alto o valor do crédito de carbono no mercado, mais sobrevida ganham as florestas e os animais que vivem nela.

Sem as políticas de crédito de carbono, calculam os cientistas, 36 mil espécies de animais e de plantas florestais seriam extintas até 2100.

Com a tonelada de carbono a US$ 7, valor perto do que é negociado hoje, cerca de 50% dessas espécies seriam preservadas até 2100.

Se o preço subisse para US$ 25 a tonelada, a preservação aumentaria para 94% das espécies florestais.

Para o economista Bernardo Strassburg, do ISS (Instituto Internacional para Sustentabilidade), que coordenou o trabalho, negociar a tonelada do carbono a US$ 25 é bastante factível.

"Em 2007, quando o mercado de crédito de carbono estava aquecido, chegamos a negociar a tonelada a US$ 34." De acordo com Strassburg, o IPCC (painel do clima da ONU) considera que até US$ 100 por tonelada são aceitáveis.

Hoje, o mercado de crédito de carbono está desaquecido por falta de acordo nas convenções internacionais de clima. Além disso, algumas correntes defendem que os créditos favorecem mais o mercado do que o ambiente.

DEPENDE DA FLORESTA

Os impactos dos créditos de carbono na preservação das espécies, de acordo com a pesquisa, dependem da biodiversidade da floresta e variam em cada região.

"Na Mata Atlântica, por exemplo, a manutenção da floresta reduziria significativamente a perda de biodiversidade do Brasil", disse o coordenador do trabalho.

Para o economista, é importante saber quais áreas valem mais a pena serem preservadas para direcionar políticas. Ele lembra que manter as florestas não significa ter menos áreas agrícolas.

"Podemos expandir a produção agrícola por meio de novas tecnologias, sem mexer nas florestas".

O estudo foi publicado ontem na revista "Nature Climate Change". Agora, os cientistas planejam ampliar a análise do impacto das políticas de carbono na preservação em áreas não florestais, como as savanas.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.